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O AMANHÃ É ETERNO

O AMANHÃ É ETERNO (Tomorrow is forever, 1946, International Pictures, 104min) Direção: Irving Pichel. Roteiro: Lenore Coffe, estória de Gwen Bristow. Fotografia: Joe Valentine. Montagem: Ernest Nims. Música: Max Steiner. Figurino: Jean Louis. Direção de arte: Wiard B. Ihnen. Produção: David Lewis. Elenco: Orson Welles, Claudette Colbert, George Brent, Lucile Watson, Richard Long, Natalie Wood. Estreia: 18/01/46

Em 1946, Orson Welles já não era mais considerado apenas o gênio precoce por trás do revolucionário "Cidadão Kane" (1941): seu filme seguinte, "Soberba" (1942), havia sido mutilado pela RKO, com medo de um novo fracasso de bilheteria, e o ambicioso documentário "It's all true" (com cenas filmadas no Brasil) nem chegou a ser completado. Foi, então, sem maiores expectativas, que ele estrelou "O amanhã é eterno", um melodrama com enredo de telenovela e produção caprichada que tem em sua presença um dos principais atrativos. Na pele de um herói romântico e desprendido, ele mostra que, além de cineasta de imenso talento, também era um intérprete poderoso, capaz de agigantar um filme sem grandes pretensões artísticas. Ao lado da sempre ótima Claudette Colbert e uma estreante Natalie Wood (ainda criança), Welles faz do filme de Irving Pichel uma história de amor tocante e ainda com ecos da recém terminada II Guerra Mundial.

A trama, roteirizada por Lenore Coffe (indicada ao Oscar por "Quatro filhas", de 1938), começa com o final da I Guerra Mundial, comemorado principalmente pela jovem Elizabeth (Claudette Colbert), que finalmente irá reencontrar o marido, John Andrew McDonald (Orson Welles). Sua felicidade, porém, acaba quando ela recebe a notícia de sua morte em combate. Ao desespero de saber-se viúva do grande amor de sua vida junta-se a descoberta de uma gravidez. As coisas só não ficam piores porque seu chefe, Lawrence Hamilton (George Brent), resolve ajudá-la a se recuperar, com a ajuda de sua tia, Jessica (Lucile Watson): apaixonado por Elizabeth, o rapaz lhe propõe casamento e insiste em adotar seu bebê - batizado com o nome do verdadeiro pai. Sem muitas opções, a jovem aceita ambos os pedidos, e juntos, o casal tem mais um filho, algum tempo depois. Vinte anos se passam. Os EUA estão em vias de entrar em outra guerra, para angústia de Elizabeth - que vê seu filho mais velho, Drew (Richard Long), interessado em alistar-se nas tropas do país. É então que o novo químico contratado pela empresa de Lawrence é apresentado à família, junto com sua pequena filha adotiva, Margaret (Natalie Wood). O dr. Erik Kessler, na verdade, é John Andrew, que não morreu, mas, desfigurado por uma explosão, decidiu ficar longe da mulher que amava - e, depois de uma cirurgia plástica inovadora, se reinventou com nova identidade.


Logo que chega à casa de seu novo chefe, Andrew/Kessler reconhece Elizabeth, mas ela não é capaz do mesmo. Se aproximando aos poucos da família, ele constata que Drew é seu filho - e que ainda é apaixonado pela mulher da qual se afastou. Mas a iminência do aniversário de 21 anos do rapaz (data que lhe permitirá tomar suas decisões sem precisar da autorização dos pais) acelera as decisões que o antigo soldado precisa tomar. Afinal, ele precisa revelar sua real identidade? Ou é melhor manter tudo como está, sob pena de desestruturar a vida de uma família? Essas questões, típicas de melodrama, são conduzidas com sutileza pelo diretor, que faz uso da bela fotografia em preto-e-branco e da música de Max Steiner para enfatizar o clima dramático do roteiro. Claudette Colbert, do alto de sua elegância, faz o contraponto exato à aura de abnegação do personagem de Welles - um homem misterioso e atormentado por um passado que precisa esconder a qualquer preço. Por fim, há a pequena Natalie Wood, então com apenas oito anos de idade e dotada de um carisma e um talento que, alguns anos mais tarde, a colocariam em destaque no cenário hollywoodiano.

"O amanhã é eterno" é um filme pouco lembrado quando se fala da carreira de Orson Welles - e da própria história do cinema norte-americano. Não ganhou Oscar, não faz parte de nenhuma lista dos melhores filmes de todos os tempos e tampouco é muito conhecido até mesmo pelos maiores fãs da era de ouro de Hollywood. Mas é uma produção sincera, comovente e honesta em suas emoções e objetivos. É uma bela e triste história de amor e abnegação, com a guerra como pano de fundo e um elenco acima de qualquer suspeita. Para ser descoberto

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