quarta-feira

SELENA

SELENA (Selena, 1997, Warner Bros, 127min) Direção e roteiro: Gregory Nava. Fotografia: Edward Lachman. Montagem: Nancy Richardson. Música: Dave Grusin. Figurino: Elisabetta Beraldo. Direção de arte/cenários: Cary White/Jeanette Scott. Produção executiva: Abraham Quintanilla Jr.. Produção: Moctesuma Esparza, Robert Katz. Elenco: Jennifer Lopez, Edward James Olmos, Jon Seda, Constance Marie, Jackie Guerra, Alex Meneses, Rebecca Lee Meza, Lupe Ontiveros. Estreia: 21/3/97

Mesmo acostumado com tragédias e mortes precoces e repentinas, o mundo da música sofreu um grande abalo em 31 de março de 1995, com o brutal assassinato da cantora Selena, ídolo da comunidade hispânica norte-americana e em vias de iniciar uma promissora carreira internacional com o lançamento de seu primeiro álbum em inglês. Comparada a nomes de peso como Gloria Estefan (por sua influência junto ao público latino), Whitney Houston e Mariah Carey, a jovem de apenas 23 anos de idade foi morta com um tiro disparado pela presidente de seu fã-clube e gerente de uma loja de roupas da sua grife, que, desmascarada por desvio de dinheiro, resolveu a situação de forma a deixar órfãos milhares de fãs inconsoláveis - o que lhe rendeu a condenação à prisão perpétua. Se o nome de Selena não diz muito a quem não fazia parte de sua legião de admiradores (dois meses antes de sua morte ela havia levado mais de 60 mil pessoas a seu show em um estádio em Houston, Texas), é somente porque a interrupção inesperada de sua vida não permitiu. Vencedora do Grammy, garota-propaganda da Coca-cola e dona de uma marca de roupas de sucesso junto a seu público-alvo, Selena ainda assim não era uma unanimidade - a comoção por sua morte junto ao público hispânico foi minimizada por grande parte da população branca americana - mas seu carisma e talento (somados à indignação atônita que seguiu-se à tragédia) foram suficientes para que a notícia de sua morte tomasse conta dos EUA e de parte do mundo. Não foi surpresa para ninguém, portanto, que, quase no aniversário de dois anos do crime, estreasse "Selena", um filme realizado para a televisão que celebrava a vida e a carreira da artista - mas que, por privilegiar apenas esses aspectos de sua trajetória, perde a oportunidade de esclarecer aos neófitos as circunstâncias absurdamente mundanas de sua morte, talvez o único fator que o diferencia de várias outras produções semelhantes.

Dirigido por Gregory Nava - um cineasta já preocupado com questões dos povos latinos, como deixa claro seu filme "Minha família" (95) - e estrelado por uma então quase desconhecida Jennifer Lopez, "Selena" é uma cinebiografia convencional, com todas as limitações de um filme para a televisão. Como não poderia deixar de ser, já que seu produtor executivo é Abraham Quintanilla Jr. - pai da cantora - é uma obra que respeita tanto a obra como a imagem da cantora, procurando ater-se à sua meteórica carreira e suas relações familiares e sem exatamente aprofundar-se dramaticamente em nenhum desses aspectos. Bem-sucedido em recriar momentos importantes da jornada da cantora - como seu show em Houston - o filme de Nava não consegue evitar de tropeçar em alguns clichês do gênero, mas o faz com tal carinho e admiração que é difícil não se deixar envolver, apesar da duração excessiva e da falta total de novidades na história. Das origens familiares até o estrelato e seu desfecho violento - com direito até mesmo a uma história de amor proibido - a vida de Selena é contada sem sobressaltos, mas também sem grandes momentos de destaque. Jennifer Lopez se esforça no papel (foi inclusive indicada ao Golden Globe), mas tem pouco a fazer exceto mimetizar com competência as performances da cantora nos palcos (e sincronizar os números musicais, todos apresentados no filme com a voz da própria Selena). Sua atuação é bastante convincente, mas esbarra em um roteiro superficial - talvez culpa da história em si, mas ainda assim pouco empolgante.


Como em toda biografia musical que se preze, a historia de Selena Quintanilla-Perez começa com uma frustração paterna: parte integrante de um trio de cantores latinos que nunca alcançou o sucesso, Abraham Quintanilla Jr. (Edward James Olmos) encontrou nos filhos a possibilidade de fazer parte da história da música. Ainda criança, cantando no grupo formado por seus irmãos e que se apresentava no restaurante de comida típica de propriedade de seu pai, Selena (interpretada por Rebecca Lee Meza na infância) já começa a chamar a atenção pela afinação e pelo carisma. Com o fechamento do restaurante e palcos maiores em parques de diversão e bares, aos poucos ela vai se transformando em uma espécie de porta-voz da comunidade hispânica, misturando influências musicais que iam dos clássicos apresentados por seu pai até o pop de gente como Madonna e Paula Abdul. Sua evolução na carreira chega ao ponto máximo quando ela passa a ser agenciada pelo experiente Jose Behar (John Verea), que lhe oferece um contrato com a EMI e começa a planejar uma expansão internacional. Nessa época, ela conhece e se apaixona por um dos músicos de sua banda, Chris Perez (Jon Seda) - e esbarra na rejeição de seu pai ao relacionamento. Quando as coisas finalmente se acalmam e tudo parece apontar para um futuro alvissareiro, a tragédia acontece.

E é justamente quando o filme chega a um ponto onde realmente pode sobressair-se em relação a outras cinebiografias que "Selena" mostra sua fragilidade. Ao optar por não dar a devida importância ao fim de sua vida - talvez para não tocar em uma ferida ainda recente e dolorida para os fãs e familiares - Gregory Nava simplesmente termina seu filme de forma apressada e anticlimática. A relação entre a cantora e Yolanda Saldivar (Lupe Ontiveros), de vital importância para explicar os acontecimentos que levaram à tragédia final, é quase ignorada, mostrada em poucas cenas que se perdem em meio a sequências desnecessárias e repetitivas da vida profissional e amorosa de Selena. O que é crucial na história - a quebra de confiança entre as duas, as brigas e por fim o assassinato - fica apenas na imaginação do espectador, que, se não souber de detalhes do acontecido, fica completamente perdido nos minutos finais. Aliás, é de se perguntar o motivo de Nava ter escolhido a atriz Lupe Ontiveros - 54 anos à época das filmagens - para interpretar uma personagem de 34: assim como o clímax que não existe, depõe bastante contra o resultado final. Ainda assim, é um filme correto e carinhoso, valorizado pela interpretação vibrante de Jennifer Lopez - e que agrada em cheio aos fãs da cantora sem aborrecer (demais) àqueles que não a conheceram.

Um comentário:

MINI CRÍTICAS disse...

Essa história é incrível e J-Lo mandou muito bem na atuação.

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