A ÁRVORE DA VIDA (The tree of life, 2011, River Road Entertainment, 139min) Direção e roteiro: Terrence Mallick. Fotografia: Emmanuel Lubezki. Montagem: Hank Corwin, Jay Rabinowitz, Daniel Rezende, Billy Weber, Mark Yoshikawa. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Jacqueline West. Direção de arte/cenários: Jack Fisk/Jeanette Scott. Produção executiva: Donald Rosenfeld. Produção: Dede Gardner, Sarah Green, Grant Hill, Brad Pitt, Bill Pohlad. Elenco: Brad Pitt, Jessica Chastain, Sean Penn, Hunter McCracken. Estreia: 16/5/11 (Festival de Cannes)
3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Terrence Mallick), Fotografia
Vencedor da Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes
Confesso: não sou fã de Terrence Malick. Não faço parte do fã-clube de
um dos cineastas mais incensados pela crítica especializada,
principalmente por não conhecer a fundo sua (pequena) obra. Acho "Além
da Linha Vermelha" bastante enfadonho. E não tenho muita paciência para
filmes-cabeça. Por isso, quando entrei na sessão de "A Árvore da Vida",
seu mais novo e recente trabalho, eu estava desprovido de expectativas
exageradas e também de qualquer opinião pré-formada (apesar de muitas
críticas negativas que pipocavam à minha volta). Sentei na poltrona com a
mente aberta, esperando ser tocado de alguma forma pela história
proposta pelo cineasta. E não me arrependi. Ainda que não seja a
obra-prima alardeada a quatro ventos pelos mais entusiásticos seguidores
de Malick tampouco é o soporífero descrito por seus detratores. "A
Árvore da Vida" é um belo exercício de estilo, uma comovente história
familiar, uma poderosa reflexão sobre a vida e a morte. Poderia ser
menos lento e menos longo em alguns momentos? Em uma primeira visão,
sim. Mas mexer na estrutura e até mesmo no ritmo do filme o aniquilaria.
"A Árvore da Vida" é o que é. Alguns aplaudem, outros vaiam. Todos
precisam ver para dar a sua opinião.
Narrado de maneira fragmentada, "A Árvore da Vida" conta, basicamente, a
história de uma típica familia americana de classe média dos anos 50,
liderada por um pai um tanto déspota e sem maiores arroubos de carinho
(interpretado por um surpreendente Brad Pitt que substituiu Heath Ledger após sua precoce morte) e uma mãe delicada e
juvenil que aguenta calada a forma quase tirana com que o marido comanda
a casa (a ótima Jessica Chastain). Narrada pelo filho mais velho, Jack
(vivido por Sean Penn na maturidade e pelo impressionante Hunter
McCracken na infância), a trajetória da família é intercalada por
imagens que remetem às origens da vida no planeta, enquanto os
personagens questionam Deus a respeito de suas dúvidas sobre a vida, a
morte e a justiça. Magnificamente fotografado por Emmanuel Lubezki (indicado ao Oscar por seu trabalho) e editado por uma equipe que inclui o brasileiro Daniel Rezende, "A árvore da vida" conquistou o júri do Festival de Cannes que lhe premiou com a Palma de Ouro e concorreu a 3 Oscar, incluindo melhor filme e direção.
Mas a bem da verdade, não dá para recriminar a parte da plateia que vem
rechaçando "A Árvore da Vida" de forma tão violenta. Malick não faz
concessões em seu trabalho, e por vezes seus objetivos estéticos e
metafísicos não são claros o bastante para agradar a um público cuja
predisposição a filmes mais contemplativos está cada vez mais atrofiada -
e muita gente de bom-gosto também não comprou as ideias do cineasta,
alimentando ainda mais a polêmica sobre a qualidade artística do
projeto. No entanto, mesmo que as discussões que o filme tenta levantar
não cheguem a entusiasmar de forma geral, é inegável que, quando fala de
sentimentos em seu filme, o diretor de "Terra de Ninguém" é capaz de
emocionar até mesmo o mais insensível dos mortais.
É quando deixa de lado suas intenções filosóficas que Terrence Malick
atinge um ponto nevrálgico no coração do espectador. É a complexa
relação entre Jack e seu pai (cuja frieza se alterna com raros momentos
de delicadeza e carinho) e sua vida em família (seu relacionamento com a
mãe quando bebê é adorável) que eleva "A Árvore da Vida" a um nível
emocional de rara pungência e verdade. Qualquer pessoa que teve uma
infância em família, que tem lembranças a partilhar, que tem traumas
guardados e/ou tem aquela sensação nostálgica no peito tem tudo para
desabar em lágrimas. É um paradoxo que, justamente quando o filme se
afasta de suas ambições de ser pretensamente original que consegue
captar o coração do espectador - e fazer mais sentido do que busca suas
imagens da natureza (que incluiu até mesmo uma surpreendente e controversa sequência estrelada por dinossauros). E
para isso conta com atuações inspiradíssimas de Brad Pitt (fazendo todo
mundo esquecer que ele é Brad Pitt, com um personagem crível e bem
desenvolvido), Jessica Chastain e do menino Hunter McCracken, que não
precisa nem falar para transmitir o turbilhão de sentimentos pelos quais
passa seu personagem. Apenas Sean Penn soa deslocado, mas é um pecado
menor em um filme tão repleto de qualidades - que incluem a edição
espetacular e o visual de tirar o fôlego em algumas sequências.
O conceito de "A Árvore da Vida" pode não ter agradado a gregos e
troianos. Mas a coragem de Terrence Malick em levar adiante um projeto
tão pessoal já merece aplausos. Seu filme é um clássico
instantâneo.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
domingo
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