QUESTÃO
DE TEMPO (About time, 2013, Working Title Films, 123min) Direção e
roteiro: Richard Curtis. Fotografia: John Guleserian. Montagem: Mark
Day. Música: Nick Laird-Clowes. Figurino: Verity Hawkes. Direção de
arte/cenários: John Paul Kelly/Liz Griffiths. Produção executiva: Liza
Chasin, Richard Curtis, Amelia Granger. Produção: Nicky Kentish Barnes,
Tim Bevan, Eric Fellner. Elenco: Domhnall Gleeson, Rachel McAdams, Bill
Nighy, Lydia Wilson, Lindsay Duncan, Richard Cordery, Tom Hollander,
Margot Robbie. Estreia: 27/6/13
É preciso ter uma
certa dose de boa vontade para comprar a premissa
inicial da comédia romântica "Questão de tempo", em tempos cínicos como
os que correm: um rapaz sem graça e sem maiores atrativos físicos
descobre, em seu aniversário de 21 anos que tem o poder - herdado do
lado masculino da família de seu pai - de viajar no tempo: basta que
esteja isolado em um armário ou
banheiro e apertar com força as mãos para que consiga transferir-se para
a data do passado (e só do passado) que escolher (desde que já tenha
estado lá, o que impede ambições maiores, como transformar a história do
mundo). De posse dessa valiosa informação, o rapaz a aproveita para
resolver sua vida sentimental, principalmente quando se muda para
Londres para cursar Direito e se apaixona por uma bela editora
americana.
Uma vez acreditando no absurdo da ideia
central, porém, o espectador
acaba fisgado por um filme que se destaca dos demais exemplares do
gênero por
contar não apenas uma história de amor, mas várias. O roteiro esperto de
Richard Curtis - que tem no currículo os deliciosos diálogos de "Quatro
casamentos e um funeral" e o romantismo abundante de "Simplesmente
amor" - não se restringe, felizmente, a contar como o desajeitado Tim
(Domhnall Gleeson) conquista a esfuziante Mary (Rachel McAdams): em duas
horas de projeção (uma duração que parece assustar em um primeiro
momento, mas torna-se essencial para o desenvolvimento da trama), Curtis
também oferece ao
público a história do belo relacionamento entre ele e seu pai
(interpretado com a verve histriônica já amplamente reconhecível de Bill
Nighy) e sua preocupação com os problemas sentimentais da irmã,
Katherine (Lydia Wilson) - que acabam por interferir diretamente em sua
felicidade e o obrigam a tomar atitudes impulsivas.
Assim como acontece em vários filmes da mesma temática - mais
recentemente o tenso "Efeito borboleta" - as ações de Tim tem
consequências imprevisíveis, o que deixa a audiência em constante estado
de dúvida em relação ao que está por vir. A maior vantagem do roteiro,
porém, está no fato de não deter-se exclusivamente nas idas e vindas do
casal protagonista, expandindo-se bravamente em terrenos menos
explorados. Mesmo que por vezes soe um tanto superficial - e sem coragem
de chegar até o fim de alguns dramas propostos - o filme conquista pela
leveza no tratamento, pela simpatia do elenco e pela fluidez da trama,
que acaba disfarçando seus pequenos pecados. Richard Curtis é,
inegavelmente, um mestre em diálogos e faz bom uso deles, nunca pesando a
mão, mesmo quando o dramalhão ameaça perigosamente dominar a narrativa -
e encontra em seus atores os intérpretes ideais para seus personagens
gente como a gente.
Enquanto
Rachel McAdams já pode ser considerada uma especialista em
filmes sobre viagens no tempo - ela está no elenco de "Te amarei para
sempre" e "Meia-noite em Paris" - é o praticamente desconhecido Domhnall
Gleeson, filho do ator Brendan Gleeson, a maior descoberta do filme.
Completamente fora dos padrões convencionais de beleza, o ator de 30
anos à época da estreia e que teve um papel de destaque na "Anna
Karenina" de Joe Wright, é
capaz de transmitir todas as emoções que o roteiro pede, demonstrando
que tem tudo para ter um futuro alvissareiro na capital do cinema, além
de ter uma química invejável com McAdams e Bill Nighy. Também é
impossível não destacar, como sempre nos filmes com a mão de Curtis, a
eclética e apropriada trilha sonora, que resgata até mesmo a clássica
"Il mondo", na voz de Jimmy Fontana.
Inteligente,
delicado, simpático e bem-intencionado, "Questão de tempo" é
uma comédia romântica das mais interessantes dos últimos tempos, graças
à dosagem exata entre doçura e humor e ao elenco bem escalado.
Pode fazer rir e chorar e não causa constrangimento por causa disso,
muito pelo contrário - as situações previstas no roteiro são capazes de
sensibilizar até ao mais renitente e racional espectador. Altamente
recomendável para qualquer público, e sem contraindicações.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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Um comentário:
Olá Clenio.
Tenho assistido várias de suas indicações, e gostei bastante!
Agradeço pelo blog, pelas postagens e desejo um 2016 repleto de coisas boas.
Obrigado,
Sérgio.
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