TERRA FRIA (North country, 2005, Warner Bros, 126min) Direção:
Niki Caro. Roteiro: Michael Seitzman, livro "Class Action: The story of
Lois Jensen and the landmark case that changed sexual harassment law",
de Clara Bingham, Laura Leedy. Fotografia: Chris Menges. Montagem: David
Coulson. Música: Gustavo Santaolalla. Figurino: Cindy Evans. Direção de
arte/cenários: Richard Hoover/Peter Tosti Stephenson. Produção
executiva: Helen Bartlett, Doug Claybourne, Nana Greenwald, Jeff Skoll.
Produção: Nick Weschler. Elenco: Charlize Theron, Sean Bean, Frances
McDormand, Jeremy Renner, Richard Jenkins, Sissy Spacek, Woody
Harrelson, Michelle Monaghan. Estreia: 12/9/05 (Festival de Veneza)
2 indicações ao Oscar: Atriz (Charlize Theron), Atriz Coadjuvante (Frances McDormand)
Mesmo sem que seu nome não diga nada à vasta maioria da população mundial, Lois Jenson poder ser considerada, sem favor, uma das figuras mais importantes na luta pelos direitos femininos da história dos EUA: na tradição de Crystal Lee Sutton (retratada no filme "Norma Rae", de 1979) e Karen Silkwood (protagonista de "Silkwood, o retrato da coragem", de 1983), ela foi a responsável por um processo - ou vários deles, na verdade - que abriram o precedente para que fossem criadas as leis responsáveis por criminalizar o assédio sexual no ambiente de trabalho. Por incrível que possa parecer, no entanto, tais leis, sem as quais as relações profissionais entre homens e mulheres sempre sofreriam de uma tensão muitas vezes palpável, só chegaram aos tribunais americanos em 1989. Por causa de Jenson, uma mulher simples que só queria o direito de trabalhar em paz em um ambiente cercado de machismo - e do qual fazia parte seu próprio pai. Rebatizada como Josey Aimes e com o belo rosto de Charlize Theron, Jenson juntou-se Silkwood e Sutton no imaginário dos fãs de cinema quando foi a protagonista de "Terra fria", filme dirigido por Niki Caro - de "A encantadora de baleias" - que chegou à festa do Oscar 2006 indicado em duas categorias: melhor atriz (Theron, sempre excelente) e atriz coadjuvante (Frances McDormand).
Concentrando vários processos movidos pela real Lois Jenson em apenas um - para fins dramáticos e sem prejuízo para a verossimilhança do roteiro - "Terra fria" segue à risca a tradição dos filmes sobre mulheres valentes lutando contra o sistema, mas, graças à direção firme de Caro e à intensidade de Charlize Theron, tal característica não chega a impedir que o resultado final perca sua força e capacidade de indignar ao espectador. Evitando o sentimentalismo e enfatizando a solidão de sua protagonista em seu árduo caminho em direção à justiça, o filme peca apenas por ser excessivamente burocrático: não há ousadias na narrativa de Caro, e essa simplicidade quase documental acaba por impedí-la de atingir todas as suas possibilidades emocionais. Mesmo assim, a forma com que a fotografia acinzentada do veterano Chris Menges combina com o tom monocromático da vida dos personagens e a força das interpretações de Theron, McDormand e do sensacional Richard Jenkins - além da participação especial de Sissy Spacek, de presença sempre marcante - elevam "Terra fria" a um programa bastante acima da média.
Fugindo de um casamento abusivo e tentando recomeçar a vida ao lado dos dois filhos, a bela Josey Aimes (Charlize Theron) retorna à sua cidade natal, no interior de Minnesota, volta a morar com os pais e arruma emprego em um salão de beleza, que não lhe paga um salário suficiente para manter um nível de vida razoável. Incentivada por uma amiga que trabalha na mina de carvão local, a determinada Glory (Frances McDormand) ela resolve desafiar as convenções e tornar-se colega do pai, de um antigo namorado e de outras mulheres também necessitadas de um contracheque menos magro - caso da jovem Sherry (Michelle Monaghan), que precisa sustentar a mãe doente. Bonita e interessante, logo Josey chama a atenção dos colegas homens, que passam a assediá-la sexualmente, tanto com brincadeiras grosseiras quanto com ameaças reais de estupro. Sabendo que tal comportamento não se restringe apenas a ela, mas também a todas as suas colegas do sexo feminino, Josey resolve pedir ajuda à diretoria da mina, mas, sendo humilhada até mesmo por seus patrões - que questionam inclusive o fato de ela não saber quem é o pai de seu filho mais velho - não cabe a ela outra opção a não ser contratar os serviços de um advogado amigo, Bill White (Woody Harrelson), para levar a empresa aos tribunais. Falta apenas, no entanto, convencer suas colegas a testemunhar a seu favor.
Centrando suas forças no talento inegável de Charlize Theron - que mesmo desglamourizada continua linda e carismática - "Terra fria" conquista o público principalmente por fazer de sua protagonista uma heroína clássica, propensa a todos os sofrimentos reservados às grandes mártires do cinema. Sozinha contra o mundo, Josey vê sua vida tornar-se um inferno apenas por desejar justiça, o que acaba por desencadear uma volta ao passado que machuca todos à sua volta. Chegando bem perto do clichê em diversos momentos - em especial quando seu pai (vivido por Jenkins em atuação digna de um Oscar mas injustamente esquecido pela Academia) finalmente toma seu partido diante de todos os mineiros que a estão hostilizando abertamente - o filme de Caro se redime magnificamente sempre que Charlize toma as rédeas, em um trabalho comovente mas nunca piegas. A força de seu desempenho sustenta o filme como um todo - e é força suficiente para torná-lo imperdível.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
TERRA FRIA
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