terça-feira

CLAMOR DO SEXO


CLAMOR DO SEXO (Splendor in the grass, 1961, Warner Bros, 124min) Direção: Elia Kazan. Roteiro: William Inge. Fotografia: Boris Kaufman. Montagem: Gene Milford. Música: David Amram. Produção: Elia Kazan. Elenco: Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle, Audrey Christie, Barbara Loden, Zohra Lampert, Sandy Dennis. Estreia: 10/10/61

2 indicações ao Oscar: Atriz (Natalie Wood) e Roteiro Original
Vencedor do Oscar de Roteiro Original


Em uma cena da minissérie global "Anos dourados", apresentada em 1986, a jovem normalista Lurdinha (Malu Mader)sofria de um ataque histérico quando confrontada por sua mãe (a saudosa Yara Amaral) a respeito do grau de intimidade que ela desfrutava com o namorado, estudante do Colégio Militar. Em seguida, mãe e filha conversavam (ou pelo menos a garota tentava conversar) sobre a diferença dos desejos sexuais entre homens e mulheres, recebendo em troca apenas respostas evasivas. A cena é uma das mais marcantes da minissérie, mas não é exatamente original: é uma adaptação quase literal de uma cena de "Clamor do sexo", filme de Elia Kazan que levou o Oscar de roteiro original em 1961, uma homenagem sincera e merecida a um dos mais belos filmes americanos da época a retratar as tristes consequências da repressão sexual.

"Clamor do sexo" começa em 1928 e se passa em uma pequena cidade agrícola do Kansas. Lá, o casal de adolescentes Deanie (Natalie Wood) e Bud (Warren Beatty, em sua estreia no cinema) vivem um relacionamento apaixonado. Ele é pressionado pelo pai, um bem-sucedido empresário do ramo do petróleo, a fazer faculdade em Yale, o que o afastaria pelo período mínimo de 4 anos da namorada, uma jovem sensível que obedece cegamente aos rígidos princípios morais e religiosos de sua família e da sociedade. O exemplo que ela tem de uma mulher que não segue os padrões impostos é a irmã de Bud, a liberada Ginny (Barbara Loden), abertamente discriminada pela sociedade. Quando o desejo sexual do casal começa a tornar-se impossível de reprimir, eles acabam de afastando. Bud aceita os conselhos paternos e sai da cidade, enquanto Deanie sofre um colapso psicológico. A queda da Bolsa de Valores de NY, em 1929, no entanto, volta a mudar a vida dos dois.


"Clamor do sexo" marcou a estreia de Warren Beatty nas telas - e o começo de sua fama de conquistador. Graças a ele, o primeiro casamento de Natalie Wood com o ator Robert Wagner acabou, mas quem há de julgar Natalie? Jovem, bonito e demonstrando um talento que ainda lhe iria render um Oscar de diretor - por "Reds" (1981) - Beatty apresenta uma química perfeita com Wood, que, apesar de seus 23 anos, convencia plenamente como adolescente (bem mais aqui do que em "Juventude transviada", que ela fez com 17 anos). O amor entre Deanie e Bud parece crível, verdadeiro e honesto, impressão que se mantém principalmente na melancólica cena final, quando eles se reencontram depois de um afastamento de dois anos. É uma cena bem dirigida, delicada e extremamente realista, onde os dois jovens atores comprovam que pouca idade não necessariamente significa pouco talento.

Mas "Clamor do sexo", apesar do título em português, não trata única e exclusivamente de sexo. Sim, o desejo sexual reprimido entre Bud e Deanie é o que move o roteiro de William Inge, mas o filme de Elia Kazan vai muito mais além do que simplesmente contar a história de um amor assombrado pelo puritanismo. Ele investiga, com igual competência, como se comportava a sociedade americana do interior do país antes do crash de 1929, economicamente, politicamente e nas relações interpessoais. Sem deixar que o filme se tornasse um chatíssimo documentário sobre uma época, Kazan mostrou à sua audiência um retrato não exatamente simpático de um país que escondia seu desejo dentro das mais íntimas cavernas emocionais e deixava vislumbrar apenas a imagem que melhor lhe convinha. A excepcional cena da passagem de ano de 1928 para 1929, quando Ginny, bêbada, desmascara quase todos os homens casados da cidade com quem havia dormido, é um claro exemplo do que Inge e Kazan pretendiam mostrar.

Hoje em dia "Clamor do sexo" pode soar ingênuo, e talvez realmente o seja. Mas é um comovente drama romântico que emociona e envolve o espectador sem forçar nenhum tipo de empatia. Simplesmente é difícil não se apaixonar por Deanie e Bud e não sofrer junto com eles.

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Mas um filme que eu nem sabia da existência, e fiquei muito curioso, a trama central me parece ser mto boa. Adoro a Natalie Wood ! xD

Einstein² disse...

Ainnn , não conhecia ainda esse naum, eu gosto de alguns filmes antigos assim as vezes. Um dos meus favoritos é A Malvada. Vou procurar essee!
Abração!

Alan Raspante disse...

Clênio, tem um selinho para o seu blog no meu [cinema público], passa lá depois.
bjs =D

Anônimo disse...

ha, I am going to experiment my thought, your post get me some good ideas, it's truly amazing, thanks.

- Norman

Rosi disse...

O FILME MAIS LINDO QUE ASSISTI !

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