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O GRANDE HERÓI

O GRANDE HERÓI (Lone survivor, 2013, Film 44/Emmett/Furla Films, 121min) Direção: Peter Berg. Roteiro: Peter Berg, livro de Marcus Lutrell, Patrick Robinson. Fotografia: Tobias Schliesser. Montagem: Colby Parker Jr.. Música: Explosions in the Sky, Steve Jablonsky. Figurino: Amy Stofsky. Direção de arte/cenários: Tom Duffield/Ron Reiss. Produção executiva: Braden Aftergood, Brandt Andersen, Remington Chase, Grant Cramer, Mark Damon, Simon Fawcett, Kerry Foster, Louis G. Friedman, George Furla, Stepan Martirosyan, Jeff Rice, Steven Saxton, Lauren Selig, Adi Shankar, Jason Shuman, Spencer Silna, Tamara Birkemoe. Produção: Sarah Aubrey, Peter Berg, Randall Emmett, Akiva Goldsman, Vitaly Grigoriants, Norton Herrick, Stephen Levinson, Barry Spikings, Mark Wahlberg. Elenco: Mark Wahlberg, Taylor Kitsch, Emile Hirsch, Ben Foster, Eric Bana, Alexander Ludwig, Rich Ting, Yousuf Azami. Estreia: 12/11/13

2 indicações ao Oscar: Edição de Som, Mixagem de Som

Alguns reclamaram que se trata de mais uma obra que exalta o patriotismo americano - como se o louvado e superestimado "Sniper americano" fosse diferente ou ufanismo alterasse a qualidade de um filme em termos cinematográficos. Mas o fato é que "O grande herói", dirigido pelo ator/cineasta Peter Berg - que já havia demonstrado seu interesse por temas polêmicos em "O reino", de 2007 e comandou o mastodôntico fracasso "Battleship, a batalha dos mares" em 2012 - passa por cima de qualquer ideologia política para criar um poderoso drama de guerra que surpreendeu nas bilheterias americanas (tradicionalmente avesso a produções do gênero, salvo raras exceções) e caindo no gosto da crítica - foi eleito um dos dez melhores filmes de 2013 pela conceituada National Board of Review.

A encenação crua e realista de Berg de uma história real, ocorrida em 2005, durante a guerra no Afeganistão - e que já estava nos planos do diretor desde 2008, quando ele leu o livro que deu origem ao roteiro - remete às duras e violentas cenas de "Falcão negro em perigo", que deu a Ridley Scott uma indicação ao Oscar de diretor em 2002. Porém, enquanto Scott aproveitou a oportunidade para explorar seu virtuosismo técnico, sem focar-se a contento nos dramas de seus inúmeros personagens, Berg segue um caminho quase inverso. Sim, as cenas de conflito físico são dirigidas com segurança invejável e não poupam a audiência de sentir-se dentro da ação - para o que colabora também a maquiagem detalhista e a edição de som (que concorreu a uma merecida estatueta do Oscar) - mas o roteiro também se dá ao trabalho de dedicar boa parte de seu segundo ato ao desenvolvimento de seus protagonistas. Logicamente não há tempo para uma maior profundidade, mas contar com um elenco coadjuvante formado por Emile Hirsch, Eric Bana e Ben Foster (especialmente o último, em mais uma atuação estupenda) já é meio caminho andado para provocar a empatia essencial a uma história que, de outra maneira, seria apenas mais um filme de guerra a preencher as sessões noturnas da televisão.


Também favorável a "O grande herói" - que conta a história de um grupo de fuzileiros americanos que veem falhar sua missão de capturar um líder da Al Qaeda nas montanhas do Afeganistão e precisam lutar pela sobrevivência - é a presença de seu ator central, Mark Wahlberg. Surgido no mundo do entretenimento como modelo de cuecas Calvin Klein e posteriormente como o rapper Marky Mark, Wahlberg se reinventou como ator respeitado, presente em filmes prestigiados como "Boogie nights", "Três reis" e "Os infiltrados", de Martin Scorsese, pelo qual chegou a ser indicado ao Oscar. Na pele de Marcus Luttrell - que lidera a missão e acaba encontrando a salvação onde menos poderia esperar (com a ajuda do grande herói do título nacional) - o ator mostra que sabe escolher boa parte dos projetos dos quais participa (deixemos de lado bobagens como "Sem dor, sem ganho") e se manter sempre em evidência na fugaz fogueira das vaidades hollywoodianas com filmes de visibilidade e qualidade dramática.

Uma das boas surpresas de sua temporada, "O grande herói" ganha o público logo nos créditos de abertura - em cenas que mostram o rígido treinamento dos fuzileiros - e mantém sua atenção durante duas horas de adrenalina nas alturas, que se encerram com uma melancólica versão da clássica "Heroes", de David Bowie, na voz de Peter Gabriel. Escapando com inteligência de ser apenas mais uma obra de patriotismo exarcebado para tornar-se um drama de guerra da melhor estirpe, é também um trabalho impecável de edição, fotografia e técnica. Enfim, um filme imperdível.

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