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EM BUSCA DO OURO

 


EM BUSCA DO OURO (The gold rush, 1925, Charles Chaplin Productions, 83min) Direção, roteiro, montagem, música e produção: Charles Chaplin. Fotografia: Roland Thoteroh. Música: Max Terr. Direção de arte: Charles D. Hall. Elenco: Charlie Chaplin, Mack Swain, Tom Murray, Georgia Hale, Henry Bergman, Malcolm Waite. Estreia: 26/6/1925

2 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original, Som

Quinto filme mudo de maior bilheteria da história, "Em busca do ouro" é, em opinião compartilhada por público e crítica, um dos mais completos trabalhos de Charles Chaplin. Relançado em 1942 com uma trilha sonora nova e uma narração em off substituindo os cartões com legendas, concorreu ao Oscar em duas categorias (música original e som) e reafirmou sua posição como uma obra-prima de seu criador, já então consagrado como um dos maiores astros do cinema. Inspirado por um fato histórico - as dificuldades enfrentadas por garimpeiros na corrida do ouro no Alaska e no Klondike no final do século XIX - e ciente de que poderia extrair humor mesmo de situações trágicas, o cineasta criou uma sucessão de sequências brilhantes que entraram de imediato no inconsciente coletivo de gerações e mais gerações. Realizado com o perfeccionismo típico do cineasta, com locações nas geleiras de Serra Nevada, centenas de figurantes (reais garimpeiros) e efeitos visuais ainda hoje impressionantes - como a maquete de uma cabana que é parte essencial do clímax -, "Em busca do ouro" figura, não à toa, na lista de filmes preferidos de nomes tão díspares quanto Guillermo Del Toro, Richard Attenborough e Akira Kurosawa.

Considerado por Chaplin como o filme pelo qual ele gostaria de ser lembrado, "Em busca do ouro" teve problemas de ordem pessoal durante o processo de filmagens. Tudo começou quando o diretor iniciou um romance clandestino com Lita Grey, de apenas 16 anos de idade. Apaixonado, ele escreveu o principal papel feminino para sua nova atriz principal, mas foi obrigado a suspender as filmagens quando ela descobriu-se grávida. Durante os três meses de paralisação, Chaplin testou outras possibilidades - entre elas a futura estrela Carole Lombard - e chegou até Georgia Hale, que assumiu, então, o papel de Georgia, a dançarina por quem o protagonista cai de amores depois em um clube de dança. O casamento do diretor e Grey nasceu fadado ao fracasso - apesar dos dois filhos que tiveram durante seu relacionamento - e não demorou para que o insaciável cineasta se sentisse atraído também pela nova descoberta artística. O romance entre os dois surgiu durante as filmagens - mas acabou de tal modo que, no relançamento do filme, em 1942, o longo beijo final dos dois personagens acabou de fora da edição.


 

Caído em domínio público em 1953 devido a negligência do espólio de Chaplin, "Em busca do ouro" apresenta, em pouco mais de uma hora de duração, algumas das cenas mais lembradas da carreira do diretor. A dança dos pãezinhos, a refeição em que o protagonista serve os próprios sapatos (feitos de alcaçuz e que levou três dias para ser finalizada, levando-o a um hospital com um choque de glicose), a sequência em que seu companheiro (faminto) o imagina como um frango assado, a briga no salão de dança e a luta para que a cabana não despenque de um precipício durante uma tempestade de neve são momentos do mais puro humor chapliniano. Realizadas em uma época sem efeitos digitais e os recursos modernos, são um exemplo de execução e se mantém até hoje, quase um século depois, tão frescas e divertidas quanto antes. Provando-se ainda um talento ímpar para atingir todo tipo de público, Chaplin consegue fazer rir crianças e adultos, independente de classe social ou credo religioso - um alcance fenomenal sem precedentes e ainda sem herdeiros naturais.

Primeiro filme estrelado por Chaplin para a United Artists, estúdio do qual era sócio, "Em busca do ouro" reforça sua capacidade de transformar até mesmo situações extremas em fontes de humor e poesia. Inserindo seus personagens em um cenário onde podem acontecer ataques de urso, tempestades de neve, fome extrema, quedas em despenhadeiros e outros perigos naturais (e outros ainda causados pelos seres humanos que os cercam), o ator/diretor/produtor/roteirista encontra formas criativas de buscar a gargalhada (ou, no pior dos casos, um sorriso de ternura) e marcar de maneira indelével (mais uma vez) seu nome na história do cinema mundial - sem dizer uma única palavra.

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