sexta-feira

DUPLICIDADE

DUPLICIDADE (Duplicity, 2009, Universal Pictures/Relativity Media, 125min) Direção e roteiro: Tony Gilroy. Fotografia: Robert Elswit. Montagem: John Gilroy. Música: James Newton Howard. Figurino: Albert Wolksy. Direção de arte/cenários: Kevin Thompson/George DeTitta Jr.. Produção executiva: Ryan Cavanaugh. Produção: Laura Bickford, Jennifer Fox, Kerry Orent. Elenco: Julia Roberts, Clive Owen, Tom Wilkinson, Paul Giamatti, Dennis O'Hare, Tom McCarthy. Estreia: 10/3/09

Cinco anos depois de formarem um casal envolvido em uma complicado quadrilátero amoroso no elogiado "Closer, perto demais", Julia Roberts e Clive Owen voltaram a dividir a tela. Dessa vez, porém, sem a densidade da obra dirigida de Mike Nichols, adaptada da peça teatral de Patrick Marber: na pele de dois espiões industriais que se apaixonam e tramam um golpe para garantir sua aposentadoria mesmo sem confiarem plenamente um no outro, a dupla oferece ao espectador uma trama leve e dotada de um senso de humor elegante que remete a clássicos como "Charada" - estrelado por Audrey Hepburn e Cary Grant - e comprova o talento do roteirista/diretor Tony Gilroy, recém-saído de várias indicações ao Oscar por seu "Conduta de risco" - que deu a estatueta de coadjuvante à Tilda Swinton. Fugindo do tom opressivo da obra estrelada por George Clooney, "Duplicidade" é uma comédia à moda antiga, que equilibra uma trama complexa com momentos de romantismo em cenários sofisticados ao redor do mundo. Pode soar confuso em vários momentos, mas é um entretenimento de classe, protagonizado por uma das mais carismáticas estrelas de Hollywood.

A trama de "Duplicidade" começa em Dubai, quando Ray Koval (Clive Owen) e Claire Stenwick (Julia Roberts) - dois agentes de órgãos de segurança rivais - se conhecem e passam a noite juntos. Ela rouba documentos importantes dele e desaparece por cinco anos, até que eles voltam a se encontrar, dessa vez trabalhando em empresas particulares, mas novamente inimigas. Ela é empregada de Howard Tully (Tom Wilkinson), o diretor de uma companhia farmacêutica que está em vias de lançar um revolucionário produto para acabar com a calvície. Ele trabalha para o rival de Tully, o egocêntrico Richard Garsick (Paul Giamatti), que tem uma equipe treinada para roubar segredos de seus concorrentes. Juntos, Ray e Claire resolvem trabalhar como agentes duplos, para descobrirem a fórmula secreta de Tully e se aposentarem em grande estilo. Através de flashbacks que contam como eles iniciaram seu plano, a trama avança até o grande clímax que vai finalmente mostrar se eles são tão inteligente e espertos quanto pensam - e se realmente estão jogando no mesmo time.


Abusando de uma edição complexa e esperta - ainda que às vezes em excesso - "Duplicidade" tem como seu maior mérito o fato de ser um filme direcionado ao público adulto, que foge dos efeitos visuais imbecilizantes e das piadas sem graça dos blockbusters. Apostando na inteligência da plateia, o roteiro de Gilroy exige dela uma atenção normalmente dispensada nas produções dos grandes estúdios, que visam apenas o retorno financeiro de seus projetos, independentemente de suas qualidades. O roteiro, que vai e volta no tempo, obriga a audiência a não desgrudar os olhos da tela, sob pena de perder o fio da meada - e consequentemente parar de acompanhar a trama, na verdade uma desculpa das mais charmosas para explorar mais uma vez a química entre Roberts e Owen, que parecem estar se divertindo ao dar vida a personagens tão distantes daqueles que lhes deram fama. Julia, principalmente, entrega uma performance inspirada e solar, que mostra um lado menos sério de seu talento, ainda pouco explorado apesar das comédias românticas que protagonizou nos anos 90. Sua Claire Stenwick é uma mulher forte, determinada e inteligente que manda no próprio nariz e não depende de homens para alcançar a felicidade - coisa rara no cinema americano apesar de opiniões contrárias - e ninguém melhor do que Roberts para interpretá-la. Um acerto de escalação de elenco que por si só já vale a sessão.

Além de Roberts, porém, "Duplicidade" também merece elogios por sua elegância visual. A fotografia de Robert Elswit (Oscar por "Sangue negro") tira o máximo proveito das paisagens naturais de Roma, Dubai e Nova York, evitando, apesar disso, os clichês quase inevitáveis. A leveza dos cenários, com seu charme e classe, contagia a atuação de um elenco à prova de qualquer crítica. Mesmo em papéis secundários, Paul Giamatti e Tom Wilkinson mostram que não são requisitados pelos maiores diretores de Hollywood à toa, e Clive Owen pela primeira vez deixa vislumbrar um lado cômico (ainda que sutil) de sua personalidade artística, um elemento a mais em um filme que, se não muda a história do cinema, ao menos lhe dá um pouco de consistência cerebral.

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