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DUNKIRK

DUNKIRK (Dunkirk, 2017, Warner Bros, 106min) Direção e roteiro: Christopher Nolan. Fotografia: Hoyte Van Hoytema. Montagem: Lee Smith. Música: Hans Zimmer. Figurino: Jeffrey Kurland. Direção de arte/cenários: Nathan Crowley/Emmanuel Delis. Produção executiva: Jake Myers. Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas. Elenco: Tom Hardy, Mark Rylance, Kenneth Branagh, Cillian Murphy, James D'Arcy, Barry Keoghan, Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, Harry Stiles. Estreia: 13/7/17

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Christopher Nolan), Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som, Direção de Arte/Cenários
Vencedor de 3 Oscar: Montagem, Edição de Som, Mixagem de Som 

Quando chamou a atenção do público pela primeira vez, ele lançou "Amnésia" (2001), que se tornou um dos maiores sucessos do cinema independente da década. Quando quis fazer um filme de super-herói, assinou a trilogia "O Cavaleiro das Trevas", que rendeu milhares de dólares e elevou o patamar dos filmes baseados em quadrinhos. Quando brincou de ficção científica, arrasou com "A origem" (2010) e "Interestelar" (2014), dois filmes muito acima da média do cinema mainstream feito em Hollywood. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando Christopher Nolan anunciou que faria um filme sobre um dos episódios mais famosos da II Guerra Mundial e chegou com "Dunkirk": realizado com estimados 100 milhões de dólares (um custo razoável para uma produção de grande porte) e sem nenhum astro de primeira grandeza para garantir o retorno do investimento, o filme de Nolan tornou-se mais um fenômeno em sua carreira, ultrapassando a marca dos 500 milhões de dólares em arrecadação mundial - e, de quebra, arrebatou oito indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e direção. Foi a consagração definitiva de uma obra que dosa, com habilidade de mestre, arte e entretenimento, diversão e inteligência, emoção com técnica. Lançado em pleno verão americano - período em que o público notoriamente prefere produções menos sérias e mais populares -, "Dunkirk" mostrou que, às vezes, não subestimar o cérebro da plateia pode dar muito certo.

Fugindo do tradicional formato narrativo, que acompanha um protagonista através de uma trajetória na qual se identificam claramente princípio, meio e fim, o roteiro de Nolan abraça uma outra forma de contar sua história - e que exige muito mais de sua plateia do que simplesmente sentar diante da tela e seguir uma trama. Estruturando o filme em três frentes distintas - ar, mar e terra - e dividindo seu enredo em personagens e tempos diferentes, "Dunkirk" é uma viagem sem trégua, um mergulho radical na sensação mais absoluta de estar em uma guerra. Se em "O resgate do soldado Ryan" (1998) o diretor Steven Spielberg jogava o espectador no meio do desembarque na Normandia (o famoso Dia D) sem maiores preliminares, em seu filme Nolan parece querer expandir ainda mais a experiência, atingindo níveis brutais de realismo, sublinhado pelo formato 70mm (raramente utilizado desde o surgimento de câmeras digitais), pela forte trilha sonora de Hans Zimmer e pelo desenho de som, que intercala momentos milimetricamente concebidos para causar impacto com outros de um silêncio avassalador. Tecnicamente impecável - saiu vitorioso da festa do Oscar nas categorias de edição, edição de som e mixagem de som, estatuetas merecidíssimas - e apresentado sem apelos emocionais, "Dunkirk" é um filme de guerra à moda antiga, mas realizado com todos os recursos que um orçamento generoso e efeitos de última geração podem comprar.



Ainda que não seja mandatório, é bom que se saiba um mínimo de História - mais especificamente sobre a II Guerra Mundial - para melhor se deixar seduzir pela trama de Nolan. O roteiro trata da retirada estratégica (para uns considerada derrota, para outros uma vitória moral) dos exércitos britânico e francês da cidade de Dunkirk, como forma de escapar dos cada vez maiores e mais frequentes ataques alemães, em 1940. A única saída disponível para o soldados era pelo mar, e, em situação de total desvantagem, os ingleses apelaram até mesmo para embarcações civis que pudessem colaborar na evacuação de centenas de homens. É nesse ponto que a trama se concentra em Dawson (Mark Rylance), que, contrariando as ordens superiores, resolve ele mesmo comandar seu barco, ao lado do filho adolescente, Peter (Tom Glyne-Carney), e do amigo deste, George (Barry Keoghan). No trajeto em direção à praia, eles resgatam um misterioso e traumatizado soldado (Cillian Murphy) que entra em pânico ao descobrir que a embarcação está se dirigindo justamente de onde ele fugiu. E se no mar os problemas são uns, por terra eles também não são poucos. Tentando salvar-se de uma morte certa e juntar-se aos demais soldados que aguardam ajuda, o jovem Tommy (Fionn Whitehead) une-se a outros dois colegas, Gisbson (Aneurin Barnard) e Alex (Harry Stiles), e os três passam por uma série de dificuldades inesperadas, que surgem sempre que eles acreditam estar a salvo - e sob a proteção do Comandante Bolton (Kenneth Branagh).

E por fim, também no ar as coisas estão complicadas: depois de perder seu líder, abatido por aviões inimigos, os pilotos Farrier (Tom Hardy) e Collins (Jack Lowden) enfrentam sérios problemas em defender seus aliados - e desviar de um destino semelhante a seu superior. Quando o avião de Collins cai no mar, ele acaba se tornando parte ainda maior do problema - e o ponto de intersecção entre as três linhas narrativas criadas pelo cineasta. Confiando plenamente no material que tem em mãos, Christopher Nolan apresenta ao público um espetáculo de violência sem que, para isso, seja necessário explicitá-la com vísceras e sangue em excesso. É um filme de imersão, no qual a plateia simplesmente embarca, como em uma montanha-russa das mais emocionantes. Talvez seu único defeito seja justamente optar por um viés menos pessoal e mais amplo do evento - o que diminui o impacto humano que um filme de guerra normalmente abraça e sublinha o barulho, o visual (graças à bela fotografia de Hoyte Van Hoytema) e a falta de noção temporal que um conflito provoca. Nesse ponto, é uma obra-prima incontestável que confirma (mais uma vez) o talento absurdo de seu criador.

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