O DIA DEPOIS DE AMANHÃ (The day after tomorrow, 2004, 20th Century Fox, 124min) Direção: Roland Emmerich. Roteiro: Roland Emmerich, Jeffrey Nachmanoff, estória de Roland Emmerich. Fotografia: Ueli Steiger. Montagem: David Brenner. Música: Harald Kloser. Figurino: Renée April. Direção de arte/cenários: Barry Chusid/Paul Hotte, Victor J. Zolfo. Produção executiva: Ute Emmerich, Stephanie Germain, Kelly Van Horn. Produção: Roland Emmerich, Mark Gordon. Elenco: Dennis Quaid, Jake Gyllenhaal, Emmy Rossum, Dash Mihok, Jay O. Sanders, Sela Ward, Ian Holm. Estreia: 24/5/04
A premissa inicial não poderia ser mais nonsense, apesar de ter sua origem no propalado "efeito estufa" e tirar proveito da paranoia quase histérica em torno do aquecimento global que era o assunto do momento nos primeiros anos do século XXI: durante uma expedição à Antártida, um climatologista descobre que o mundo está à beira de um colapso meteorológico que deverá, em poucos dias, fazer com que a Terra viva uma nova Era Glacial, matando milhares e milhares de pessoas pelo mundo - o que faz com hordas de americanos tentem romper a fronteira com o México, que, devido à sua posição geográfica, tem menos chances de virar gelo. Com base nesse fiapo de trama - rechaçado violentamente por cientistas graças à seus exageros melodramáticos - o diretor e roteirista Roland Emmerich, o mesmo que já havia quase exterminado os EUA em "Independence Day", de 1996, construiu seu novo filme-catástrofe de estimação, "O dia depois de amanhã" (título sugerido por uma citação de - vejam só! - Nietzsche). De posse de um generoso orçamento de 125 milhões de dólares e efeitos visuais e cair o queixo, Emmerich mais uma vez mostrou que, diante de um espetáculo de destruição em grandes proporções, o público não exige muita inteligência: sucesso de bilheteria, o filme diverte e entretém, mas para isso é preciso desligar o cérebro e o senso crítico.
Como em todo e qualquer produto com a assinatura de Emmerich - com a possível exceção de "O patriota" (00), que tinha ambições cinematográficas maiores do que simplesmente distrair a plateia - "O dia depois de amanhã" é um festival de clichês costurado a imagens impressionantes e momentos dramáticos quase constrangedores. Sempre que o roteiro tenta deixar de lado o que tem de melhor (sequências ainda mais assustadoras do que as de "Independence day") para concentrar-se em seus personagens (rasos e previsíveis), a impressão que se tem é que isso acontece para que o público consiga dar uma pausa na adrenalina para recarregar o refrigerante e a pipoca. É claro que mesmo os mais clássicos filmes do gênero - vide "Inferno na torre" e "O destino do Poseidon" - existe uma trama, mesmo que tênue, mas Emmerich aposta mais uma vez no heroísmo individual como força-motriz de sua história, concentrando seu foco narrativo em uma história de relação entre pai e filho que não chega a entusiasmar.
O pai é o climatologista Jack Hall (Dennis Quaid, sempre esforçado), que não mantém a melhor das relações com o único filho, Sam (Jake Gyllenhaal), jovem estudante que vive com a mãe, a dedicada médica Lucy (Sela Ward). Quando descobre que o rapaz está em Nova York com sua turma de escola - e sem qualquer tipo de comunicação com o mundo - ele resolve partir em sua busca, principalmente porque a cidade está no centro da região mais propensa às tragédias meteorológicas previstas em seus estudos. Enquanto ele se esforça em manter-se vivo sob temperaturas negativas e à disposição das intempéries da natureza, Sam e seus amigos precisam também manter-se aquecidos na Biblioteca Municipal e buscar remédios para Laura (Emmy Rossum) - a jovem tímida por quem Sam é apaixonado e que está correndo risco de morrer devido a um ferimento na perna. No meio disso tudo, Lucy está sozinha no hospital onde trabalha, à espera de socorro para um menino seriamente doente.
A despeito da fragilidade dramática de seus personagens e do tom fatalista imposto pelo roteiro - rejeitado como excessivo pelos cientistas que assistiram ao filme - toda e qualquer sequência de "O dia depois de amanhã" que se apoia nos impressionantes efeitos especiais é fascinante. Utilizando-se com maestria de todos os recursos de uma superprodução hollywoodiana, Emmerich criou um entretenimento de primeira para aquele público disposto a um bom par de horas de escapismo puro e simples. É divertido, é bobo e é a Hollywood comercial em seu estado mais puro. Dependendo do que se procura pode ser sensacional ou simplesmente esquecível. Mas em termos de cinema, é um passo enorme à frente do tenebroso "Independence day".
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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