segunda-feira

PRECIPÍCIOS D'ALMA

PRECIPÍCIOS D'ALMA (Sudden fear, 1952, Joseph Kaufman Productions, 110min) Direção: David Miller. Roteiro: Lenore Coffee, Robert Smith, estória de Edna Sherry. Fotografia: Charles Lang. Montagem: Leon Barsha. Música: Elmer Bernstein. Direção de arte/cenários: Boris Leven/Edward G. Boyle. Produção executiva: Joan Crawford. Produção: Joseph Kaufman. Elenco: Joan Crawford, Jack Palance, Gloria Grahame, Bruce Bennett, Virginia Hudson. Estreia: 07/8/52

4 indicações ao Oscar: Atriz (Joan Crawford), Ator Coadjuvante (Jack Palance), Fotografia em preto-e-branco, Figurino em preto-e-branco

A velha Hollywood dos grandes estúdios estava em seus estertores na década de 1950, quando os grandes astros e estrelas de cinema já não mais mantinham longos contratos e precisavam batalhar para a manutenção de seus status junto ao público. Foi uma época, antes que os anos 1960 chegassem - e com eles uma nova forma de ver e fazer filmes - , em que nomes da era de ouro do cinema norte-americano partiam em busca de novas soluções para continuarem relevantes junto a uma plateia cada vez mais jovem e menos afeita ao estilo que vinha sendo imposto durante anos. A forma encontrada por Joan Crawford, por exemplo, foi certeira: sem contrato na Warner e mais de cinco anos depois de seu último sucesso ("Alma em suplício", de 1945, que lhe rendeu um Oscar), Crawford admitiu que era hora de tomar as rédeas de sua carreira e começar a agir também por trás das câmeras. Colocou, então, as mãos na massa e surgiu mais um êxito comercial em sua vitoriosa trajetória: "Precipícios d'alma" não só foi um sucesso de bilheteria como lhe rendeu uma terceira indicação à estatueta da Academia - contra sua arqui-rival Bette Davis.

Responsável por boa parte das escolhas artísticas do filme, Crawford cercou-se de gente talentosa - o diretor de fotografia Charles Lang, o músico Elmer Bernstein, a corroteirista Lenora Coffee e os principais nomes do elenco - e escolheu um material perfeito para sua imagem e alcance dramático. Só não conseguiu convencer os dois primeiros atores a quem ofereceu o protagonista masculino do filme: nem Clark Gable nem Marlon Brando aceitaram a proposta, e quem ficou com o papel foi o quase desconhecido Jack Palance, que, no ano seguinte, encarnaria o vilão do antológico "Os brutos também amam". Mesmo de dona da situação, Crawford não conseguiu evitar, porém, um clima tenso nos bastidores - principalmente porque ele era causado por ela mesma e Gloria Grahame, que deixavam claro para todos que não gostavam uma da outra. A situação só não partiu para a agressão física propriamente dita porque o restante da equipe interviu antes que fosse tarde demais.

Apesar do título nacional - "Precipícios d'alma" - soar como um infame melodrama, o filme do pouco conhecido David Miller (também escolha de Crawford) está muito mais para um filme de suspense psicológico do que para uma romântica história de amor. Os quinze minutos inicias até dão essa impressão: Crawfor interpreta Myra Hudson, uma bem-sucedida dramaturga que desperta, logo de cara, a ira do ator Leslie Blaine (Jack Palance) ao recusá-lo para um papel em sua nova peça de teatro. Sem concordar com o que Myra alega - que ele não é capaz de transmitir paixão em seu desempenho -, Blaine resolve convencê-la do contrário: durante uma viagem de trem, acaba por seduzí-la, e o romance nascente entre os dois lhe dá a oportunidade de conhecer um lado luxuoso da vida. Tudo parece correr bem até, que, de repente, entra em cena a bela Irene Neves (Gloria Grahame), parte do passado de Blaine, que parece disposta a retomar seu lugar na sua vida.

A mudança de tom bem antes da metade do filme não é um empecilho para que "Precipícios d'alma" envolva a plateia, muito pelo contrário: quando as reais intenções de Blaine ficam claras para o espectador, o filme de Miller ganha força e possibilita uma interpretação intensa à Crawford. Sua personagem, que começa forte e dona de grande personalidade, transforma-se gradualmente em uma mulher romântica... para depois ressuscitar sua antiga força para dar o troco em quem merece. O ato final é quase sem diálogos, em um incrível trabalho de direção e montagem, que permite ao espectador mergulhar aflito enquanto espera o desenlace de uma situação, um desfecho tenso e magistralmente dirigido e interpretado. Indicado ainda aos Oscar de ator coadjuvante (Jack Palance), fotografia e figurino (ambas na subcategoria de filmes em preto-e-branco), "Precipícios d'alma" pode não ser um filme dos mais lembrados de Joan Crawford - ao menos não no nível de "Alma em suplício", que lhe rendeu um Oscar, ou "O que terá acontecido a Baby Jane?", que a colocou ao lado de Bette Davis em um confronto épico - mas envolve o espectador e mantém o interesse até os minutos finais. E, afinal de contas, não é isso que conta quando se fala em entretenimento?

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