BAR
DOCE LAR (The tender bar, 2021, Amazon Studios, 106min) Direção: George
Clooney. Roteiro: William Monahan, livro de J.R. Moehringer.
Fotografia: Martin Ruhe. Montagem: Tanya M. Swerling. Música: Dara
Taylor. Figurino: Jenny Eagan. Direção de arte/cenários: Kalina
Ivanov/Melissa M. Levander. Produção executiva: Barbara A. Hall, Ibrahim
Hamdan, J. R. Moehringer. Produção: George Clooney, Grant Heslov, Ted
Hope. Elenco: Tye Sheridan, Ben Affleck, Lily Rabe, Christopher Lloyd,
Daniel Ranieri, Briana Middleton. Estreia: 10/10/2021 (BFI London
Festival)
Não deixa de ser triste perceber que George Clooney, anteriormente conhecido por escolher projetos de interesses político e social para sua carreira como cineasta, tenha entrado em um período pouco relevante. Filmes como "Confissões de uma mente perigosa" (2002), "Boa noite, e boa sorte" (2005) e "Tudo pelo poder" (2011) parecem ter ficado para trás, diante de produções esquecíveis ou simplesmente medíocres, como "Caçadores de obras-primas" (2014) e "Suburbicon: bem-vindos ao paraíso" (2017). Infelizmente seu projeto mais recente, "Bar doce lar", volta a não entusiasmar, apesar de algumas qualidades perceptíveis. Baseado em um livro de memórias de J.R. Moehringer, o filme é apenas mais uma história pouco original de amadurecimento, prejudicada por personagens pouco interessantes e por um roteiro irritantemente convencional - uma surpresa quando se sabe que seu autor é William Monahan, vencedor do Oscar por "Os infiltrados" (2006), uma obra-prima de estrutura e concisão.
O filme de Clooney conta a história de J.R., desde sua infância (quando é interpretado pelo encantador Daniel Ranieri) até a juventude (quando passa a ser vivido pelo promissor Tye Sheridan). Filho de uma batalhadora mãe solteira (Lily Rabe) e um pai radialista que só dá as caras esporadicamente e não faz a menor questão de um relacionamento mais profundo com ele, o menino não demora a estabelecer um vínculo emocional com o tio, Charlie (Ben Affleck), dono de um bar que assume, sem hesitar, a figura paterna para o sobrinho. É com Charlie que o pequeno J.R. aprende valores, dicas de sobrevivência emocional, macetes sociais e é a partir de suas conversas que surge nele o amor pelos livros e o desejo de tornar-se escritor. Sobrevivendo em meio a um quase caos - a casa do avô é frequentemente povoada por inúmeros tios e primos barulhentos -, J.R. cresce e, em busca de realizar seu sonho de escrever - e o de sua mãe, de que ele faça uma faculdade -, descobre um mundo que nem sempre é hospitaleiro e gentil. Apaixonado por uma colega, Sidney (Briana Middleton), ele entra também no mundo dos amores complicados.
Sem apresentar nada do que já tenha sido visto em vários outros filmes do gênero, "Bar doce lar" peca por sua narrativa morna e sem grandes momentos memoráveis. A cada cena um pouco mais interessante - o avô do menino salvando a comemoração de Dia dos Pais na escola do neto, o confronto de J.R. com os esnobes pais de Sidney, a melancólica espera do menino por um pai que nunca chega para levá-lo a um jogo - segue-se inúmeras outras repetitivas e que não despertam no espectador nada além de uma sensação de dèjà-vu constante. Para isso contribui muito o fato de que a história de Moheringer não é, a rigor, nem um pouco empolgante, e seu personagem principal tampouco cativa por uma personalidade marcante, apresentando, na maior parte do tempo, uma passividade que torna quase impossível ao público importar-se de verdade com seu destino. Nem mesmo o talento do jovem Tye Sheridan consegue dar profundidade suficiente para disfarçar a fragilidade da estrutura do roteiro de Monahan e a direção mecânica de Clooney. Quem de certa forma se destaca é Ben Affleck, que mesmo sem apresentar nada de novo em sua atuação, recebeu indicações ao Golden Globe e ao SAG Awards na categoria de ator coadjuvante - apesar de ser o primeiro nome nos créditos.
Dizer
que "Bar doce lar" é um filme ruim é exagerar, já que tem uma produção
cuidadosa, uma trilha sonora deliciosa e um elenco que se esforça ao
máximo para extrair o melhor de cada momento. Porém, com o currículo
acumulado por George Clooney atrás das câmeras, era de se esperar algo
menos óbvio e tão pouco ambicioso. Falta de ambição nem sempre é defeito
- muitas vezes, inclusive, pode ser uma grande qualidade -, mas dessa
vez tal característica deixa no ar a sensação de oportunidade perdida: o
cineasta poderia ter assinado uma produção emocional e nostálgica mas
ficou muito aquém de suas expectativas. O resultado é uma produção
correta mas passa longe de atingir o mesmo nível dos melhores filmes do
diretor. Uma pena!
Nenhum comentário:
Postar um comentário