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STAN & OLLIE

STAN & OLLIE (Stan & Ollie, 2018, BBC Films, 98min) Direção: Jon S. Baird. Roteiro: Jeff Pope, livro "Laurel and Hardy: the British tours", de 'A.J.' Mariot. Fotografia: Laurie Rose. Montagem: Úna Ní Dhonghaile, Billy Sneddon. Música: Rolfe Kent. Figurino: Guy Speranza. Direção de arte/cenários: John Paul Kelly/Claudia Parker. Produção executiva: Kate Fasulo, Christine Langan, Xavier Marchand, Nichola Martin, Joe Oppenheimer, Jeff Pope, Eugenio Perez, Gabrielle Tana. Produção: Faye Ward. Elenco: Steve Coogan, John C. Reilly, Danny Huston, Shirley Henderson, Nina Arianda, Rufus Jones. Estreia: 21/10/18 (Festival de Londres)

Fenômenos do humor, Stan Laurel e Oliver Hardy ficaram internacionalmente conhecidos como O Gordo e o Magro, uma das duplas mais queridas e longevas do show business. Tornados famosos principalmente pelo cinema - que possibilitou que sua imagem viajasse pelo mundo inteiro, sempre com grande êxito -, eles não foram poupados de uma brutal queda de interesse a partir da década de 40, quando novos nomes do humor disputavam a atenção das plateias. Encarando sérias dúvidas sobre seu futuro como artistas, eles aceitaram, então, fazer uma turnê por teatros da Inglaterra - enquanto preparavam sua volta triunfal à sétima arte. Esse período da carreira dos dois astros foi o recorte escolhido pelo diretor Jon S. Baird para "Stan & Ollie", uma das cinebiografias mais subestimadas dos últimos anos. Engraçada, emocionante e sensível, além de realizada com extremo capricho na reconstituição de números da dupla, a produção não chamou a atenção nas bilheterias e foi praticamente ignorado nas cerimônias de premiação mais importantes da temporada. Quem deixar essas injustiças de lado, porém, terá a oportunidade de se deliciar com belos momentos de um humor nostálgico e puro - e ficar com o coração apertado com algumas sequências de emocionar o mais insensível espectador.

Diretor pouco conhecido e sem muitos títulos no currículo - talvez o mais conhecido seja "Filth", baseado em romance de Irvine Welsh e estrelado por James McAvoy -, Jon S. Baird mostra uma competência ímpar em recriar momentos icônicos de seus protagonistas (nos palcos e nas telas). Inspirado em livro de A.J. Mariot - que fala justamente sobre as viagens da dupla em sua turnê britânica - e amparado nas atuações excepcionais de Steve Coogan e John C. Reilly, que dão corpo e alma a seus personagens com uma dedicação comovente. Longe de um simples mimetismos, seus  desempenhos são exemplares, imbuídos de sentimento e personalidade. Reilly chegou a ser indicado ao Golden Globe e foi premiado pelos críticos de Boston, enquanto Coogan concorreu ao BAFTA., mas nenhum deles foi lembrado pela Academia - que esqueceu até mesmo do genial trabalho de maquiagem, que complementa as caracterizações de forma perfeita e sutil, e a trilha sonora de Rolfe Kent, que evoca o período histórico com precisão e delicadeza, além de mergulhar a plateia em uma viagem saudosista das mais competentes.





O roteiro de Jeff Pope - que coescreveu "Philomena" (2013) com Steve Coogan e foi indicado ao Oscar por isto - é o equilíbrio perfeito entre o retrato dos bastidores do cinema e do teatro dos anos 50 e a descrição do relacionamento pessoal e profissional de seus protagonistas. Fica claro desde o início que Laurel (Steve Coogan, perfeito nos mínimos detalhes) é o cérebro por trás da dupla, criando cenas, estórias e situações que possam ser utilizadas em seus filmes, enquanto Hardy (John C. Reilly, feito sob medida para o papel) assume o lado lúdico e sentimental da dupla - também fora das câmeras. É Laurel quem lida com o lado mundano de suas carreiras, lidando com produtores e financiadores pouco afeitos à arte e muito mais interessados em dinheiro, e à Hardy cabe uma figura mais dócil e afável - uma diferença que, além de atritos, de certa forma os levaram ao declínio. O filme não se furta a mostrar as dificuldades dos dois em sua tentativa de ressuscitar os áureos tempos, mas o faz com leveza e alto astral, evitando o sentimentalismo exagerado. Também encontra espaço para jogar luz em seus casamentos e dar a suas esposas o devido reconhecimento por seu sucesso - e o faz criando personagens complexos e multidimensionais, o que é bastante raro quando se percebe o quanto os coadjuvantes sofrem em mãos de roteiristas pouco generosos.

Os problemas de saúde de Hardy também são outro foco da trama. Em meio à excursão, ele vê ameaçada a sua possibilidade de continuar trabalhando - e, por consequência, ver seu retorno às telas sumir diante de seus olhos. São os momentos mais emocionantes do filme, quando Baird demonstra seu controle sobre seu material: ao invés de explorar sentimentalmente a situação, com música dramática e lágrimas fáceis, ele opta pelo caminho mais inteligente e conquista o público com cenas do mais puro lirismo do cinema cômico que deu fama à dupla de protagonistas. São as recriações de algumas dessas memoráveis sequências, aliás, que dão um molho extra ao filme. Assim como o fazia Chaplin, O Gordo e O Magro extraía humor das situações mais simples e banais, sem apelar para a vulgaridade e a escatologia, e Baird resgata essa inocência com um carinho comovente. Como filme e como homenagem, "Stan & Ollie" merece aplausos calorosos. Uma pena que o grande público ainda não o descobriu!

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