QUANDO PARIS ALUCINA (Paris when it sizzles, 1964, Paramount Pictures, 110min) Direção: Richard Quine. Roteiro: George Axelrod, estória de Julien Duvivier, Henri Jeanson. Fotografia: Charles Lang, Jr. Montagem: Archie Marshek. Música: Nelson Riddle. Direção de arte/cenários: Jean D'Eaubonne/Gabriel Bechir. Produção: George Axelrod, Richard Quine. Elenco: William Holden, Audrey Hepburn, Noel Coward, Tony Curtis, Grégoire Aslan. Estreia: 08/4/64
Na teoria parecia uma ideia genial: unir o talento e o carisma de William Holden com a beleza e o perfeito timing cômico de Audrey Hepburn em uma trama metalinguística que brincaria com o universo do cinema e contaria com participações mais que especiais de Tony Curtis, Marlene Dietrich e Frank Sinatra em pontas. Porém, até mesmo as ideias aparentemente infalíveis podem se mostrar armadilhas e foi exatamente o que aconteceu com "Quando Paris alucina". O que poderia ser uma comédia das mais divertidas dos anos 60 transformou-se, nas mãos do diretor Richard Quine, em um pastiche exagerado, confuso e sem ritmo e que, a despeito de alguns bons momentos de criatividade, termina por não cumprir todas as promessas que faz em seu agradável início.
Considerado pela própria Audrey Hepburn seu filme menos querido de sua fase como grande estrela, "Quando Paris alucina" tem na irregularidade seu maior problema, o que não deixa de ser surpreendente, uma vez que o roteiro tem a assinatura de George Axelrod, que dois anos antes havia lançado o espetacular "Sob o domínio do mal", estrelado por Frank Sinatra, um primor de ritmo e concisão. Aqui, ele conta de forma atabalhoada uma história que em momento nenhum prende a atenção do espectador, que fica esperando (em vão) que as coisas façam algum sentido - e a quem só resta, depois de um tempo, aproveitar as belas paisagens da cidade-luz e a elegância sempre irretocável de Hepburn, que consegue tirar leite de pedra com uma personagem sem profundidade e que existe apenas para justificar a história de amor que se pretende contar - ou não, já que também há a indecisão entre o romance e a comédia de erros que satiriza o modo industrial de realizar-se filmes (sátira essa que acaba se mostrando um tanto inadequada, uma vez que o próprio produto final parece resultado mais de um comitê de criação do que exatamente uma obra original).
Hepburn vive Gabrielle Simpson, uma secretária contratada para auxiliar o roteirista de Hollywood Richard Benson (William Holden, que se ausentou das filmagens para internar-se em uma clínica de reabilitação de álcool) a finalizar seu novo filme, intitulado "A garota que roubou a Torre Eiffel". Benson, que já está há semanas em Paris, tem um prazo exíguo para entregar o script a seu rígido produtor, Alexander Meyerheim (o dramaturgo Noel Coward), e, para seu desespero, nem sequer começou a escrevê-lo. Com a ajuda de Gabrielle, uma jovem sonhadora, criativa e alto-astral, ele passa a ter ideias e mais ideias a respeito da trama. Inspirado por ela, Benson começa uma história de espionagem que se desenvolve de várias e insuspeitas maneiras, incluindo até vampiros e lobisomens. Enquanto vai imaginando seu filme, o público vê suas ideias desenrolando-se na tela, sempre com ele e Gabrielle nos papéis centrais.
Como afirmado antes, a ideia de "Quando Paris alucina" não é das piores e poderia facilmente tornar-se um entretenimento dos mais divertidos se estivesse em mãos menos burocráticas e sem inspiração. Richard Quine construiu um filme engessado em suas próprias limitações que jamais surpreende o público. As brincadeiras do início - quando Benson vai modificando seu roteiro enquanto desfilam pela tela as participações especiais citadas anteriormente - logo tornam-se cansativas e o roteiro acaba por não oferecer nada que as substitua. Em pouco tempo a audiência se vê presa a uma história policial sem pé, cabeça ou graça e a uma história de amor que não desperta nada mais do que tédio - em parte devido à falta de química entre Audrey Hepburn e William Holden, subaproveitado ao extremo em um personagem que em nada acrescenta à sua brilhante carreira. No final das contas, vale apenas pela beleza de Audrey... e mesmo assim só para os fãs ardorosos.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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