segunda-feira

UMA VIDA MELHOR

UMA VIDA MELHOR (A better life, 2011, Summit Entertainment, 98min) Direção: Chris Weitz. Roteiro: Eric Eason, estória de Roger L. Simon. Fotografia: Javier Aguirresarobe. Montagem: Peter Lambert. Música: Alexandre Desplat. Figurino: Elaine Montalvo. Direção de arte/cenários: Melissa Stewart/Bryan John Venegas. Produção executiva: Tony Thomas. Produção: Jami Gertz, Paul Junger Witt, Stacey Lubliner, Christian McLaughlin, Chris Weitz. Elenco: Damián Bichir, José Julián, Joaquín Cosio, Gabriel Chavarria. Estreia: 24/6/11

Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Demian Bichir)

Quem ligar o nome do diretor Chris Weitz a seus trabalhos anteriores, como a comédia adolescente “American pie” (99) – codirigido por seu irmão Andrew – e a adaptação de “Um grande garoto” (02), de Nick Hornby, certamente leva um choque quando chega ao fim a sessão de “Uma vida melhor”. O filme que rendeu uma inesperada (mas justa) indicação ao Oscar de melhor ator para o mexicano Damián Bichir não tem espaços para humor ou romance. É um potente drama familiar que joga luz sobre um dos maiores problemas sociais dos EUA:  a imigração ilegal. Com as mãos em um roteiro conciso e sensível que foge admiravelmente dos estereótipos latinos que Hollywood consagrou, Weitz dá um passo à frente em sua carreira, demonstrando uma muito bem-vinda maturidade a uma história que remete, em alguns momentos, ao clássico neorrealista “Ladrões de bicicleta”, de Vittorio De Sica.

Em uma interpretação brilhante em sua sutileza, Bichir vive Carlos Galindo, um imigrante mexicano que trabalha como jardineiro para sustentar o único filho, Luís (José Julián), um adolescente quase rebelde que está tentado a entrar para uma das gangues juvenis do bairro onde mora – até mesmo sua namorada o impele a isso. Com a intenção de melhorar de vida e oferecer mais conforto ao rapaz, Carlos pede dinheiro emprestado à sua irmã, casada com um norte-americano e legalizada junto à Imigração, e compra a caminhonete de seu antigo patrão, junto com todas as suas ferramentas. Seu objetivo, no entanto, sofre um enorme baque quando ele se vê roubado por um colega de trabalho – e parte atrás do prejuízo mesmo sabendo que corre o risco de ser descoberto e deportado.


Explorando cenários de Los Angeles pouco mostrados pelo cinemão americano, “Uma vida melhor” transpira realismo e sensibilidade a cada sequência. Mergulhando o espectador nos problemas do protagonista sem apelar para o melodrama barato, o roteiro de Eric Eason encontra eco nas imagens simples mas poderosas de Weitz, que se ampara no expressivo olhar de Damián Bichir – que transita com destreza entre a esperança e o desespero – para contar uma história emocionate e emocional. Ao contrário do que acontece com a visão limitada dos produtores hollywoodianos, a trajetória dos Galindo soa verdadeira, sem os artifícios tão comuns a cineastas e roteiristas mais preocupados com prêmios do que com a honestidade. Mesmo quando a trama se desvia do foco central – a busca pela caminhonete de Carlos – o roteiro oferece ao espectador um tom de sinceridade impossível de ignorar. E é então que a química entre Bichir e o jovem José Julián se faz ainda mais importante.

Pegando com unhas e dentes um dos raros personagens latinos tratados com respeito por Hollywood, Damián Bichir entrega uma performance arrebatadora em sua discrição. Toda a emoção que Carlos Galindo transmite é a partir do olhar e nem é preciso longos diálogos para que a plateia se deixe encantar por sua coragem e sua integridade – o que leva a uma empatia pouco comum em dramas tão sutis. Até mesmo quando o protagonista apela para métodos pouco elogiáveis para recuperar o que lhe foi roubado, ele não deixa de ter a torcida da plateia. O final verossímil, ainda que um tanto melancólico, completa o espetáculo com coerência e chega a deixar no ar um gostinho de “quero mais”. Não foi à toa que Bichir rompeu a resistência da Academia e encontrou lugar entre os candidatos à estatueta dourada ao lado de nomes como George Clooney e Brad Pitt. Um pequeno grande filme!

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