MEU FILHO (My son, 2021, Une Hirondelle Productions/Wild Bunch International/Sixteen Films, 95min) Direção: Christian Carion. Roteiro: Christian Carion, Laure Irrmann. Fotografia: Eric Dumont. Montagem: Loic Lallemand. Música: Laurent Perez Del Mar. Figurino: Carole Miller. Produção executiva: Adam Fogelson, John Friedberg, Robert Simonds, Kimberly Fox. Produção: Marc Butan, Christian Carion, Brahim Chioua, Noémie Devide, Marc Gabizon, Laure Irrmann, Vicent Maraval, Rebecca O'Brien. Elenco: James McAvoy, Claire Foy, Tom Cullen, Gary Lewis. Estreia: 15/9/2021 (Internet)
Em 2017, o cineasta Christian Carion surpreendeu o público francês com "Meu filho", uma produção que, apesar da sinopse não exatamente original, fugia da narrativa tradicional ao negar a seu ator principal, Guillaume Canet, o roteiro que conduzia a trama. As reações de Canet ao que era proposto pelos colegas de cena é que levavam a história adiante - e transmitiam a sensação de desorientação necessária à construção do suspense. Quatro anos mais tarde, ciente das limitações que um filme não falado em inglês encontra no mercado internacional, Carion envolveu-se pessoalmente no remake de sua obra - com um ator britânico (James McAvoy) e uma mudança de cenário (da França para as montanhas escocesas) - e, com o máximo de fidelidade possível, fez de sua refilmagem um produto que, se não chega a revolucionar o gênero, ao menos envolve o espectador em um espiral de intrigas e mistérios que vai se desenrolando aos poucos até o final que infelizmente não consegue escapar do clichê.
A trama já começa com a chegada de Edmond Murray (James McAvoy) às buscas de seu filho de sete anos, desaparecido de um acampamento nas montanhas escocesas. Chamado pela ex-mulher, Joan (Claire Foy) - de quem está separado há alguns anos e que já está em uma nova relação -, Edmond não consegue deixar de sentir-se culpado pelo fato de ser um pai ausente, em constantes viagens a trabalho, inclusive por países em situações de conflito. Questionado pela polícia, que suspeita de um sequestro com vítima escolhida a dedo, Edmond não se conforma em apenas fazer parte das equipes que procuram o menino pelas matas. Assumindo uma investigação própria e com métodos não ortodoxos, ele se depara com pistas falsas, suspeitos bastante dúbios e até com a possibilidade de ter responsabilidade indireta com o desaparecimento. A cada passo que dá adiante, porém, o tempo vai se esgotando - e o final de sua procura vai ficando com chances cada vez maiores de não ser bem-sucedida.
Avassalador no papel principal, James McAvoy demonstra, mais uma vez, sua capacidade aparentemente infinita de se reinventar nas telas - vale lembrar que o ator inglês já deu vida a um psicopata com problemas mentais ("Fragmentado"), um soldado da I Guerra tentando retomar a vida depois de uma acusação injusta de assédio ("Desejo e reparação"), um inexperiente médico que se torna o homem de confiança do ditador Idi Amin ("O último rei da Escócia") e o jovem Professor Xavier (na segunda trilogia dos X-Men), apenas para citar alguns. É ele, com sua garra e dedicação, que faz com que o filme de Carion saia da vala comum dos filmes de ação para se tornar um passatempo bastante digno - ao menos em seus dois primeiros terços. É nessa primeira parte que a ideia do cineasta em esconder de seu ator central o roteiro faz toda a diferença: conforme vai tomando conhecimento de fatos que cercam o possível crime, Edmond vai sendo surpreendido com informações novas, que mudam o rumo das investigações e de sua própria vida - e é o mesmo que acontece com McAvoy, que vai descobrindo a trama através do que é lançado diante de seus olhos. Da tristeza à preocupação, da raiva à coragem, do desespero à desconfiança de todos a seu redor, o astro tira de letra todos os desafios impostos pelo diretor e vai chegando, junto com o público, a um desfecho que, esse sim, deixa no ar uma sensação de anti-clímax.
Depois de dois terços de uma ação aflitiva e de uma tensão crescente, que vai envolvendo o espectador de maneira gradual, "Meu filho" chega a seu último ato caindo na armadilha fácil do exército de um homem só e abandonando o tom de suspense psicológico que vinha adotando até então. A resolução do mistério - preguiçosa e clichê - só serve para justificar um embate entre Edmond e seus algozes, que, é preciso reconhecer, fotografado com elegância e inteligência pelas câmeras de Eric Dumont, que com uma textura quase palpável, enfatiza o tom sombrio e claustrofóbico da trama e valoriza a construção metódica de uma história desesperadora para qualquer pai. Mesmo não sendo um filme completamente memorável - exceção feita ao trabalho de McAvoy, brilhante do início ao fim -, "Meu filho" é o programa ideal para os fãs de suspense e ação. Não muda a vida de ninguém, mas tampouco é uma perda total de tempo.
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