segunda-feira

17 OUTRA VEZ

17 OUTRA VEZ (17 again, 2009, New Line Cinema, 102min) Direção: Burr Steers. Roteiro: Jason Filardi. Fotografia: Tim Suhrstedt. Montagem: Padraic McKinley. Música: Rolfe Kent. Figurino: Pamela Whiters-Chilton. Direção de arte/cenários: Garreth Stover/Natali Kendrick Pope. Produção executiva: Jason Barrett, Toby Emmerich, Keith Goldberg, Mark Kaufman. Produção: Jennifer Gibgot, Adam Shankman. Elenco: Zac Efron, Matthew Perry, Leslie Mann, Thomas Lennon, Melora Hardin, Michelle Trachtenberg. Estreia: 14/4/09

É impressionante como, mesmo com a fórmula usada à quase exaustão, comédias que retratam personagens sendo obrigados a lidar com a mudança súbita de identidade/sexo/idade ainda conseguem levar o público ao cinema - e inspirar produções vexaminosas como os dois capítulos de "Se eu fosse você", cometidos por Daniel Filho aqui no Brasil. Talvez por saber exatamente o que esperar de filmes com essa temática, a plateia não cansa de rir com as mesmas velhas piadas requentadas e (nem sempre) adaptadas aos novos tempos, e de forma cíclica, o assunto volta e meia encontra um meio de encontrar uma nova geração de espectadores: em 2003, Lindsay Lohan, antes dos escândalos que passaram a ameaçar sua ascendente carreira, juntou-se à Jamie Lee Curtis em "Sexta-feira muito louca" (já uma refilmagem de um clássico juvenil com Jodie Foster) e em 2004, a trintona Jennifer Garner voltou à adolescência em "De repente 30", só para citar exemplos mais recentes. Acreditando na força da receita - e principalmente no poder de fogo de Zac Efron junto ao público adolescente - os produtores de "17 outra vez" apostaram suas fichas em mais uma releitura do tema e não se arrependeram: com um custo de apenas 20 milhões de dólares, o filme rendeu três vezes seu orçamento apenas no mercado doméstico e ultrapassou os 130 milhões pelo mundo. Como se pode ver, nem sempre a originalidade é o melhor caminho para o sucesso.

Ídolo das adolescentes americanas graças à série "High School Musical" - onde cantava, dançava e desfilava seu carisma juvenil sem precisar fazer muito esforço para agradar - Zac Efron foi a escolha certa para liderar o elenco de "17 outra vez", tanto em termos comerciais quanto artísticos. Mesmo que não seja um grande ator, ele tira de letra o desafio de dar veracidade a uma trama que, mesmo com todas as licenças poéticas possíveis e imagináveis, é difícil de engolir sem a devida boa-vontade (a despeito de tantas outras similares): tudo começa em 1989, quando o jovem Mike O'Connell, astro do time de basquete de sua escola de ensino médio, está em vias de ser descoberto por um olheiro e começar uma brilhante carreira esportiva. Seus planos são abortados, porém, quando sua namorada, Scarlet, surge com a notícia de que está grávida: íntegro, o rapaz abre mão de seus sonhos para assumir o bebê e abandona um futuro que lhe parecia promissor. Vinte anos mais tarde (e na pele de Matthew Perry, o Chandler da série "Friends"), Mike vive um inferno astral: está se divorciando de Scarlet (interpretada por Leslie Mann), tem uma relação distante com os dois filhos adolescentes e acaba de sair do emprego a que se dedicou por duas décas - após ter sido preterido em uma promoção por uma loura peituda. Morando de favor na casa do melhor amigo, Ned (Thomas Lennon), ele cai sem querer em uma ponte ao tentar ajudar um suicida, e, ao chegar em casa, descobre atônito que está com o mesmo visual que tinha aos 17 anos.


Como trata-se de uma comédia hollywoodiana, a crise de Mike em relação a tal fenômeno não dura mais do que uma cena em que, conversando com o experiente Ned - um nerd assumido e consumidor voraz de ficção científica - ele chega à conclusão de que tal anomalia tem apenas uma função: fazer com que ele resolva alguma pendência de sua vida escolar como forma de consertar seu presente. Sendo assim, ele pede que Ned se faça passar por seu pai e o matricule na mesma escola em que estudam seus dois filhos - e de onde ele também foi aluno. Exímio atleta, Mike logo se torna popular o bastante para bater de frente com Stan (Hunter Parrish), o namorado valentão de sua filha Maggie (Michelle Trachtenberg) e ressaltar as qualidades esportivas de seu filho, o tímido Alex (Sterling Knight), de quem se torna o melhor amigo. A complicação surge quando ele passa a tentar impedir Scarlet de seguir com sua vida após a separação e ela começa a sentir-se estranhamente atraída pelo amigo de seu filho, que é bizarramente semelhante a seu ex-marido na juventude.

Seguindo à risca a receita do gênero, o roteiro de "17 outra vez" mantém-se na zona de conforto, oferecendo ao público exatamente o que se pode esperar de uma comédia adolescente que se propõe unicamente a entreter sua plateia por uma hora e meia. Um de seus maiores acertos é dar espaço ao casal formado por Thomas Lennon e Melora Hardin - que vive a diretora da escola onde Mike vai estudar: como dois nerds assumidos e orgulhosos, os dois protagonizam algumas das melhores cenas do filme, seja através de um diálogo em élfico (idioma criado para "O Senhor dos Anéis") ou pelas inúmeras referências à cultura contemporânea popular. Esse tempero dá ao filme de Burr Steers um gostinho um pouco diferente de seus congêneres, mas não é o suficiente para tirar a impressão de dèja-vu. Mesmo assim, é uma sessão da tarde deliciosa, ainda que inócua e esquecível.

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