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A GAROTA DE ROSA-SHOCKING

A GAROTA DE ROSA-SHOCKING (Pretty in pink, 1986, Paramount Pictures, 96min) Direção e roteiro: John Hughes. Fotografia: Tak Fujimoto. Montagem: Richard Marks. Música: Michael Gore. Figurino: Marilyn Vance. Direção de arte/cenários: John W. Corso/Jennifer Polito, Bruce Weintraub. Produção executiva: Michael Chinich, John Hughes. Produção: Lauren Shuler. Elenco: Molly Ringwald, Andrew McCarthy, Jon Cryer, Harry Dean Stanton, James Spader, Annie Potts. Estreia: 28/02/86

Musa absoluta do diretor John Hughes e da vasta maioria dos adolescentes frequentadores das salas de cinema e das videolocadoras dos anos 80, a ruiva Molly Ringwald considera "A garota de rosa-shocking", sua terceira colaboração com Hughes - depois de "Gatinhas e gatões" (84) e "Clube dos cinco" (85) - como a sua preferida. Antes de romper profissionalmente com o cineasta ao recusar um papel em seu "Alguém muito especial" (87), Ringwald era a cara de sua geração, algo assim como o James Dean feminino dos anos 80 - sem sua rebeldia e o carisma imortal, no entanto. Suas personagens, sempre estudantes do colegial lidando com problemas típicos de sua idade, refletiam nas telas as angústias de seu tempo, rodeadas por pôsteres de bandas, vestidas com figurinos inacreditavelmente cafonas sob o ponto de vista atual e sonorizadas por nomes icônicos como The Smiths, Eccho & The Bunnymen, New Order e OMD. E esse seu trabalho com o diretor-símbolo do gênero não foge à regra, mostrando definitivamente que em time que está ganhando não se mexe: "A garota de rosa-shocking" mais uma vez usa e abusa dos clichês das comédias românticas adolescentes sem ao menos ter vergonha disso. E justamente por isso funciona mais uma vez.

Agora Ringwald interpreta Andie Walsh, uma jovem pobre que vive sozinha com o pai desempregado (Harry Dean Stanton dando credibilidade ao projeto) e trabalha em uma loja de discos ao lado da amiga mais velha, Iona (Annie Potts). Inteligente e criativa a ponto de criar suas próprias roupas - e ser prodigamente ridicularizada por isso pela ala das patricinhas de sua escola - Andie não é exatamente a mais popular das garotas, mas isso não impede que Blane (Andrew McCarthy), o rapaz dos seus sonhos, a convide para sair. O surpreendente convite deixa Andie nas nuvens, mas acaba sendo uma enorme decepção para Duckie (Jon Cryer, da série "Two and half men"), seu melhor amigo, que é apaixonado por ela desde a infância mas tem medo de declarar-se. A relação entre Andie e Blane, porém, irá esbarrar em outros empecilhos: além de Duckie não estar nem um pouco feliz com a história e de Steff (James Spader), amigo de Blane, não poupar esforços para destruir o romance nascente, eles precisam lidar com suas diferenças sociais e inseguranças.


O roteiro de "A garota de rosa-shocking" talvez seja o mais fraco dentre os clássicos de John Hughes, o que não acaba de jeito nenhum com o prazer de assistí-lo (ou revisitá-lo, vez ou outra). A inocência característica da obra do diretor permanece uma delícia, diante de tantas comédias contemporâneas que insistem na escatologia e na baixaria para conquistar o espectador. O romantismo, que pode soar datado mas permanece terno e íntegro, ainda é um dos seus pontos altos, estabelecendo como base da trama um triângulo amoroso que causou polêmica já em seu lançamento: o final que chegou aos cinemas é diferente daquele imaginado por Hughes, que não foi bem aceito nas exibições-teste e substituido mesmo contra a sua vontade - e que o levou a lançar "Alguém muito especial" (aquele filme que Ringwald não topou fazer) no ano seguinte. Especula-se que, caso o elenco escolhido tivesse sido diferente (Robert Downey Jr. fez teste para viver Duckie e Charlie Sheen para interpretar Blane), essa situação poderia ter sido invertida, mas o fato é que, como está, o filme marcou uma geração e é difícil imaginar um final diferente, quer se concorde com ele ou não.

Tendo moldado, junto com outros filmes similares, toda uma geração de cinéfilos adolescentes que ainda não eram obrigados a uma dieta de filmes de super-heróis, "A garota de rosa-shocking" ficou na mente de seu público-alvo graças a algumas cenas inesquecíveis, como o encontro entre Andie e Blane no baile do final (ao som da clássica "If you leave", da banda OMD) e à interpretação sempre na medida certa de Molly Ringwald - que infelizmente não teve a mesma sorte na carreira de atriz adulta. Pode não ser um grande filme, não ter ganho Oscar e não fazer parte da lista das obras que mudaram a sétima arte, mas tem lugar garantido no coração dos fãs, que não se emocionaram à toa com as confusões sentimentais de sua adorável protagonista.

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