COMO NÃO PERDER ESSA MULHER (Don Jon, 2013, Voltage Pictures/HitRecord Films, 90min) Direção e roteiro: Joseph Gordon-Levitt. Fotografia: Thomas Kloss. Montagem: Lauren Zuckerman. Música: Nathan Johnson. Figurino: Leah Katznelson. Direção de arte/cenários: Meghan C. Rogers/Cindy Coburn. Produção executiva: Nicolas Chartier, Ryan Kavanaugh, Tucker Tooley. Produção: Ram Bergman. Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore, Tony Danza, Glenne Headley, Brie Larson. Estreia: 18/01/13 (Festival de Sundance)
Em "Sintonia de amor", a personagem central, vivida por Meg Ryan,
reclamava dos estragos causados pelo cinema romântico hollywoodiano, que
faz com que as mulheres busquem histórias de amor ilusórias em
detrimento da realidade. Clássico do cinema pejorativa e erroneamente chamado de "filme de mulherzinha", a obra de Nora Ephron encontra em
"Como não perder essa mulher" sua versão masculina, guardadas as devidas
proporções. Estreia como diretor do ator Joseph Gordon-Levitt, que
também interpreta o papel central, o filme substitui os romances de
plástico de Hollywood por filmes pornográficos, as mocinhas sonhadoras
por um bartender hedonista e transmuta o santo graal dos protagonistas
de um amor verdadeiro em uma satisfatória vida sexual.
Jon, o protagonista que Gordon-Levitt escreveu para Channing Tatum - que
faz uma participação afetiva e bastante engraçada ao lado de Anne
Hathaway - e depois pegou para si, é um jovem bartender que divide suas
noites em um curso profissionalizante e noitadas em baladas que
sistematicamente acabam em insatisfatórias relações sexuais.
Conquistador inveterado, ele não hesita em reconhecer a si mesmo - e ao
padre com que frequentemente se confessa - que prefere masturbações
frequentes diante de filmes pornográficos do que sexo propriamente dito.
Segundo sua concepção, as mulheres são sempre desapontamentos, por não
realizarem na vida real o que os filmes adultos prometem em suas cenas
pra lá de quentes. Seu vício em pornografia não se revela problemático,
porém, até que ele conhece e cai de amores por Barbara (Scarlett
Johansson, vivendo pela enésima vez a mulher sexy). Aparentemente um vulcão, Barbara se revela uma mulher
extremamente conservadora, que mais uma vez frustra suas expectativas de
orgias alucinantes. Surge então Esther (Julianne Moore), uma mulher
mais velha, com uma trágica história de vida, que acaba lhe mostrando um
outro caminho a seguir.
A ideia do roteiro de Gordon-Levitt é ótima, afinal de contas falta ao
cinema hollywoodiano filmes com pontos de vista masculinos a respeito de
relações amorosas. O problema é que falta a ele um pouco mais de
profundidade, em especial na relação entre Jon e Esther, que poderia ter
sido explorada com menos pressa - o que poderia inclusive ter dado à
sempre ótima Julianne Moore maior oportunidade de brilhar. O jovem ator
demonstra personalidade em sua direção, fazendo uso inteligente da
edição e da trilha sonora e demonstrando bom senso estético - além de
proporcionar à Glenne Headley ótimos diálogos na pele de sua mãe
desesperada por uma nora e conseguir se dividir entre a direção e a
protagonização com segurança de veterano: a transformação de seu Jon,
que em mãos menos talentosas poderia soar patética, com ele não é apenas
crível, mas também encantadora. Ajuda muito, é claro, que ele seja um ator carismático e bastante talentoso.
Dividindo sua carreira em produções independentes - como a deliciosa "(500) dias com ela" - e filmes de enorme visibilidade - "A origem" e "Batman, o Cavaleiro das Trevas ressurge" - Gordon-Levitt passou sem traumas do status de adolescente promissor a um dos mais requisitados jovens astros de Hollywood. Fugindo de um possível estigma de galã adolescente, ele passou a fazer escolhas ousadas - o polêmico "Mistérios da carne", de Gregg Araki, o mostra em um personagem do qual muitos colegas de geração fugiriam apavorados - até conquistar o respeito dos colegas e a admiração da plateia. Sua decisão em estrear como diretor, como mostra "Como não perder essa mulher" (um título nacional, diga-se de passagem, constrangedor) não foi apenas fruto de egocentrismo: seguro e dotado de ritmo, seu trabalho aponta para uma nova e auspiciosa carreira. Uma comédia romântica atípica, seu filme pode não agradar a todas as plateias - talvez o público feminino se sinta um tanto incomodado com os frequentes (mas contextualizados) frames de mulheres nuas e cenas pornográficas - mas é, sem dúvida, uma estreia digna de nota.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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