O GOLPISTA DO ANO (I love you, Phillip Morris, 2009, EuropaCorp/Mad Chance/Consolidate Group Pictures, 98min) Direção: Glenn Ficarra, John Requa. Roteiro: Glenn Ficarra, John Requa, livro de Steve McVicker. Fotografia: Xavier Pérez Grobet. Montagem: Thomas J. Nordberg. Música: Nick Urata. Figurino: David C. Robinson. Direção de arte/cenários: Hugo Luczyc-Wyhowski/Cynthia Slagter. Produção executiva: Luc Besson. Produção: Andrew Lazar, Far Shariat. Elenco: Jim Carrey, Ewan McGregor, Rodrigo Santoro, Leslie Mann. Estreia: 18/01/09 (Festival de Sundance)
Quando o filme "O golpista do ano" estreou oficialmente nos EUA, em janeiro de 2009, já fazia exatamente um ano que havia estreado no Festival de Sundance - e, desde então, havia percorrido festivais de cinema pelo mundo inteiro e sido lançado comercialmente fora do mercado doméstico, arrecadando o suficiente para cobrir seu modesto orçamento de 13 milhões de dólares. Tal atraso - e a séria ameaça de ser lançado diretamente no mercado de DVD em seu país de origem - não deixou de ser uma surpresa, já que a comédia dirigida pela dupla Glenn Ficarra e John Requa é estrelado por um dos atores mais populares de Hollywood, Jim Carrey, capaz de levar multidões às salas de cinema mesmo com filmes de qualidade duvidosa, como "Ace Ventura, um detetive diferente" e "Débi & Lóide, dois idiotas em apuros". Já devidamente reconhecido como um ator sério, graças aos filmes "O show de Truman, o show da vida" (98), "O mundo de Andy" (99) e "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (04), nem mesmo Carrey foi capaz, no entanto, de despertar o interesse das plateias ianques para a inacreditável história real do farsante Steven Jay Russell e seu amor incondicional pelo colega de presídio Phillip Morris: o filme foi um fracasso retumbante (e injusto) de bilheteria.
Levando-se em consideração que "O golpista do ano" não é um filme típico de Carrey - ao menos não funciona no nível de suas produções mais descerebradas - nem tampouco um drama que se preste a premiações precedidas de tapetes vermelhos, seu fracasso nem chega a ser uma surpresa. Mesmo que Carrey não deixe totalmente de lado sua tendência em fazer caretas e vez ou outra exagere nas tintas de seu personagem, o tom do filme é menos histérico do que em seus trabalhos mais famosos e esse meio-termo talvez tenha afastado a audiência mais tradicional do ator. Além do mais, outro elemento importante do roteiro - que o título genérico em português escondeu, com medo da rejeição do público brasileiro - pode ter sido responsável pela indiferença em relação ao produto final: a homossexualidade do protagonista. Bem ou mal, interpretar um personagem gay ainda é tabu em Hollywood - a não ser quando se ambiciona ganhar certa estatueta dourada - e Carrey sentiu na pele a verdade de tal afirmação. Enquanto alguns elogiaram sua "coragem" em assumir um papel tão controverso, outros a rechaçaram. A maior parcela do público - a que realmente interessa - fez pouco caso da situação.
Apesar de parecer impossível, a história de "O golpista do ano" é real, e em muitos pontos lembra o excelente "Prenda-me se for capaz", de Steven Spielberg. Em ambos os casos o protagonista é um homem que vive de golpe em golpe, tentando manter um estilo de vida dispendioso e regado a luxos. Ao contrário do filme estrelado por Leonardo DiCaprio, porém, o trabalho dos diretores Ficarra e Requa dá a seu personagem principal uma razão específica para tal comportamento: depois de assumir-se gay para a família depois de um acidente de carro, o policial Steven Russell abandona a carreira e começa uma vida cercada de ostentação ao lado do namorado, Jimmy (o brasileiro Rodrigo Santoro em papel com falas e de razoável importância na trama). Preso por fraude, ele se apaixona perdidamente, na cadeia, por Phillip Morris (Ewan McGregor), um rapaz tímido com quem inicia um romance avassalador. Disposto a oferecer ao novo amante uma vida confortável, ele acaba por envolver-se, novamente, com negócios escusos e fraudes milionárias, o que o leva fatalmente a uma existência repleta de idas e vindas da cadeia.
Se Carrey não consegue manter-se totalmente afastado de seu modo histriônico de interpretação - beirando o excesso em diversos momentos - o maior destaque de "O golpista do ano" é Ewan McGregor, que sai-se bastante bem na pele do Phillip Morris do título original. Com uma atuação que se equilibra na tênue linha entre a caricatura e o naturalismo sem cair nas armadilhas que isso impõe, o ator demonstra maturidade e versatilidade, permitindo à plateia que mergulhe sem reservas em um roteiro que não tem medo de ousar na estrutura, recheada de flashbacks e piadas direcionadas ao público gay. Sem preconceitos e sem esperar que seja uma comédia "de Jim Carrey" é bem provável que qualquer audiência se deixe divertir pelo filme: razões para isso não faltam, nem que seja apenas para testemunhar as incríveis aventuras de seu protagonista.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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