O ANO MAIS VIOLENTO (A most violent year, 2014, A24, 125min) Direção e roteiro: J.C. Chandor. Fotografia: Bradford Young. Montagem: Ron Patane. Música: Alex Ebert. Figurino: Kasia Walicka-Maimone. Direção de arte/cenários: John Goldsmith/Melanie J. Baker. Produção executiva: Glen Basner, Joshua Blum, Jonathan King, Jeff Skoll. Produção: J.C. Chandor, Neal Dodson, Anna Gerb. Elenco: Oscar Isaac, Jessica Chastain, Albert Brooks, David Oyelowo, Alessandro Nivola, Elyes Gabel, Catalina Sandino Moreno. Estreia: 06/11/14
"Margin call: o dia antes do fim", filme de estreia do cineasta J.C. Chandor, lançado em 2011, arrancou elogios entusiasmados da crítica e chegou a ser indicado ao Oscar de roteiro original - além de contar com um elenco de bambas que incluía Jeremy Irons, Kevin Spacey, Stanley Tucci e Demi Moore. Não fez lá muito sucesso de bilheteria, principalmente por causa do tema (a crise financeira que abalou o mercado em 2000), mas lhe deu prestígio o bastante para que seu filme seguinte, "Até o fim", estrelado por Robert Redford, tivesse visibilidade razoável. Mais uma vez a crítica gostou, e mais uma vez o público não deu muita importância. Acostumado com essa receptividade dúbia a seus trabalhos, não foi nenhuma surpresa para ele que seu terceiro longa-metragem, "O ano mais violento", tenha seguido caminho semelhante. Mesmo com uma vitória tripla pelo conceituado National Board of Review - melhor filme, ator (Oscar Isaac) e atriz coadjuvante (Jessica Chastain) -, a produção passou praticamente em brancas nuvens pelos cinemas. Talvez culpa do estilo minimalista do cineasta, talvez pelo tema pouco atraente ao público médio, o drama policial de Chandor é mais um filme para entrar na vasta lista de produções subestimadas que um dia felizmente serão vistas como tal.
Apesar do título sugerir um filme de ação (ou no mínimo com tensão o suficiente para justificá-lo), "O ano mais violento" é uma produção que investe muito mais no clima, na ambientação e no desenho dos personagens. O ano mais violento a que se refere é o de 1981, considerado historicamente como um dos períodos mais difíceis da cidade de Nova York, com um aumento considerável da criminalidade - mas também pode retratar a complicada fase do protagonista, o dono de uma companhia de petróleo que se vê envolvido em uma série de situações adversas que ameaçam seu negócio e sua família. A violência retratada por Chandor é mais psicológica do que física, mais sugerida que explícita - e mais inesperada porque imprevisível. Abel Morales, o personagem central, interpretado por Oscar Isaac, é um imigrante que construiu sua companhia à custa de muito trabalho honesto, ainda que tenha herdado parte dele do sogro pouco confiável. Tentando manter a integridade de sua trajetória, ele tenta fazer um negócio de milhões, que pode finalmente lhe trazer a estabilidade desejada, mas esbarra em dois grandes problemas, que podem ou não estarem interligados. O primeiro diz respeito a uma série de assaltos a caminhões de sua companhia, que vem lhe trazendo grandes prejuízos. O segundo (e talvez mais complicado de resolver) é uma investigação detalhada sobre sua fortuna, liderada pelo promotor de Justiça D.A. Lawrence (David Oyelowo).
Quanto aos assaltos, o que Abel pode fazer é tentar descobrir quem é o responsável - e aceitar, mesmo indo contra seus princípios, armar seus motoristas, entre eles o jovem latino Julian (Elyes Gabel), principal vítima dos criminosos. Incentivado por seu sinistro advogado, Andrew Walsh (Albert Brooks, se especializando em papéis dúbios), ele resolve entrar na briga contra concorrentes pouco confiáveis, o que pode trazer sérias consequências à sua família. Quanto às investigações da promotoria, ele conta com o apoio da esposa, Anna (Jessica Chastain), responsável pelos livros da companhia e disposta a qualquer coisa para manter seu estilo de vida e a segurança das filhas. Chastain é um dos destaques do filme, ao construir uma Anna imprevisível em sua determinação e sua falta de escrúpulos em defender seus interesses. É um contraponto interessante à ética do marido, interpretado com sutileza ímpar por Oscar Isaac, um dos atores mais competentes da nova geração. Os diálogos entre o casal estão entre os melhores momentos do filme, justamente por sublinhar o contraste radical entre os dois - tanto personagens quanto atores. Enquanto Isaac opta pelo minimalismo, pelo olhar angustiado, Chastain por sua vez investe em uma atuação mais visceral, sem medo de expor seus maiores dotes dramáticos.
Assumindo um papel que seria de Javier Bardem e não deixando nada a desejar com seu desempenho, o guatemalteco Oscar Isaac se confirma, em "O ano mais violento", como um ator de grandes recursos. Sem precisar apelar para longos diálogos, ele transmite ao espectador uma vasta gama de sentimentos, que vão do autocontrole à ira, da humildade ao rancor. Em alguns momentos lembra o jovem Al Pacino de "O poderoso chefão" (72) - e a caprichada reconstituição de época e a fotografia ajudam em fortalecer o tom de paranoia e tensão criado por Chandor. Um filme sem grandes reviravoltas ou emoções grandiloquentes, "O ano mais violento" lembra muito os policiais mais cerebrais da década de 1970, e resta ao público aceitar essa particularidade para descobrir suas inúmeras qualidades. Assistida sem expectativas equivocadas, é uma bela e competente realização de um dos diretores menos óbvios a surgir em Hollywood nos últimos anos.
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