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CINDERELA EM PARIS


CINDERELA EM PARIS (Funny face, 1957, Paramount Pictures, 103min) Direção: Stanley Donen. Roteiro: Leonard Gershe. Fotografia: Ray June. Montagem: Frank Bracht. Figurino: Edith Head, Givenchy. Produção: Roger Edens. Elenco: Audrey Hepburn, Fred Astaire, Kay Thompson. Estreia: 13/02/57

4 indicações ao Oscar: Fotografia, História e Roteiro Originais, Figurino, Direção de Arte

Em 1952, Stanley Donen co-dirigiu "Cantando na chuva", que, estrelado por Gene Kelly, legou ao mundo alguns dos mais encantadores momentos da história dos musicais no cinema. Cinco anos depois, foi a vez de comandar outro ícone absoluto da dança, Fred Astaire. Enquanto "Cantando" homenageava com humor e sarcasmo os bastidores do cinema, "Cinderela em Paris" alfinetava - de leve como convinha - o mundo da moda. Ao contrário do primeiro filme, no entanto, que intercalava cenas hilariantes com números de dança excitantes, a colaboração de Donen e Astaire não empolga tanto quanto deveria. E isso que, além de Astaire, o filme tem como protagonista a fulgurante Audrey Hepburn.

A ideia de juntar Hepburn - então no auge do sucesso - e Astaire - um símbolo da velha guarda dos musicais - não é nada má. Audrey já tinha ganho um Oscar por "A princesa e o plebeu" e fascinado as plateias com "Sabrina" e o bom e velho Fred ainda era adorado pela audiência. Mas na verdade a parceria quase não aconteceu. O primeiro nome cotado para viver a protagonista foi a da habitual parceira de Astaire, Cyd Charisse. No entanto, logo depois de ler o roteiro, a própria Audrey se interessou pelo projeto, mesmo contra seu agente da época. Para convencer os astros a assinarem os contratos, os produtores então utilizaram uma velha tática: asseguraram a atriz que Astaire já havia assinado com o filme e fizeram o mesmo com ele. Contratos assinados, era correr pro abraço. E não deu outra: o filme fez um grande sucesso, mesmo que não resista tão bem ao tempo quanto "Cantando na chuva".

A comparação de "Cinderela" com "Cantando" não é arbitrária. Além do diretor e do gênero, os dois filmes dividem a mesma intenção: contar uma história de amor tendo como pano de fundo um universo de glamour e sofisticação. E sofisticação é o que não falta quando o assunto é Audrey Hepburn. Aqui, ela vive Josephine Stockton, uma simples vendedora de livros, fascinada por filosofia e absolutamente desinteressada por tudo que se relaciona à moda e beleza. Um belo dia, durante o trabalho, acaba despertando o interesse do fotógrafo Dick Avery (Astaire), que vê nela tudo que é necessário para torná-la o rosto da mais nova campanha da revista onde trabalha ao lado da poderosa Maggie Prescott(Kay Thompson): personalidade, inteligência e charme. Para convencê-la a aceitar o trabalho, ele a convida para ir com a equipe para a capital francesa - onde ela pretende conhecer o líder de um movimento filosófico chamado "enfaticalismo" (uma sacada bastante engraçada). Lá, sob um cenário deslumbrante, entre visitas à Torre Eiffel e ao Arco do Triunfo, os dois, como era de se esperar, acabam se apaixonando.


"Cinderela em Paris" é adorável quando foca sua atenção no rosto absurdamente belo de Audrey Hepburn (vestida mais uma vez pelo estilista Givenchy), mas torna-se um tanto aborrecido em diversos momentos, quando abandona a engraçada crítica à moda e ao existencialismo francês (em voga na época) para apresentar intermináveis números musicais. É preciso ser fã das coreografias elaboradíssimas de Astaire para envolver-se completamente com o filme, uma vez que boa parte de sua duração é preenchida com seus passos de dança (sozinho, com Hepburn, com Thompson). Ainda que seja uma delícia de vê-lo desafiando as leis da gravidade em cenários bonitos por natureza, não deixa também de ser um pouco cansativo, uma vez que, ao invés de ajudar a contar a história, tais cenas apenas servem para demonstrar os dotes do ator e dançarino.

Fosse um pouco mais curto e um pouco mais parcimonioso em seus excessivos números musicais, "Cinderela em Paris" poderia ser tão delicioso quanto "Cantando na chuva". Mas, mesmo com seus pequenos defeitos (principalmente para aqueles que não são entusiastas do gênero), é inesquecível graças ao carisma de seus atores principais. Afinal, quem resiste ao rosto choroso de Audrey Hepburn vestida de noivo em um belo cenário campestre em Paris?

2 comentários:

Luis Fabiano Teixeira disse...

Concordo que houve uma certa dissonância entre musical e comédia romântica, mas no final sobressai o trabalho inconfundível da Audrey (sou fã dela ardoroso). E não só pela beleza, mas pelo que falta hoje no cinema, nas atrizes, essa elegância genuína, que causa essa atmosfera etérea-além-botox-e-tutti-quantti. Sempre ótimas resenhas, que valem pra posteridade. Bem, sobre os motivos para sorrir: amigo, vou ficar só com a novela do Gilberto mesmo rs. Abração e saudades!

gabis disse...

Gostei do post!! :D

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