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QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER

 


QUANDO UM HOMEM AMA UMA MULHER (When a man loves a woman, 1994, Touchstone Pictures, 126min) Direção: Luis Mandoki. Roteiro: Ron Bass, Al Franken. Fotografia: Lajos Koltai. Montagem: Garth Craven. Música: Zbigniew Preisner. Figurino: Linda Bass. Direção de arte/cenários: Stuart Wurtzel/Kara Lindstrom. Produção executiva: Ron Bass, Al Franken, Simon Maslow. Produção: Jon Avnet, Jordan Kerner. Elenco: Meg Ryan, Andy Garcia, Lauren Tom, Philip Seymour Hoffman, Ellen Burstyn, Tina Majorino, Mae Whitman. Estreia: 29/4/94

Por incrível que pareça - levando-se em conta o quanto o filme em si não é nada memorável e pouco acrescentou às carreiras dos envolvidos -, a ideia central de "Quando um homem ama uma mulher" surgiu de um rascunho de dez páginas escritas por ninguém menos que Orson Welles. Isso mesmo: o homem responsável por abalar a indústria do cinema com seu "Cidadão Kane" (1941) foi quem escreveu os primeiros rascunhos do filme lançado em 1994 e que conta a história de uma família ameaçada pelo fantasma do alcoolismo. Parte das tentativas de Meg Ryan em abandonar a imagem doce de estrela de comédias românticas, no entanto, a produção dirigida pelo inexpressivo Luis Mandoki não encontrou seu público e, se não foi um fracasso imenso nas bilheterias, tampouco tornou-se um sucesso comercial. Em parte por culpa do tema sombrio - ainda que revestido de uma leveza típica dos filmes Disney (através da Touchstone, sua subsidiária para filmes adultos) -, em parte pela falta de ousadia em mergulhar mais fundo no tema, o filme de Mandoki fica no meio-termo entre o que é e o que poderia ter sido. Pode emocionar aos mais sensíveis, mas sua superficialidade não deixa de incomodar.

Assumindo um papel que foi pensado para Debra Winger (e que também foi oferecido à Michelle Pfeiffer), a adorável Meg Ryan deixa de lado sua persona agradável e encantadora para dar vida (e lágrimas) à Alice Green, uma mãe de família dedicada que esconde, por trás de seus modos gentis e carinhosos, um vício quase paralisante por álcool. Quem sabe de seu problema é Michael (Andy Garcia), um piloto de avião que passa seus dias tentando encobrir as crises da mulher - às vezes sutis, outras bastante violentas. Suas filhas pequenas, Jess (Tina Majorino) e Casey (Mae Whitman), são testemunhas dos acessos da mãe, e sofrem a cada discussão entre os pais - além de serem potenciais vítimas da violência que pode surgir a qualquer momento. Depois de uma crise particularmente grave, Alice aceita ir para uma clínica de reabilitação - mas seu retorno acaba tendo efeitos colaterais graves em sua relação com o marido: antes o pilar que mantinha a família de pé, o responsável e amoroso Michael se vê repentinamente sem função na dinâmica da casa e o casamento encontra, então, uma nova ameaça.

 

Não é que o filme de Mandoki seja exatamente ruim. O problema é que, comparado a outras (e mais corajosas) produções sobre o mesmo tema, "Quando um homem ama uma mulher" empalidece irremediavelmente. Não há, nele, a sensação de urgência de "Farrapo humano" (1945) e "Vício maldito" (1962), que não à toa são referenciais em relação ao assunto. "Despedida em Las Vegas", que seria lançado no ano seguinte, também tem a ousadia que lhe falta, ao mergulhar Nicolas Cage em um espiral de desespero poucas vezes agradável ao olhos do espectador. Visualmente asséptico e emocionalmente superficial, o resultado final soa mais como uma telenovela do que como cinema - para isso conta também o roteiro quadradinho, escrito pelo vencedor do Oscar (por "Rain Man", de 1988) Ron Bass: a relação entre o casal de protagonistas, por exemplo, nunca atinge todo o seu potencial dramático, sendo ofuscado em diversas ocasiões pela dupla de atrizes mirins que interpretam suas filhas. Por mais que a intenção seja retratar o estrago feito pelo vício em um núcleo familiar, não deixa de ser frustrante ver o esvaziamento de uma questão tão séria em uma realização tão pouco ousada e que prefere o melodrama a discussões mais contundentes.

Nitidamente se esforçando em demonstrar uma nova faceta de seu talento, Meg Ryan nem sempre dá conta do recado, muitas vezes caindo na armadilha do exagero que o papel cria a cada cena - mas é louvável que leve a sério sua tarefa (a ponto de ter sido lembrada pelos colegas com uma indicação ao Screen Actors Guild). Andy Garcia, por sua vez, faz o que pode com um personagem que é praticamente o apoio para as crises de Ryan - é de se imaginar como Tom Hanks, a primeira escolha para o papel, se sairia em cena ao lado de Debra Winger. E no elenco coadjuvante, um jovem Philip Seymour Hoffman mal consegue destacar-se, assim como a veterana Ellen Burstyn - mal-aproveitada como a mãe de Alice. Amparando-se na força do tema, mas sem conseguir desenvolvê-lo a contento, "Quando um homem ama uma mulher" é um filme sobre alcoolismo para quem não tem a intenção de vê-lo com toda a feiura e dor que ele traz.

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