JUNO (Juno, 2007, Fox Searchlight Pictures/Mandate Pictures,
96min) Direção: Jason Reitman. Roteiro: Diablo Cody. Fotografia: Eric
Steelberg. Montagem: Dana E. Glauberman. Música: Mateo Messina.
Figurino: Monique Prudhomme. Direção de arte/cenários: Steve
Saklad/Shane Vieau. Produção executiva: Joe Drake, Daniel Dubiecki,
Nathan Kahane. Produção: Lianne Halfon, John Malkovich, Mason Novick,
Russell Smith. Elenco: Ellen Page, Michael Cera, Jason Bateman, Jennifer
Garner, Allison Janney, J.K. Simmons, Olivia Thirlby, Rainn Wilson.
Estreia: 01/9/07 (Festival de Telluride)
4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Jason Reitman), Atriz (Ellen Page), Roteiro Original
Vencedor do Oscar de Roteiro Original
Na cerimônia do Oscar 2008, uma adolescente de 16 anos, articulada e irônica, grávida por acidente e decidida a ceder seu bebê a um casal sem filhos, atropelou, na concorrência à estatueta de roteiro original, um drama cerebral sobre um faz-tudo de uma firma de advogados, a história de um casal de irmãos disfuncionais lidando com a morte do pai, o romance entre um rapaz tímido e sua boneca de silicone e as aventuras de um ratinho que sonhava ser chef de cozinha. "Juno", escrito pela ex-stripper Diablo Cody e dirigido por Jason Reitman - do ácido "Obrigado por fumar" - acabou por tornar-se, desde sua estreia em setembro de 2007, o filme de maior bilheteria até então da independente Fox Searchlight Pictures, com uma renda acima de 100 milhões de dólares. Sarcástica e inteligente, a produção de Reitman conquistou público, crítica e a Academia de Hollywood, que, além do prêmio de roteiro, indicou-o também nas categorias de filme, direção e atriz - a encantadora Ellen Page, que já havia demonstrado do que era capaz com o embate com Patrick Wilson em "Menina má.com".
Juno McGuff, a protagonista interpretada por Page, é uma adolescente atípica - apesar das críticas da época louvarem o seu jeito "moderno" de comunicar-se: esperta, quase independente e senhora de si, ela se surpreende com a notícia de estar esperando um filho de um namorado hesitante, seu colega de banda e atleta amador Paulie Bleeker (Michael Cera), mas, ao invés de experimentar a sensação de drama e desamparo esperados, mostra-se de um extremo pragmatismo. Com o apoio de Leah (Olivia Thirlby), sua melhor amiga, ela comunica o fato ao pai e à madrasta - J.K. Simmons e Allison Janney - já com a solução do problema em mãos: não apenas já fez a cabeça quanto à doar o bebê assim que ele nascer como sabe até mesmo quais serão os felizardos receptores da mercadoria. O problema é que, por mais ansiosa que esteja em tornar-se mãe, a dona-de-casa Vanessa Loring (Jennifer Garner) não gosta nem um pouco da aproximação entre a jovem gestante e seu marido, o compositor de jingles comerciais Mark (Jason Bateman) - que sufoca, com o casamento, o sonho de ter uma carreira de roqueiro.
Rejeitando violentamente o sentimentalismo e o piegas, o roteiro de "Juno" tem, dentre seus méritos, o dom de tornar leve e desprovido de tensão todos os possíveis dramas inerentes a uma trama que, sob um ponto de vista mais sério, poderia descambar para o dramalhão didático e moralista. Dona de um talento especial para diálogos cortantes e que soam extremamente naturais mesmo quando ultrapassa os limites do convencional - a protagonista frequentemente parece muito mais madura e adulta do que seus parceiros de mais idade - Diablo Cody faz uso de uma situação banal para construir uma história que abrange os mais diversos tipos de amor, sem que para isso precise apelar para o exagero de açúcar. Ao eleger como personagem central uma adolescente não exatamente dada a gestos expansivos de carinho, Cody sinaliza com clareza seu ponto de vista a respeito das relações humanas, mas não deixa, por isso, de mostrar-se sensível e terna quando mostra a forma com que Juno se relaciona com seu pai, sua madrasta, a melhor amiga e até o suposto namorado (que trata com delicadeza e um tipo de amor ainda desconhecido por ambos). Até mesmo a forma casual com que a gravidez de Juno é tratada pela família - quase com descaso - destaca o filme do previsível e do corriqueiro. Pode não parecer muito real, mas é refrescante.
Um tanto superestimado à época de seu lançamento - quando foi tratado como uma espécie de salvador da comédia americana - "Juno" é um filme delicioso e agradável, mas jamais uma obra-prima incontestável e revolucionária como muitos quiseram fazer crer. Ellen Page realmente está fantástica no papel-título, emprestando a ele uma juventude e uma personalidade que tornam a doce rebelde Juno inesquecível - sua indicação ao Oscar foi justa, uma vez que é ela a sustentação do filme em si - mas o elenco coadjuvante também tem sua parcela de responsabilidade em dar consistência a uma trama tão simples que, não fosse o roteiro ágil, a direção segura e os atores competentes, poderia transformar-se rapidamente em mais um daqueles fenômenos sazonais que volta e meia surgem no cinema para desaparecerem no ar tão logo surja uma nova temporada. "Juno" ficou, e isso diz muito sobre sua qualidade.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
segunda-feira
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