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X: A MARCA DA MORTE


X: A MARCA DA MORTE (X, 2022, A24, 105min) Direção e roteiro: Ti West. Fotografia: Eliot Rockett. Montagem: David Kasheravoff, Ti West. Música: Tyler Bates, Chelsea Wolfe. Figurino: Malgosia Turzanska. Direção de arte/cenários: Tom Hammock/Tom Salpietro. Produção executiva: Scott Mescudi, Dennis Cummings, Ashley Levinson, Sam Levinson, Karina Manashil, Peter Phok. Produção: Jacob Jaffke, Harrison Kreiss, Kevin Turen, Ti West. Elenco: Martin Henderson, Mia Goth, Jenna Ortega, Brittany Snow, Kim Cudy, Owen Campbell, Stephen Ure, James Gaylyn. Estreia: 13/3/2022 (South by Southwest Film Festival)

Quem perceber, logo nos primeiros minutos de "X: A marca da morte" um tom que lembra filmes como a série "Sexta-feira 13" não estará completamente enganado. Bebendo diretamente na fonte dos slasher movies que fizeram a alegria dos fãs do cinema de terror a partir dos anos 1980, o diretor e roteirista Ti West brinda o público com uma produção que, apesar de referências bastante claras, imprime uma identidade própria, o apontando como um dos nomes mais promissores da nova geração de diretores de filmes de terror - ainda que já tenha tentado a sorte também no western, com "Terra violenta", de 2016. Usando e abusando de ângulos criativos e subvertendo algumas das regras essenciais do gênero, West agradou em cheio os aficcionados e pegou de surpresa a crítica - especialmente quando, poucos meses depois, lançou um prequel filmado quase concomitantemente, o perturbador "Pérola", que mostra a juventude de uma de suas protagonistas.

Violento como todo bom filme do gênero, "X" deve seu nome à classificação dos censores norte-americanos a filmes pornográficos - estilo da produção que o ambicioso produtor Wayne (o sumido Martin Henderson, de "O chamado") tenciona realizar em uma fazenda no interior do Texas no ano de 1979. Para reinventar os filmes eróticos produzidos até então, ele leva até o local uma equipe que compartilha com ele o desejo de fazer parte de um projeto vencedor e revolucionário chamado "A filha do fazendeiro": o roteirista e diretor R.J. (Owen Campbell), sua namorada e operadora de som, Lorraine (Jenna Ortega, a dupla de astros, Bobby-Lynne (Brittany Snow) e Jackson (Kid Cudi), e a estreante Maxine Minx (Mia Goth) - namorada do produtor. A chegada da trupe incomoda o proprietário da fazenda, Howard (Stephen Ure), que não esperava tanta gente em sua fazenda, especialmente para a realização de um filme pornô. A situação também não é do agrado da velha esposa de Howard, Pearl (também Mia Goth), que mantém ideias conservadoras o suficiente para rechaçar, com o máximo de truculência, o trabalho do grupo. Da tortura psicológica a um banho de sangue não demora muito para que as filmagens se transformem em uma carnificina.

 

Com um roteiro cuidadosamente elaborado - todas as mortes são insinuadas em sequências prévias que dão pistas sobre o destino de cada um dos personagens - e um visual que remete imediatamente aos anos 1970, "X" é um filme de terror acima da média, dotado de uma inteligência que não atrapalha seu principal objetivo: entregar ao público uma série de assassinatos cruéis e sanguinolentos. Em alguns momentos lembrando o cinema cult de Quentin Tarantino - longos diálogos, referências pop, closes em partes específicas do corpo feminino - e bem-sucedido em criar uma atmosfera de suspense antes do começo da violência, o filme de West apresenta ainda uma sacada das mais criativas, oferecendo à ótima Mia Goth um papel duplo que muito contribui para o clima de estranheza do resultado final: na pele da ainda ingênua e sonhadora Maxine e vivendo a sinistra Pearl (sob pesada maquiagem), Goth - que é neta da atriz brasileira Maria Gladys - está nitidamente dentro do espírito quase independente do filme, produzido pela A24 (marca das mais criativas e transgressores produções do terror dos últimos anos) e recebido com entusiasmo por seu público-alvo, que, apesar de alguns bons títulos recentes, que buscam redefinir o gênero, nunca abre mão de um bom banho de sangue nas telas.

Enquanto produções dirigidas por Robert Eggers - "A bruxa" e "O homem do norte" - e Jordan Peele - "Corra!", "Nós" e "Não! Não olhe!" - procuram renovar os filmes de terror, acrescentando camadas de crítica social e elementos de arte em tramas mais rebuscadas, "X: A marca da morte" acerta em cheio ao não tentar fugir dos cânones mais consagrados do gênero. Por mais que capriche no roteiro, no visual e até mesmo encontre espaço para discussões interessantes a respeito do cinema pornográfico como representação cultural, Ti West não tem vergonha em apresentar um trabalho que se resume, em poucas palavras, em um filme de terror à moda antiga, onde jovens são caçados até a morte por um assassino pouco afeito a sutilezas e movido por recalques sexuais. Tais ingredientes, somados a um elenco que abraça com carinho todas as idiossincrasias de um gênero tratado como menor pela indústria, fazem de "X" um marco interessante e bem-vindo. E a melhor notícia? Seu prequel, "Pérola", lançado seis meses depois, é ainda mais perturbador.

 

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