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MINHA ESPOSA FAVORITA

MINHA ESPOSA FAVORITA (My favorite wife, 1940, RKO Radio Pictures, 88min) Direção: Garson Kanin. Roteiro: Bella Spewack, Sam Spewack, estória original de Bella Spewack, Sam Spewack, Leo McCarey. Fotografia: Rudolph Maté. Montagem: Robert Wise. Música: Roy Webb. Figurino: Howard Greer. Direção de arte/cenários: Van Nest Polglase/Darrell Silvera. Produção: Leo McCarey. Elenco: Cary Grant, Irene Dunne, Randolph Scott, Gail Patrick, Ann Shoemaker. Estreia: 02/5/40

3 indicações ao Oscar: Roteiro Original, Trilha Sonora, Montagem

Quando morreu precocemente, em agosto de 1962, a atriz Marilyn Monroe estava no meio das filmagens de "Something's got to give", uma comédia romântica que, logicamente, teve sua produção cancelada após a tragédia - até que, no ano seguinte, fosse rebatizada e, estrelada por Doris Day, chegasse aos cinemas com o título de "Eu, ela e a outra". Em determinada cena do filme - dirigido por Michael Gordon e co-estrelado por James Garner -, sua protagonista descreve a história de um clássico dos anos 40 chamado "Minha esposa favorita". O que poderia ser apenas uma pequena homenagem carinhosa é, na verdade, uma brincadeira dos roteiristas, já que é óbvio para qualquer espectador fã de Cary Grant que não é apenas a citação que remete à comédia romântica, produzida por Leo McCarey: "Eu, ela e a outra" é um remake pouco disfarçado de "Minha esposa favorita", de quem pega emprestado a trama e alguns diálogos literais. Se poucos lembram da produção de 1963, porém, o mesmo não pode ser dito do original: sucesso de bilheteria e crítica, o filme recebeu três indicações ao Oscar (incluindo melhor roteiro) e marcou a segunda colaboração entre Grant e Irene Dunne, um dos casais mais populares da época. Não é de estranhar: divertido e romântico na medida certa, é um passatempo adorável, que resiste ao tempo principalmente graças à química do casal central.

Na verdade, "Minha esposa favorita" deveria reunir não apenas Grant e Dunne, mas também o diretor Leo McCarey, que havia ganho o Oscar pelo filme anterior da dupla, "Cupido é moleque teimoso" (1937). Um violento acidente de carro, porém, tirou McCarey de jogada, para desespero do estúdio e do elenco, já pronto para começar as filmagens. Substituído por Garson Kanin - diretor e roteirista pouco conhecido do grande público -, McCarey permaneceu com o crédito de produtor, mas sem seu toque especial, repleto de sutilezas e um fino humor visual, o filme deixa de ser mais uma pequena obra-prima para ser apenas uma boa e competente comédia romântica, com sequências bastante interessantes dividindo espaço com momentos nem tão inspirados assim. Segundo consta, o grave estado de saúde de McCarey foi de extrema responsabilidade no resultado final: com notícias nada boas chegando a cada dia, o elenco e a equipe precisaram ir além de seu talento natural para manter o clima de alto astral, imprescindível para o sucesso de uma comédia. No final das contas, no entanto, tudo deu mais do que certo: McCarey se recuperou a tempo de realizar grandes sucessos de crítica ("O bom pastor", de 1943, lhe rendeu um segundo Oscar) e "Minha esposa favorita" superou os percalços para se tornar um clássico.





A trama é, por si só, digna das melhores comédias: viúvo há sete anos, desde que sua esposa morreu em um acidente de avião, Nick Arden (Cary Grant) finalmente recebe a oficialização de seu novo estado civil e, para celebrar, já engata novo casamento, dessa vez com Bianca Bates (Gail Patrick). Por uma nefasta coincidência, porém, sua primeira mulher, Ellen Wagstaff (Irene Dunne), como por mágica, reaparece, alegando ter passado os últimos anos presa em uma ilha deserta. Sem saber o que fazer para resolver a situação, Nick esconde o fato de Bianca e tenta lidar com o sentimento que ainda nutre por Ellen - especialmente quando descobre que, durante seu período de "férias", ela teve a companhia do charmoso Stephen Burkett (Randolph Scott), que não parece disposto a abrir mão de sua parceira de aventuras. Nesse meio-tempo, até mesmo o gerente do hotel onde Nick se hospeda com suas duas mulheres se vê envolvido em uma série de mal-entendidos e pequenas trapaças.


O roteiro de Bella e Sam Spewack é pródigo em criar situações hilariantes, que permitem ao elenco demonstrações de um timing preciso - especialmente quando se trata de Cary Grant e Irene Dunne, que deitam e rolam mesmo quando a trama soa um tanto inverossímil. Randolph Scott - que, segundo dizem, foi amante de Grant por mais de uma década - surge em cena como um rival sedutor e atraente, o que dá origem a algumas das melhores cenas do filme. Irene Dunne brinca com uma personagem que foge ao estereótipo da mulher ingênua ou passiva e Cary Grant esbanja carisma ao viver um galã mais atrapalhado do que romântico - que não consegue esconder o ciúme que sente da mulher ressuscitada e ao menos tempo não sabe o que fazer com a nova esposa. Juntos em cena, Grant e Dunne são uma delícia e fazem valer cada minuto. Podem não fazer do filme algo inesquecível, mas poucos casais da era de ouro de Hollywood funcionavam com tanta sintonia.

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