sexta-feira

O IMPOSSÍVEL

O IMPOSSÍVEL (The impossible, 2012, Summit Entertainment/Mediaset España, 114min) Direção: A.J. Bayona. Roteiro: Sergio G. Sánchez, estória de María Belón. Fotografia: Oscar Faura. Montagem: Elena Ruiz, Bernat Vilaplana. Música: Fernando Velázquez. Figurino: Anna Bingemann, Sparka Lee Hall, María Reyes. Direção de arte/cenários: Eugenio Caballero/Pilar Revuelta. Produção executiva: Sandra Hermida, Javier Ugarte. Produção: Belén Atienza, Álvaro Augustin, Ghislain Barrois, Enrique López-Lavigne. Elenco: Naomi Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Geraldine Chaplin, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast. Estreia: 09/9/12 (Festival de Toronto)

Indicado ao Oscar de Melhor Atriz (Naomi Watts)

"Titanic" explorava uma das maiores catástrofes da história do século XX com pompa e circunstância, transformando a tragédia em um superespetáculo tecnicamente perfeito que conquistou o posto de maior bilheteria da história do cinema - e um recorde de onze Oscar. Quinze anos depois, o mexicano Juan Antonio Bayona mostrou que não é preciso um orçamento milionário para emocionar a plateia quando se tem talento e uma trama forte em mãos. "O impossível" - que utiliza a destruição provocada pelo Tsunami que devastou a Tailândia em 2004 para contar uma história de esperança e superação pessoal - é um dos filmes mais impactantes a surgir nas telas em muitos anos e, mesmo que tenha recebido apenas uma indicação ao Oscar (melhor atriz) é infinitamente superior a muitos produtos superestimados pelos membros da Academia em sua temporada, como o manipulador e chato "Indomável sonhadora". E é, além de tudo, uma aula de narrativa, capaz de prender o público na cadeira durante toda a sua tensa e emocionante projeção.

Ao contrário de "Titanic" - a comparação é inevitável, de certa forma - em que a desgraça só chegava às personagens depois de mais da metade do filme, em "O impossível" o roteiro vai direto ao ponto: em menos de quinze minutos a paz e a tranquilidade da família do inglês Henry Bennett (Ewan McGregor) desaparece, sendo levada pela gigantesca onda que aniquila o resort onde ele estava passando as festas de fim de ano com a família. Afastada do marido e dos dois filhos caçulas, desaparecidos em meio ao turbilhão provocado pela gigantesca onda, a médica Maria (Naomi Watts) - que deixou a profissão de lado para dedicar-se aos filhos - une-se então ao filho mais velho, Lucas (Tom Holland) para tentar sobreviver às consequências do desastre. Enquanto isso, Henry e os outros meninos não desistem de procurar o resto da família, testemunhando abismados a extensão da tragédia e exemplos comoventes de solidariedade e amor.


A partir daí é surpreendente a maneira com que Bayona - que assinou o também ótimo "O orfanato" - manipula (no bom sentido) os sentimentos da plateia. Sem perder o ritmo em momento algum, o cineasta constrói um filme que equilibra com maestria sequências de suspense de tirar o fôlego com cenas da mais absoluta emoção. Fugindo do piegas admiravelmente, o filme conduz o público a uma experiência capaz de arrancar lágrimas do mais empedernido espectador ao apelar para os sentimentos mais puros e honestos de cada um. É notável também - e nisso se percebe claramente o talento de todos os envolvidos no projeto - como cada peça se encaixa perfeitamente no resultado final: a fotografia eficaz, a edição inteligente, a trilha sonora delicada e os efeitos visuais discretos e assustadores colaboram para transformar o trabalho de Bayona em duas horas do mais puro cinema, que entretém ao mesmo tempo em que apavora e emociona.

E emoção é a palavra-chave de "O impossível". Não há cena no filme que não arrepie, que não comova, que não mexa com o público. Tudo isso deve muito, justiça seja feita, a seu elenco: se apenas Naomi Watts foi indicada ao Oscar por sua performance não seria errado apontar que Ewan McGregor e o jovem Tom Holland mereciam maior atenção por parte dos eleitores da Academia. McGregor é dono de ao menos uma cena antológica (com a ajuda de um telefone celular) e Holland, com seu Lucas, ameaça roubar a cena sempre que aparece, demonstrando uma vasta gama de sentimentos que apenas atores veteranos conseguem com apenas um olhar. Juntos aos outros atores mirins que completam a família - e uma participação afetiva de Geraldine Chaplin em uma cena de extrema delicadeza em meio ao desespero - são eles que dão alma ao filme de Bayona, desde já um clássico moderno. Imperdível!

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