sexta-feira

TARA MALDITA

TARA MALDITA (The bad seed, 1956, Warner Bros, 129min) Direção: Mervyn LeRoy. Roteiro: John Lee Mahin, livro de William March, peça teatral de Maxwell Anderson. Fotografia: Hal Rosson. Montagem: Warren Low. Música: Alex North. Figurino: Moss Mabry. Direção de arte/cenários: John Beckman/Ralph Hurst. Produção: Mervyn LeRoy. Elenco: Nancy Kelly, Patty McCormack, Henry Jones, Eileen Heckart, Evelyn Varden, William Hopper, Paul Fix, Gage Clark, Frank Cady. Estreia: 12/9/56

4 indicações ao Oscar: Atriz (Nancy Kelly), Atriz Coadjuvante (Patty McCormack/Eilleen Heckart), Fotografia em preto-e-branco
Vencedor do Golden Globe de Atriz  Coadjuvante (Eileen Heckart)

Transferir uma peça de teatro para um filme hollywoodiano pode ser uma tarefa inglória. Muitas vezes os roteiristas e cineastas não conseguem escapar do formato de teatro filmado - o que compromete o ritmo e testa a paciência do espectador mais afeito à ação do que a diálogos. Quando o filme de suspense, então, o desafio é ainda maior: como conquistar os fãs do gênero em um roteiro em que a palavra assume tanta importância quanto a imagem? Alfred Hitchcock sabia como equilibrar as duas vertentes - e não à toa, foi cogitado para dirigir "Tara maldita", adaptação de uma bem-sucedida peça de teatro (por sua vez adaptada de um romance). O mestre do suspense acabou por recusar a missão, que caiu nas mãos do versátil Mervyn LeRoy, que acertou em cheio ao levar boa parte do elenco original do palco para as telas: mesmo que o roteiro de John Lee Mahin não consiga disfarçar sua origem (e talvez realmente não o queira), a direção competente de LeRoy e a segurança de seus atores (já acostumados com seus papéis) fazem da adaptação um sucesso inquestionável, a ponto de três de suas atrizes terem recebido indicações ao Oscar.


Antes que Nancy Kelly voltasse ao cinema depois de dez anos dedicados ao teatro - para onde retornou depois das filmagens, dividindo seu tempo com produções televisivas -, a excepcional Bette Davis quase ficou com seu papel. Quando o projeto estava nas mãos do ator e diretor Paul Henreid (O marido de Ingrid Bergman em "Casablanca", de 1941), a personagem principal seria interpretada por Davis, o que só não aconteceu porque Henreid não conseguiu comprar os direitos de adaptação. Antes que o estúdio decidisse manter Kelly no elenco, até mesmo Rosalind Russell foi cogitada - mas parece que o papel de Christine Penmark já estava destinado à sua intérprete no teatro. Foi uma escolha acertada - apesar de não ser um nome capaz de lotar as salas e manter no cinema seus cacoetes teatrais. Isso não impediu, no entanto, de ser indicada ao Oscar de melhor atriz - perdeu a estatueta para Ingrid Bergman em seu retorno à Hollywood, em "Anastasia: a princesa esquecida".



A trama de "Tara maldita" - um nome em português que talvez passe uma ideia errada a seu respeito - começa quando a dedicada dona-de-casa Christine Penmark (Nancy Kelly) se despede do amoroso marido, o Coronel Kenneth Penmark, transferido para Washington. Com a ausência do marido, Christine se vê com a responsabilidade de cuidar sozinha da filha do casal, Rhoda (Patty McCormack), uma adorável menina de oito anos de idade que aparenta ser perfeita em tudo. Só quem não acredita totalmente na inocência de Rhoda é o jardineiro Leroy, que frequentemente bate de frente com a garota. Christine tem grande orgulho da filha, mas repentinamente se vê diante de um dilema: em um piquenique escolar, um dos colegas de Rhoda morre afogado - e seria coincidência que Rhoda não apenas tenha brigado com o garoto por ele ter ganho um prêmio que ela achava merecer, mas também por ter sido a última pessoa a vê-lo vivo? A diretora da escola, Claudia Fern parece ter dúvidas a respeito da inocência da angelical aluna - e quando a mãe do garoto morto, Hortense (Eileen Eckhart), começa a pressionar mãe e filha para saber o que realmente aconteceu no momento da tragédia, Christine não tem outra alternativa senão tentar juntar as peças e inocentar (ou não) sua única filha.


Apostando no clima de mistério e no poder de seu elenco, Mervyn LeRoy constrói uma trama absorvente, que prende o espectador até o minuto final. A pequena Patty McCormack - que tinha dez anos de idade à época das filmagens - é particularmente competente, a ponto de ter indicada ao Oscar de coadjuvante por sua personagem repleta de dubiedade. Da mesma forma, Eileen Eckhart se destaca, com apenas duas pequenas cenas na pele da mãe do menino morto - não só também concorreu ao Oscar como levou um Golden Globe. Em alguns momentos a origem teatral de "Tara maldita" fica bem clara, mas não a ponto de truncar a narrativa ou aborrecer ao público. O final - um dos três escritos e mantidos em segredo até as filmagens - pode soar um pouco abrupto, mas felizmente não suaviza a trama para buscar um final feliz. Quem gosta de um bom filme de suspense, que privilegia a inteligência e não a violência gratuita precisa assistir a "Tara maldita". É, com certeza, um dos clássicos escondidos.

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