terça-feira

À BEIRA DO ABISMO

 


À BEIRA DO ABISMO (Man on a ledge, 2012, Summit Entertainment/Di Bonaventura Pictures, 102min) Direção: Asger Leth. Roteiro: Pablo F. Fenjves. Fotografia: Paul Cameron. Montagem: Kevin Stitt. Música: Henry Jackman. Figurino: Susan Lyall. Direção de arte/cenários: Alec Hammond/Chryss Hionis. Produção executiva: Jane Myers, David Ready. Produção: Lorenzo di Bonaventura, Mark Vahradian. Elenco: Sam Worthington, Elizabeth Banks, Jamie Bell, Edward Burns, Ed Harris, Kyra Sedgwick, Anthony Mackie, William Sadler, Genesis Rodriguez, Titus Welliver. Estreia: 26/01/2012

Às vezes tudo que um fã de filmes policiais precisa é de uma trama despretensiosa, com um bom ponto de partida, um elenco de bons atores e, se possível, uma ou mais reviravoltas (que nem precisam fazer todo o sentido do mundo).  "À beira do abismo" oferece tudo isso, e, mesmo sem ter feito muito barulho nas bilheterias, cumpre exatamente o que promete. Mesmo que o roteiro não se esquive de clichês e a direção do dinamarquês Asger Leth nunca ultrapasse o status de correta, o resultado final não decepciona a quem procura uma sessão descompromissada e que prescinde de efeitos visuais milionários para envolver as plateias. Estrelado pelo então ascendente Sam Worthington - saído do sucesso de "Avatar" (2009) e a meses de liderar o elenco do remake de "Fúria de titãs" (2012) -, "À beira do abismo" é a prova de que o trivial frequentemente pode ser bastante eficaz.

A primeira cena do filme mostra um homem de cerca de 30 anos, chamado Walker, se hospedando no 21º andar de um hotel de Nova York. Depois de pedir uma farta - e cara - refeição, ele limpa todas as impressões digitais do quarto e simplesmente se dirige ao parapeito, com o claro objetivo de se jogar. Para que isso não aconteça (ou ao menos que seja adiado), ele pede a presença de Lydia Mercer (Elizabeth Banks), experiente em negociar com suicidas, que acaba de sair de uma situação traumática com vítimas. O que nem Lydia nem o encarregado do caso, Jack Dougherty (Edward Burns), sabem é que o tal homem se chama, na verdade, Nick Cassidy, e é um ex-policial que, condenado pelo roubo de um valiosíssimo diamante, fugiu do presídio depois do funeral do pai e tem o objetivo de provar sua inocência. Mais do que isso, durante o processo de negociação, acontece o roubo a uma joalheria de propriedade do milionário David Englander (Ed Harris), que também está em vias de apresentar à cidade um ambicioso projeto imobiliário. Será que os três fatos tem relação? Por que Cassidy escolheu justamente Mercer para tentar impedí-lo de jogar-se do prédio? E qual o plano do jovem Joey (Jamie Bell) para invadir silenciosamente a joalheria de Englander?

 

As respostas vão surgindo aos poucos, nem sempre de forma sutil, mas sempre de modo a empurrar adiante a história, como manda o manual dos roteiros de Hollywood. Boa parte dos segredos são desvelados antes mesmo da metade da sessão, que se dedica então a cenas de ação dirigidas com certa competência pelo dinamarquês Asger Leth, cujo currículo contava apenas com o documentário "Os fantasmas de Cité Soleil" (2006): nessa segunda fase, o filme abandona a narrativa fragmentada que havia adotado (com interessantes e empolgantes flashbacks) para abraçar com vontade o subgênero "filmes de golpe". Nem tudo funciona - o personagem de Ed Harris por vezes soa deslocado -, mas consegue manter o ritmo de forma admirável. Ecoando situações de "Um dia de cão" (1975) - as testemunhas populares como parte da ação, a cobertura midiática - e do clássico "Horas intermináveis" (1951), de Howard Hawks - a ideia central, tirada de uma reportagem sobre um caso de suicídio ocorrido em 1938 -, "À beira do abismo" ganha pontos ao não cair na armadilha de tentar ser engraçado (ainda que as interações entre Jamie Bell e Genesis Rodriguez sejam recheadas de falas de duplo sentido) e conquistar o público com um tom adulto que tampouco apela à violência tão comum no cinema policial.

A discrição da direção de Leth também é responsável por extrair de seu elenco desempenhos firmes - ainda que não exatamente memoráveis. Sam Worthington sai-se bem com um protagonista que não depende de efeitos digitais, mesclando força e fragilidade nas medidas adequadas, enquanto o jovem Jamie Bell destaca-se em um papel de anti-herói e Elizabeth Banks (em papel que quase ficou com Amy Adams) tem o carisma necessário para segurar dividir as principais cenas com Worthington sem parecer coadjuvante. É de lamentar apenas a forma como Ed Harris e Kyra Sedgwick (como a repórter Suzie Morales) são subaproveitados - especialmente Kyra, cuja personagem poderia ter rendido ótimos momentos. Tais pequenos problemas, no entanto, não chegam a atrapalhar a diversão. "À beira do abismo" é um entretenimento bastante decente, que deixa claro o potencial de seu ator central para além dos limites de Pandora.

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