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MEU VIZINHO MAFIOSO

 


MEU VIZINHO MAFIOSO (The whole nine yards, 2000, Franchise Pictures, Lansdown Films, 98min) Direção: Jonathan Lynn. Roteiro: Mitchel Kapner. Fotografia: David Franco. Montagem: Tom Lewis. Música: Randy Edelman, Gary Gold. Figurino: Edi Giguere. Direção de arte/cenários: David L. Snyder/Mary Lynn Deacham. Produção executiva: George Edde, Elie Samaha, Andrew Stevens. Produção: Allan Kaufman, David Willis. Estreia: Bruce Willis, Matthew Perry, Natasha Henstridge, Amanda Peet, Rosanna Arquette, Kevin Pollak, Michael Clarke Duncan. Estreia: 17/02/2000

Às vezes um grande astro de cinema só gostaria de se divertir durante o trabalho - e se, de quebra, ainda divertir o espectador, o lucro é ainda maior. É o que acontece com "Meu vizinho mafioso": nitidamente um veículo para explorar o lado cômico do ator Bruce Willis - com a carreira ressuscitada pelo êxito de "O sexto sentido" (1999) -, o filme de Jonathan Lynn conquista justamente por sua despretensão e frescor. Tirando sarro de sua imagem de galã sem precisar de muito esforço, Willis mostra-se à vontade mesmo tendo que dividir a atenção com um colega de cena especialista em fazer rir. Em seu terceiro trabalho como protagonista no cinema, Matthew Perry - no auge do sucesso da série "Friends" - pela primeira vez tem espaço para oferecer à plateia o que sempre teve de melhor: um timing cômico nunca menos que impecável Em uma parceria inspirada - que levou Willis a fazer uma participação especial no seriado de Perry -, os dois atores valorizam e se sobressaem a um roteiro por vezes engessado (ainda que dotado de boas tiradas e alguns momentos genuinamente engraçados). Não bastasse isso, o elenco ainda conta com um inesperado destaque: a bela Amanda Peet, quase roubando a cena dos colegas mais experientes.

Primeira grande produção hollywoodiana filmada em Montreal (Canadá), "Meu vizinho mafioso" conta a história de Nicholas Oseransky (Matthew Perry), um dentista cuja vida doméstica é um inferno devido à sua impossibilidade de divorciar-se da esposa, Sophie (Rosanna Arquette), a filha de um antigo sócio. Com uma rotina entediante e sem perspectivas, ele se surpreende ao chegar do trabalho e dar de cara com o novo vizinho, que ele reconhece, apavorado, ser Jimmy Tudeski (Bruce Willis), um assassino de aluguel em liberdade condicional depois de ter delatado vários criminosos violentos. Surge entre eles uma inusitada amizade, que entra em conflito quando o pacato cidadão de bem se vê obrigado pela esposa a viajar até Chicago e dar a localização do ex-matador para o filho de seu antigo chefe, Janni Gogolak (Kevin Pollak). Disposto a ignorar as ordens da desagradável cônjuge, Nicholas se vê descoberto por um capanga de Gogolak, o assustador Frankie Figs (Michael Clarke Duncan) - e fica ciente de que ele mesmo está com a cabeça a prêmio. As coisas ficam ainda mais confusas quando ele se apaixona pela ex-mulher de Jimmy, a bela Cynhtia (Natasha Henstridge), e acaba sendo o centro de uma perigosa jogada que coloca os dois inimigos frente à frente. Como se não fosse suficiente, Jimmy se encanta pela secretária de Nicholas, a atraente Jill (Amanda Peet) - que também tem seus segredos bem guardados por trás da imagem de profissional dedicada.

 

Dirigido pelo mesmo Jonathan Lynn que levou Marisa Tomei ao Oscar de atriz coadjuvante por "Meu primo Vinny" (1992), "Meu vizinho mafioso" se escora em dois pilares supremos. O primeiro deles é a trama, repleta de reviravoltas, surpresas, personagens dúbios e uma série de possibilidades (nem todas exploradas pelo roteiro, diga-se de passagem). O outro é seu elenco, que mistura rostos conhecidos, gente nova, belas mulheres e dois atores no auge de seu talento cômico. A união dessas duas bases - tão cruciais mas frequentemente esquecidas pelos produtores - resulta em um filme simpático, do qual é fácil de se gostar mesmo que não consiga deixar de ser apenas uma sessão da tarde divertida e inconsequente. Lynn não é um diretor brilhante, mas acerta ao permitir que Matthew Perry explore seu dom em construir personagens de fácil empatia com a plateia e enfatize o charme cafajeste de Bruce Willis. Ainda que o roteiro se torne um tanto confuso no ato final - culpa do excesso de personagens e da edição pouco criativa  -, a produção cumpre com louvor o que promete, fazendo rir com o absurdo das situações deflagradas por um simples aperto de mão entre vizinhos.

Com uma renda de mais de 100 milhões de dólares coletados pelo mundo - a maior bilheteria da carreira cinematográfica de Matthew Perry -, "Meu vizinho mafioso" acabou sofrendo do mesmo mal dos inesperados sucessos comerciais, dando origem a uma sequência, lançada em 2004 e que fracassou fragorosamente mesmo contando com o mesmo elenco principal. Sinal de que o frescor de uma ideia muitas vezes é tão importante quanto atores na crista da onda. Com direção de Howard Deutch - de "A garota de rosa-shocking" (1986) -, "Meu vizinho mafioso 2" manchou as lembranças positivas de seu original, que felizmente se mantém como um entretenimento dos mais agradáveis.

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