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O FANTASMA APAIXONADO

O FANTASMA APAIXONADO (The ghost and Mrs. Muir, 1947, 20th Century Fox, 104min) Direção: Joseph L. Mankiewicz. Roteiro: Philip Dunne, romance de R. A. Dick. Fotografia: Charles Lang Jr.. Montagem: Dorothy Spencer. Música: Bernard Herrmann. Figurino: Eleanor Behm. Direção de arte/cenários: George Davis, Richard Day/Thomas Little, Stewart Reiss. Produção: Fred Kohlmar. Elenco: Gene Tierney, Rex Harrison, George Sanders, Edna Best, Isobel Elsom, Victoria Horne, Natalie Wood, Vanessa Brown. Estreia: 25/5/47 (Londres)

Indicado ao Oscar de Fotografia em preto-e-branco

Pode parecer estranho que o mesmo homem que dirigiu o malfadado épico "Cleópatra" (1963), o denso "De repente, no último verão" (1959), o saudosista "A condessa descalça" (1954) e o ácido "A malvada" (1950) possa ser o responsável por "O fantasma apaixonado", lançado em 1947 (antes, portanto, de sua consagração como cineasta): não que o filme, baseado no romance de R. A. Dick, seja ruim ou sequer medíocre, mas o fato é que, comparado com a filmografia posterior de Joseph L. Mankiewicz, soa como uma amostra de que, por trás de todo o cinismo do diretor, havia resquícios de humanismo e romantismo (ainda que disfarçado no tom sardônico de alguns diálogos). Grande sucesso de bilheteria, "O fantasma apaixonado" é um romance atípico, que abre mão do piegas para apostar no bom-humor - apoiado na atuação exemplar de Rex Harrison e na beleza de Gene Tierney, que deixa de lado a sensualidade perigosa da personagem-título de "Laura" (46) para viver uma mulher bem mais próxima da plateia.

A trama começa em 1900, quando a jovem viúva Lucy Muir (Gene Tierney em uma atuação discreta mais muito eficiente) decide que, passado um ano desde a morte do marido, é hora de buscar a independência - o que significa sair da casa onde mora com a sogra e a cunhada, ambas mulheres controladoras e manipuladoras. Mesmo contra a vontade delas, Lucy vai em busca de um novo começo e, com a filha pequena, Anna (Natalie Wood), e a fiel governanta, Martha (Edna Best), abandona Londres e vai morar em uma pequena cidade litorânea. Lá, ela se encanta por uma propriedade há muito desabitada - e descobre, logo depois de ser desencorajada pelo corretor de imóveis, que há um motivo muito forte para tamanho abandono. Segunda uma lenda local, o dono da casa, o Capitão Daniel Gregg (Rex Harrison), cometeu suicídio em um dos quartos, e seu espírito se recusa a ir embora. A princípio totalmente cética a respeito, Lucy acaba se surpreendendo quando, em um de seus primeiros dias na nova habitação, dá de cara com o fantasma do charmoso marinheiro, que tenta assustá-la e, como já fez com outros moradores, expulsá-la. As coisas, porém, não saem como esperava o velho lobo do mar.


Contrariando completamente as expectativas do Capitão Gregg, a decidida Lucy não se deixa apavorar com a visão do ectoplasma, e, depois de algum tempo de negociações, os dois se decidem pela convivência pacífica. Com a condição de não aparecer para a pequena Anna, o capitão aceita a presença da nova família em sua propriedade, e uma amizade inusitada surge entre os dois - que, apesar de suas diferenças, descobrem uma afinidade que preenche o vazio de seus dias. É por causa de Lucy (e através dela) que Gregg resolve finalmente escrever o livro de suas memórias - uma obra que também será a responsável pelo encontro de Lucy com Miles Fairley (George Sanders), um escritor de livros infantis que, encantado pela bela viúva, ameaça seriamente o equilíbrio de sua relação com o fantasma, que repentinamente descobre dois novos sentimentos: o amor e o ciúme. Caberá então à Lucy encontrar um meio de lidar com esse triângulo amoroso pouco comum.

Divertido em alguns momentos, românticos em outros e inteligente em todos, "O fantasma apaixonado" acerta em não se levar demasiadamente a sério. Mesmo que Gene Tierney e Rex Harrison estejam longe de fazer comédia fácil, sua química funciona perfeitamente graças ao roteiro ágil e à direção sensível de Mankiewicz, que imprime ao filme um tom leve mas nunca simplório ou açucarado em excesso. Equilibrando tanto a comédia quanto o drama e o romance, o filme se desenrola diante do espectador com fluidez e uma simpatia única. Grande sucesso de bilheteria em 1947, o filme pode não ser tão lembrado quanto os maiores sucessos de seu diretor, mas é suficientemente importante a ponto de um remake ter sido considerado, no começo dos anos 1990, com Michelle Pfeiffer e Sean Connery nos papéis principais: o projeto não foi adiante por causa do fracasso comercial de outra produção estrelada pela dupla ("A casa da Rússia", baseado em romance de John LeCarré), mas é sintomático que, dentre tantos filmes tão ou mais afamados, ele tenha sido cogitado para voltar às telas. Agradável e charmoso, "O fantasma apaixonado" merece ser redescoberto como uma pequena pérola do gênero.

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