NAS MONTANHAS DOS GORILAS (Gorillas in the mist, 1988, Universal
Pictures/Warner Bros., 129min) Direção: Michael Apted. Roteiro: Anna
Hamilton Phelan, estória de Anna Hamilton Phelan, Tab Murphy, artigo de
Harold T.P. Hayes, história real de Dian Fossey. Fotografia: John Seale.
Montagem: Stuart Baird. Música: Maurice Jarre. Figurino: Catherine
Laterrier. Direção de arte/cenários: John Graysmark/Simon Wakefield.
Produção executiva: Peter Guber, Jon Peters. Produção: Terence Clegg,
Arnold Glimcher. Elenco: Sigourney Weaver, Bryan Brown, Julie Harris,
John Omirah Miluwi, Iain Cuthbertson, Constantin Alexandrov. Estreia:
07/10/88
5 indicações ao Oscar: Atriz (Sigourney Weaver), Roteiro Adaptado, Trilha Sonora Original, Montagem, Som
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Sigourney Weaver)
A
zoóloga Dian Fossey é conhecida pelos defensores dos direitos dos
animais por ter sido a mais corajosa, dedicada e competente estudiosa
dos gorilas das montanhas da África, onde travou contato próximo com os
animais a ponto de dar-lhes nomes e conhecê-los profundamente. Também
marcou seu nome como a maior defensora de tais animais, lutando
indiscriminadamente contra sua extinção predatória e por seu final
trágico e ainda envolto em mistério. E finalmente, é conhecida por ter
dado a Sigourney Weaver um dos melhores papéis de sua carreira e que
levou-a à corrida do Oscar de melhor atriz em 1989 - mesmo ano em que
também foi indicada como coadjuvante por "Uma secretária de futuro".
Dirigido por Michael Apted, "Nas montanhas dos gorilas" é um retrato
elogioso e respeitoso tanto de Fossey quanto de seu louvável trabalho -
além de ser um belíssimo filme, capaz de emocionar e chocar os
espectadores, em especial aqueles que amam os animais.
A
indicação de Weaver ao Oscar não foi acidental. Basta pôr os olhos em
suas primeiras cenas junto aos gorilas (um trabalho espetacular de
animação mecatrônica de Rick Baker misturado a alguns animais
verdadeiros) para que se acredite piamente em seu amor por eles, em seu
carinho infinito por uma raça tão perigosamente à beira da extinção. A
atriz que ficou mundialmente conhecida como a corajosa Tenente Ripley da
cinessérie "Aliens" exibe em seu trabalho um extenso leque de nuances,
quase todas expressas unicamente em seu rosto - durante as pouco mais de
duas horas de projeção, Fossey (na pele de Sigourney) passa pelo
fascínio, pela raiva, pelo amor romântico, pelo desespero, pelo carinho e
pela felicidade, levando consigo todo o espectador que, emocionado, se
deixar levar em sua odisseia contra a violência e o predatorismo.
Fascinada
pelos estudos feitos até então sobre os primatas africanos ameaçados de
extinção e acreditando-se capaz de enriquecer o material a respeito e
quem sabe até estabelecer algum tipo de contato com eles devido à sua
experiência como fisioterapeuta, Fossey começa o filme chegando ao
continente africano e tentando adaptar-se à nova casa. Não demora muito,
porém, para que, com a ajuda do guia Sembagare (John Omirah Miluwi),
ela chegue ao encontro de seu maior objetivo, um grupo de gorilas com
uma dinâmica social particular e com formas de comunicação que, aos
poucos, ela começa a desvendar. Dedicada e quase obsessiva, ela passa a
ser bem-recebida na comunidade de tais animais, que a tratam com
respeito e quase gentileza. Dando a eles nomes e percebendo suas
características especiais, Fossey vai se tornando mais e mais chegada a
seu trabalho, o que atrapalha inclusive o nascente e avassalador romance
com o fotógrafo Bob Campbell (Bryan Brown), da National Geographic. No
entanto, o que era apenas motivo de orgulho acaba se tornando uma guerra
pessoal quando a antropóloga entra em conflito direto com caçadores e
mercadores de animais, que matam os gorilas apenas para fazer cinzeiro
de suas mãos ou bobagens afins. Disposta a fazer o que for preciso para
enfrentá-los de igual para igual, ela acaba por colocar a própria vida
em risco diante dos interesses financeiros e governamentais.
Inspirador
como poucos filmes a respeito de animais - talvez por evitar sempre que
possível o sentimentalismo barato e privilegiar a força quase
imorredoura de sua protagonista - "Nas montanhas dos gorilas" é um
libelo contra a violência à natureza sem o ranço panfletário que
normalmente acompanha as produções do gênero. A fotografia de John Seale
explora com competência a beleza da vastidão africana em contraponto à
feiúra das convulsões sociais que agitavam o continente distante das
montanhas, e a trilha sonora do veterano Maurice Jarre - também indicada
a uma estatueta da Academia - pontua com discrição a história,
ilustrando a trajetória de Fossey com a mesma delicadeza com que ela
tratava os gorilas (seus filhos de coração, como fica evidente na
sensacional e devastadora cena em que ela vê os corpos sem cabeças de
vários deles, vítimas de caçadores). Mas, mesmo com todas as suas
qualidades, é a interpretação sobre-humana de Sigourney Weaver que fica
na mente do espectador quando os letreiros finais sobem na tela. Mesmo
com candidatas fortíssimas ao Oscar de 1989 - Glenn Close em "Ligações
perigosas", Meryl Streep em "Um grito no escuro" e a vencedora Jodie
Foster em "Acusados" - a estatueta deveria ter ido parar na estante de
Weaver, que comprova, de uma vez por todas, que é uma atriz capaz de
muito mais do que simplesmente caçar alienígenas.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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