O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS (St. Elmo's fire, 1985,
Columbia Pictures, 110min) Direção: Joel Schumacher. Roteiro: Joel
Schumacher, Carl Kurlander. Fotografia: Stephen H. Burum. Montagem:
Richard Marks. Música: David Foster. Figurino: Susan Becker. Direção de
arte/cenários: William Sandell/Robert Gould, Charles M. Graffeo.
Produção executiva: Bernard Schwartz, Ned Tanen. Produção: Lauren
Shuler. Elenco: Emilio Estevez, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore,
Judd Nelson, Ally Sheedy, Mare Winningham, Martin Balsam, Andie
MacDowell. Estreia: 28/6/85
Billy Hicks (Rob Lowe) é um jovem irresponsável, casado precocemente e que sonha em viver da música, além de ser o objeto de desejo de sua colega de faculdade, Wendy (Mare Winningham), uma judia rica que trabalha em um centro de assistência social e sonha entregar a ele sua virgindade, apesar dos esforços de sua família para que se case com um rapaz com suas mesmas condições financeiras e religiosas. Jules (Demi Moore) é uma patricinha que não tem uma relação das melhores com o pai e a madrasta e procura refúgio nas drogas e no álcool, além de ter um caso amoroso com seu chefe casado. Alec Newbarry (Judd Nelson) é um assistente político em vias de mudar de ideologia graças ao poder do dinheiro - e assim poder casar-se com a namorada, Leslie Hunter (Ally Sheedy), que busca reconhecimento profissional e desconhece tanto as escapadelas sexuais do namorado quanto a paixão que desperta em outro colega, Kevin Dolenz (Andrew McCarthy), que todos desconfiam ser gay. E Kirby Keler (Emilio Estevez) trabalha como garçom no St. Elmo's, o bar onde todos confraternizam frequentemente e reafirmam suas relações de amizade - enquanto tenta conquistar o amor de Dale Biberman (Andie MacDowell), uma médica que ele conhece e ama desde os tempos da faculdade.
Esses são os sete protagonistas de "O primeiro ano do resto de nossas vidas", primeiro sucesso de Joel Schumacher como diretor - depois de anos como figurinista e diretor de arte e de dois trabalhos pouco vistos. Seguindo um nicho um bocado mais maduro do que aquele que se dedicava a adolescentes atormentados por dúvidas existenciais e românticas, o roteiro explora (sem maiores profundidades mas de forma simpática e fotogênica) um grupo mais velho de personagens, recém-saídos da universidade mais ainda perdidos em relação a seu espaço no mundo - não deixa de ser irônico que no mesmo ano de seu lançamento, três de seus atores (Emilio Estevez, Ally Sheedy e Judd Nelson) também estivessem no sucesso "Clube dos cinco", de John Hughes, onde interpretavam colegiais. Também é uma ironia inconsciente que, apesar de todos os personagens estarem na casa dos vinte e poucos anos, seus problemas serem bem pouco diferentes daqueles enfrentados por Molly Ringwald e companhia nos filmes de Hughes, sendo substituídos apenas por questões relativas à elevação da faixa etária: saem as dúvidas sobre as faculdades a serem cursadas e entram as dificuldades de se colocar no mercado de trabalho; ficam pra trás as tentativas de se encaixar em um mundo hostil às diferenças e entra em cena a luta para manter a individualidade; acaba o desespero para encontrar o amor e inicia a batalha para manter um relacionamento adulto e longe das tentações físicas que surgem a cada esquina. Mesmo que não seja um cineasta espetacular, Schumacher tem o mérito de conseguir interpretações corretas de seu elenco de astros juvenis mesmo com os problemas pessoais de Demi Moore (que na vida real vivia problema semelhante à de sua personagem ficctícia, envolvida com drogas) e a inexperiência de muitos deles.
Lançado em uma época do cinema hollywoodiano onde um novo grupo de jovens atores começava a dar as cartas - mesmo que muitos deles não tenha conseguido fazer a transição de promessa a ator respeitado - "O primeiro ano do resto de nossas vidas" faz uso de todas as qualidades e defeitos da rapaziada. Fica evidente, por exemplo, o quanto Emilio Estevez se sobressai, mesmo com um personagem cujo maior drama é o de tentar seduzir uma antiga paixão, mais velha e com outras prioridades na vida. Mare Winningham se esforça como a virginal Wendy - mesmo estando grávida durante as filmagens - e seria indicada ao Oscar de coadjuvante em 1996 por "Georgia" e Ally Sheedy, mesmo sendo a mais talentosa do elenco, também seria prejudicada por complicações com as drogas, interrompendo o que poderia ter sido uma brilhante carreira. Demi Moore e Rob Lowe desfilam sua beleza pela tela, não sendo muito mais exigidos do que isso, ainda que nenhum deles seja exatamente um ator ruim. E Judd Nelson convence em um papel bastante diferente do valentão rebelde que interpretou em "Clube dos cinco" e que lhe deu fama junto ao público jovem. Na ponta de tudo, Andrew McCarthy também não se sai mal como o galã incompreendido apaixonado pela mulher de um amigo. Juntos, eles tem uma química que é, senão o principal elemento do filme, ao menos o combustível que o mantém em fogo constante até o final mezzo melancólico mezzo otimista.
Equilibrando um tom caloroso - resquícios do sempre inspirador "O reencontro" (83) - com momentos de um cinismo típico da geração yuppie dos anos 80, "O primeiro ano do resto de nossas vidas" tornou-se, de certa forma, o retrato de uma parcela da juventude norte-americana de sua época, ainda que não aprofunde a maioria de seus questionamentos e paire superficialmente sobre muitas questões que mereceriam maior atenção. No entanto, funciona como retrato de um cinema específico, de um momento também restrito e de exemplo de como um elenco bem escolhido pode fazer metade do serviço quando se fala de cinema. Imaginem só se Jodie Foster tivesse aceito viver Jules!!!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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