quinta-feira

VOLVER


VOLVER (Volver, 2006, El Deseo S.A, 121min) Direção e roteiro: Pedro Almodovar. Fotografia: José Luis Alcaine. Montagem: José Salcedo. Música: Alfredo Iglesias. Figurino: Bina Daigeler. Direção de arte/cenários: Salvador Parra/Mara Matey. Produção executiva: Agustin Almodovar. Elenco: Penelope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo, Chus Lampreave, Antonio de la Torre. Estreia: 10/3/06

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Penélope Cruz)
Vencedor do Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes (Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo, Chus Lampreave)

Depois que seu "Má educação" dividiu a crítica - que talvez esperasse mais uma obra-prima do nível de "Tudo sobre minha mãe" e "Fale com ela" - e a morte de sua mãe, o espanhol Pedro Almodovar voltou aos olhos ao passado para produzir seu filme seguinte. Repleto de lembranças afetivas e mais uma vez focando seu interesse em fortes personagens femininas, "Volver" devolveu aos fãs o Almodovar sensível de suas obras mais celebradas, mesmo que ele não tenha, felizmente, perdido no meio do caminho o senso de humor delicioso que sempre caracterizou a maior parte de sua filmografia. Essa mescla de drama, comédia sutil e nostalgia funciona às mil maravilhas: "Volver" é mais um grande filme do mais popular cineasta espanhol em atividade.

A protagonista do filme é a bela Raimunda (Penélope Cruz, linda e ótima atriz), mulher batalhadora e determinada que vive com a filha Paula (Yohana Cobo) e o marido em Madrid. Convivendo com as lembranças de sua mãe, Irene (Carmen Maura), morta há anos em um incêndio e com quem mantinha uma relação complicada, ela acaba se vendo envolvida em um trágico assassinato cometido por sua filha e, enquanto dá um jeito de esconder o corpo, nem desconfia que sua mãe na verdade está viva e, depois de muito tempo escondendo-se na casa de sua irmã, passou a morar clandestinamente com a outra filha, Sole (Lola Dueñas, engraçadíssima). A situação surreal da família só não é mais complicada do que a vida de Agustina (Blanca Portillo), amiga delas que sofre de câncer e procura sua mãe, desaparecida misteriosamente desde a época da suposta morte de Irene.



Equilibrando com a maestria habitual cenas de grande emoção (mas nunca sentimentaloides) com um humor debochado e sutil, Pedro Almodovar oferece, em "Volver", um espetáculo completo de cores (em especial seu querido vermelho), música (a canção-tema, dublada por Estrella Morente) e interpretações. Não foi à toa que o elenco feminino inteiro saiu vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes: se apenas Penélope Cruz foi indicada merecidamente ao Oscar, suas companheiras de cena nunca estão aquém de sensacionais, desde Lola Dueñas exibindo um timing cômico perfeito até as veteranas almodovarianas Carmen Maura e Chus Lampreave, passando pela impecável Blanca Portillo como a sofrida e valente Agustina. São elas o sustentáculo de um filme que, como normalmente ocorre na obra do cineasta, prescinde de um entendimento incondicional a seu universo particular. É somente em filmes de Almodovar que a comédia e o drama podem conviver pacificamente sem prejuízo de nenhuma das partes - e, vale dizer, até mesmo sua definição desses gêneros é virada de cabeça pra baixo por um roteiro genial.

Imprevisível desde suas primeiras cenas até seu belo final, "Volver" conduz o espectador em uma viagem emocional fotografada com precisão por José Luis Alcaine, que dá o clima exato da trama. Jamais deixando de lado algumas de suas marcas registradas - o exagero pictório, as personagens femininas complexas, o humor à beira do over, a crítica à televisão espanhola - Almodovar tempera tudo com a sensibilidade cada vez maior de seu trabalho. De aplaudir de pé, mais uma vez!

2 comentários:

renatocinema disse...

Gosto muito de Volver.

Concordo com sua visão: "Essa mescla de drama, comédia sutil e nostalgia funciona às mil maravilhas".

Perfeito

Anônimo disse...

Muito lindo, amei!

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