INGRESSO PARA O PARAÍSO (Ticket to paradise, 2022, Universal Pictures/Working Title Films, 104min) Direção: Ol Parker. Roteiro: Ol Parker, Daniel Pipski. Fotografia: Ole Bratt Birkeland. Montagem: Peter Lambert. Música: Lorne Balfe. Figurino: Lizzy Gardiner. Direção de arte/cenários: Owen Patterson/Nikki Barrett. Produção executiva: George Clooney, Jennifer Cornwell, Marisa Yeres Gill, Lisa Gillan, Amelia Granger, Grant Heslov, Rebecca Miller, Julia Roberts, Sarah-Jane Robinson, Nicholas Simpson, Sam Thompson. Produção: Deborah Balderstone, Tim Bevan, Eric Fellner, Sarah Harvey. Elenco: George Clooney, Julia Roberts, Kaitlyn Dever, Billie Lourd, Maxime Bouttier. Estreia: 08/9/2022
Poucas pessoas no mundo perderiam a chance de viajar a uma praia paradisíaca em companhia de um dos melhores amigos e ainda ganhar uma fortuna para isso. E dentre essas pessoas não se incluem Julia Roberts e George Clooney: dois dos maiores astros de Hollywood, ricos, bonitos, famosos e bem-sucedidos (além de amigos e parceiros profissionais), eles voltam a se encontrar na frente das câmeras (e atrás também, já que assinam como produtores executivos) na comédia romântica "Ingresso para o paraíso" uma bobagem simpática e fotogênica que pouco faz por suas carreiras. Longe de ser um desastre completo mas tampouco memorável, o filme de Ol Parker - cujo currículo ainda pequeno inclui "Mamma Mia! Lá vamos nós de novo" (2018) e outras produções menores - usa e abusa do carisma de seus protagonistas e das belas paisagens naturais da Austrália (posando de Bali) para contar uma história sem maiores novidades, mas que pode agradar aos menos exigentes e os cinéfilos que nao vivem sem um romance fictício.
Previsível sucesso de bilheteria - mais de 160 milhões de dólares arrecadados no mercado internacional -, "Ingresso para o paraíso" foi disputado por várias plataformas de streaming ainda em sua fase de pré-produção: entusiasmadas com a reunião de Roberts e Clooney, todas elas desejavam a chance de adicionar mais um êxito em seu catálogo, mas, acertadamente, a Working Title Films preferiu um lançamento em salas de exibição, tentando uma retomada pós-Covid-19, e a distribuição nos cinemas ficou a cargo da Universal Pictures. Deu certo: atingindo em cheio seu público-alvo, o filme não decepcionou em termos comerciais, ainda que não tenha feito o barulho esperado junto às demais plateias. Justificável. Apesar de seus protagonistas exalarem o charme que lhes é característico e de uma ou outra boa piada, o trabalho de Parker soa como mais do mesmo - mas, no final das contas, isso não chega a ser novidade quando se trata de comédias românticas, que parece ter, entre suas regras de ouro, nunca mexer em time que está ganhando. Em outras palavras, "Ingresso para o paraíso" é um filme ideal para quem procura uma produção da qual se é possível adivinhar o final desde a primeira cena - ou até mesmo desde o cartaz.
Casados graças aos arroubos da juventude, David (George Clooney) e Georgia Cotton (Julia Roberts) ficaram juntos apenas cinco anos, tempo suficiente para descobrirem uma imensa incompatibilidade de gênios e porem no mundo uma única filha, Lily (Kaitlyn Denver). Adulta, Lily é a responsável por reunir seus pais em ocasiões especiais, como sua formatura - e por impedir que a animosidade do ex-casal atrapalhe qualquer evento em que se encontrem juntos. Depois de um período de férias antes de iniciar uma carreira de advogada, porém, Lily surpreende os pais ao anunciar que está perdidamente apaixonada e irá se casar. Se a notícia já seria um choque normalmente, os detalhes são ainda mais perturbadores: sua jovem e bela filha irá abandonar tudo para ficar em Bali com o marido nativo, Gede (Maxime Bouttier). Temerosos que a filha repita o maior erro de suas vidas, os ex-casados deixam de lado suas diferenças e partem para a Indonésia com o objetivo de impedir o casamento - mas a magia da beleza local resolve agir e fazê-los rever seus sentimentos.
Avesso a comédias românticas desde que fez "Um
dia especial" (1996) - ao lado de Michelle Pfeiffer -, George Clooney
voltou ao gênero com a certeza de que seu carisma (somado ao sorriso
radiante de Julia Roberts) seria o suficiente para garantir um belo
retorno. Acertou em termos. "Ingresso para o paraíso" insiste em piadas
sobre diferenças culturais, desencontros amorosos, diálogos sarcásticos e
um visual de tirar o fôlego, como forma de disfarçar a fragilidade de
seu roteiro. Algumas vezes tais artifícios funcionam, principalmente
pelo talento dos dois astros, mas frequentemente fica a impressão de que
o elenco se divertiu mais fazendo o filme do que a plateia quando o
assiste. Talvez um pouco longo demais - uma edição mais enxuta
provavelmente deixaria o ritmo menos truncado e a trama menos repetitiva
-, o filme de Ol Parker segura bem uma sessão da tarde em um dia
chuvoso, mas dificilmente será lembrado como um destaque na carreira de
seus atores - ambos em momentos da carreira em que não precisam mais
provar nada a ninguém. Divertido mas sem o brilhantismo das melhores
comédias do gênero, "Ingresso para o paraíso" é um filme para fãs e
ocasionais cinéfilos românticos.
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