terça-feira

ALMAS MORTAS

ALMAS MORTAS (Strait-jacket, 1964, Columbia Pictures, 93min) Direção: William Castle. Roteiro: Robert Bloch. Fotografia: Arthur Arling. Montagem: Edwin Bryant. Música: Van Alexander. Direção de arte/cenários: Boris Leven/Frank Tuttle. Produção: William Castle. Elenco: Joan Crawford, Diane Baker, Leif Erickson, John Anthony Hayes, Howard St. John, Rochelle Hudson, George Kennedy. Estreia: 19/01/64

Quase vinte anos depois de sua consagração com o Oscar de melhor atriz por "Alma em suplício" (45), Joan Crawford vivia, na década de 60, uma nova fase de sucesso em Hollywood. Impulsionados pelo êxito de "O que terá acontecido a Baby Jane?" (62), filmes de suspense baratos e a um passo do horror ganhavam as plateias mesmo que não fossem do agrado massivo da crítica. Assim como Bette Davis, sua coestrela no clássico de Robert Aldrich, a atriz que anos mais tarde se tornaria conhecida como uma mãe adotiva pouco amável, graças ao livro "Mamãezinha querida", escrito por sua filha adotiva Christina, foi descoberta por uma nova geração de espectadores - bem mais interessada na sanguinolência das tramas (precursoras dos slasher movies que se tornariam febre nos anos 80) do que no histórico dramático de suas atrizes. Com roteiro escrito por Robert Bloch, autor do romance que deu origem a "Psicose" (60), um dos maiores clássicos de Hitchcock, "Almas mortas" faz parte dessa etapa da carreira de Crawford - e faz uso de todos os elementos que se tornariam frequentes no gênero a partir de então: mortes violentas, suspense, música exagerada, reviravoltas e um teor psicológico superficial apenas como pano de fundo para uma trama cujo objetivo é apenas assustar o público (e, consequentemente, ganhar muito dinheiro).

Dirigido pelo especialista em filmes de terror baratos e eficientes William Castle - fã confesso de "Baby Jane" e conhecido pelos efeitos especiais que utilizava nas salas que exibiam seus filmes -, "Almas mortas" não seria estrelado por Joan Crawford, e sim por outra Joan, mais famosa por seus papéis em comédias românticas do que por seus dotes dramáticos: Joan Blondell. Quando Blondell saiu do projeto devido a um acidente, Castle, que conhecia Crawford pessoalmente depois de uma festa, lhe ofereceu o papel principal. A estrela, então parte da diretoria da Pepsi, depois da morte de seu marido Alfred Steele (presidente da companhia), não fez economia de exigências: não apenas escalou o vice-presidente da Pepsi, Mitchell Cox, em um papel importante, como pediu para que todo o roteiro fosse reescrito conforme sua vontade (além de manter a prerrogativa de aprovar ou não o elenco escolhido pelo diretor). O resultado é um filme que, apesar de manter as características de Castle, ganha um rasgo de sofisticação com a presença sempre magnética da atriz, uma das mais fortes da era de ouro de Hollywood.


Logo nas primeiras cenas percebe-se o tom de cinema comercial barato de Castle: em um momento de puro horror, Lucy Harbin (Joan Crawford, rejuvenescida pela maquiagem e pelo figurino) flagra o marido e a amante em sua própria cama e, desesperada, os mata a machadadas, sendo testemunhada pela filha pequena, Carol. Condenada à prisão em um manicômio judiciário, ela deixa a filha com um casal de tios, que a cria com todo o amor e a proteção necessários. Vinte anos mais tarde, Lucy é posta em liberdade e vai morar com a família. Agora uma mulher, Carol (Diane Baker) é uma escultora e namora com Michael (John Anthony Hayes), cujos pais são nomes conhecidos da sociedade local. Perturbada por seu passado, Lucy tem dificuldades em se relacionar normalmente com as pessoas a seu redor, especialmente quando Carol tenta inserí-la em sua nova vida. Depois da visita de um dos médicos de Lucy à fazenda onde todos moram, porém, acontecimentos estranhos começam, inclusive com violentos assassinatos com um machado e vozes surgidas do nada atormentando a viúva.

Seguindo à risca o guia de assustar a audiência enquanto conta uma história recheada de insights psicológicos pouco aprofundados - uma receita que deu muito certo em "Psicose" -, "Almas mortas" é um típico entretenimento para os fãs do gênero. Décadas antes que Jason e Freddie Krueger passassem a ameaçar suas vítimas adolescentes em produções bem mais sangrentas e menos inteligentes, William Castle constrói uma trama com tensão crescente que não teme em apelar para o trash (os efeitos especiais são risíveis, o que pode até contar como um charme a mais). Quanto à Crawford, ela se esforça em passar credibilidade a um enredo que lhe permite passar, em questão de minutos, do melodrama mais rasgado ao terror gore. É uma festa para os espectadores que cultuam "Baby Jane" e outros exemplares do gênero - e uma prova da perenidade da atriz, com a carreira renovada graças a ele.

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