SEM
LICENÇA PARA DIRIGIR (License to drive, 1988, 20th Century Fox, 88min)
Direção: Greg Beeman. Roteiro: Neil Tolkin. Fotografia: Bruce Surtees.
Montagem: Wendy Greene Bricmont, Stephen Semel. Música: Jay Ferguson.
Figurino: Hilary Wright. Direção de arte/cenários: Lawrence G.
Paull/Jeff Halley. Produção: John A. Davis, Andrew Licht, Jeffrey A.
Mueller. Elenco: Corey Haim, Corey Feldman, Heather Graham, Carol Kane,
Richard Masur, Nina Siemaszko. Estreia: 06/7/88
O público adolescente dos anos 1980 tinha um subgênero cinematográfico para chamar de seu e um grupo de astros próprios. Dentre esses nomes conhecidos e admirados por todos, estavam dois amigos que compartilhavam o mesmo primeiro nome, uma série de filmes em comum e uma história de amistosa rivalidade. Corey Haim e Corey Feldman tinham poucos meses de idade de diferença e disputaram papéis em várias produções - e para desgosto de Feldman, seu concorrente era sempre escolhido como protagonista, até mesmo por seu visual mais próximo do que se considerava ideal na Hollywood da época. Vítimas de constantes abusos nos bastidores - ao menos segundo o polêmico documentário "The two Coreys" (2007) - estiveram juntos em sucessos como "Os garotos perdidos" (1987), e repetiram a parceria em "Sem licença para dirigir", uma comédia despretensiosa e barata que, seguindo todas as diretrizes do gênero, conquistou seu público-alvo ao apostar no carisma de seu elenco e no ritmo ágil, que faz com que seus quase noventa minutos de duração passem voando.
Quem assiste a uma comédia adolescente dos anos 1980 - seara na qual John Hughs nadou de braçada, além de lançar nomes como Molly Ringwald e Anthony Michael Hall -, sabe o que se pode esperar de "Sem licença para dirigir": protagonistas conduzidos por seus hormônios em combustão, situações banais transformadas em odisseias quase épicas, um humor quase ingênuo calcado na realidade de seu público-alvo e zero compromisso com a verossimilhança. Dito isso, é difícil não se deixar conquistar pela simpatia da trama e de seus (quase) fracassados personagens. Corey Haim vive o desajeitado e tímdo Les Anderson, que, aos dezesseis anos, tem apenas dois objetivos claros na vida: tirar a carteira de motorista e conquistar a bela Mercedes Lane (Heather Graham), uma colega de classe que namora um rapaz mais velho e devidamente motorizado. Depois de uma briga com o namorado, a bela Mercedes convida seu fã para um encontro e, como não poderia deixar de ser, Les agarra a oportunidade com unhas e dentes. Porém, depois de mentir aos pais que passou na prova teórica - e por consequência ter falhado em conquistar sua licença -, Les é proibido de sair de casa à noite, o que impede de por em prática seus planos românticos. Sem querer perder a oportunidade, no entanto, Les acaba por fugir com o Cadillac de seu avô para encontrar a mulher de seus sonhos - e embarca em uma noite em que tudo que poderia dar errado acontece.
Quem abandonar o senso crítico e mergulhar na trama quase nonsense do roteirista Neil Tolkin certamente irá encontrar muito com o que se divertir em "Sem licença para dirigir". A direção de Greg Beeman - cujo currículo não apresenta trabalhos de grande destaque - acerta em tratar as aventuras e desventuras de Les Anderson como uma jornada de pequenas desgraças, em que cada mal-entendido leva a uma consequência maior e mais absurda que a anterior. Assim como no quase clássico juvenil "Curtindo a vida adoidado" (1986), seu filme se utiliza de um período determinado (e limitado) de tempo como um rito de passagem, onde valores como coragem e lealdade surgem diante de uma série de adversidades que, no final das contas, servem para forçar uma espécie de maturidade. Criado quase em uma redoma por pais superprotetores (e à espera de um bebê em vias de chegar ao mundo), Les se vê repentinamente obrigado a cuidar de si mesmo, de sua pretensa namorada, dos amigos próximos (um deles vivido por Corey Feldman) e do sacrossanto carro de seu avô. Nem sempre consegue - mais por culpa alheia do que própria -, mas, ao assumir responsabilidades, o jovem descobre, em si mesmo, uma força e uma capacidade impensadas. E ser adolescente, afinal de contas, não é exatamente isso?
Contando com a ótima Carol Kane em uma pequena participação como a mãe ultra-grávida de Les e com Heather Graham em seu primeiro papel de destaque - ainda que no ingrato papel de interesse romântico quase mudo e sem maior desenvolvimento no roteiro -, "Sem licença para dirigir" não assumiu o status de clássico juvenil, como o já citado "Curtindo a vida adoidado" e outros filmes dirigidos e/ou produzidos por John Hughes, como "Clube dos cinco" (1985) e "A garota de rosa-shocking" (1986). No entanto, ao seguir sua bem-sucedida fórmula (mas dando ênfase no humor e não ao romance), se demonstra uma produção igualmente divertida e empolgante. Uma sessão da tarde das mais nostálgicas!
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