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MEU TIO MATOU UM CARA

MEU TIO MATOU UM CARA (Meu tio matou um cara, 2004, Casa de Cinema de Porto Alegre/Natasha Filmes, 87min) Direção: Jorge Furtado. Roteiro: Jorge Furtado, Guel Arraes, conto de Jorge Furtado. Fotografia: Alex Sernambi. Montagem: Giba Assis Brasil. Música: André Moraes, Caetano Veloso. Figurino: Rosângela Cortinhas. Direção de arte/cenários: Fiapo Barth. Produção executiva: Nora Goulart, Luciana Tomasi. Produção: Guel Arraes, Paula Lavigne. Elenco: Darlan Cunha, Sophia Reis, Lázaro Ramos, Dira Paes, Aílton Graça, Renan Gioelli, Júlio Andrade, Janaina Kremer Motta. Estreia: 31/12/04

Talvez a mais marcante característica da constante e simpática filmografia do diretor Jorge Furtado seja a despretensão que a permeia. Em filmes como "Houve uma vez dois verões" e "O homem que copiava", seus dois primeiros longas, o cineasta gaúcho nunca deixou de lado seu apego ao humor inteligente, um bairrismo encantador e orgulhoso e um naturalismo raro no cinema nacional, além do objetivo claro de contar histórias simples e banhadas em uma ingenuidade cativante. Em seu terceiro trabalho no formato, "Meu tio matou um cara", Furtado segue sem ambições a receita vitoriosa, ao adaptar um conto de sua própria autoria em uma trama policial sob o ponto de vista de um adolescente apaixonado pela melhor amiga. Leve e enxuto (tem pouco menos de uma hora e meia de duração, contando os créditos), seu filme serve como um alívio certeiro para a violência e a densidade temática que assolou o cinema brasileiro a partir de "Cidade de Deus".

A trama começa quando Éder (Làzaro Ramos, em sua segunda parceria com Furtado) chega à casa de seu irmão, Laerte (Aílton Graça), apavorado com o fato de ter assassinado, em legítima defesa, o ex-marido de sua namorada. Azarado por natureza - todas as suas inclinações empresariais foram por água abaixo sem deixar maiores vestígios - Éder acaba se tornando o assunto principal das conversas de seu sobrinho adolescente, Duca (Darlan Cunha), com a colega de classe/melhor amiga/paixão recolhida Isa (Sophia Reis, filha do cantor Nando Reis). Empolgada com a situação - que lhe permite sair da rotina do dia-a-dia - Isa se torna a parceira de Duca em suas visitas ao tio na cadeia e acaba, sem querer, envolvendo na situação outro amigo em comum, Kid (Renan Gioelli), também apaixonado por ela. Porém, quando conhece a namorada de Éder, a estonteante Soraia (Deborah Secco), o esperto Duca passa a desconfiar que seu tio está apenas servindo de bode expiatório para uma história bem mais complexa do que aparenta.


Co-produzido pela Natasha Filmes - companhia de Paula Lavigne de grande penetração nacional - e co-escrito por Guel Arraes, "Meu tio matou um cara" é, apesar de sua despretensão e simplicidade narrativa (com menos artifícios de linguagem que o habitual na obra do diretor), um passo adiante na carreira de Furtado. Não tanto por sua qualidade - "O homem que copiava" consegue ser melhor em todos os quesitos - mas pelo alcance da produção, que conseguiu inclusive uma trilha sonora original composta por ninguém menos que Caetano Veloso. No mais, a edição se mantém ágil e cadenciada, o visual é caprichado (mas sem os exageros que normalmente transformam os cenários em composições mais vistosas que a trama e os atores) e a direção de atores, como sempre, é a cereja do bolo. Se Lázaro Ramos tem relativamente pouco a fazer como Éder e Deborah Secco faz uso de seu status de símbolo sexual aparecendo seminua em praticamente todas as suas cenas, o elenco jovem acaba por chamar a atenção. Darlan Cunha transmite com perfeição o ar sonhador e esperto de Duca, facilitando ao espectador uma cumplicidade imprescindível, e Sophia Reis, linda, justifica a paixão de seu melhor amigo, além de não se deixar intimidar pelos colegas mais experientes. O vértice final do triângulo, Renan Gioelli, também não compromete.

Assim como os demais filmes de Jorge Furtado, "Meu tio matou um cara" é uma produção esperta, ligeira e bem-humorada, capaz de envolver o público sem maior esforço. Mesmo que o roteiro não se aprofunde em muitas das questões levantadas - e ter um final um tanto abrupto - é simpático o suficiente para que seus pecadilhos sejam facilmente perdoáveis. Um belo passatempo.

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