segunda-feira

POR FAVOR, MATEM A MINHA MULHER


POR FAVOR, MATEM MINHA MULHER (Ruthless people, 1986, Touchstone Pictures, 93min) Direção: Jim Abrahms, David Zucker, Jerry Zucker. Roteiro: Dale Launer. Fotografia: Jan De Bont. Montagem: Arthur Schmidt. Música: Michael Colombier. Figurino: Rosanna Norton. Direção de arte/cenários: Donald Woodruff/Anne D. McCulley. Produção executiva: Joanna Lancaster, Richard Wagner, Walter Yetnikoff. Produção: Michael Peyser. Elenco: Danny DeVito, Bette Midler, Judge Reinhold, Helen Slater, Bill Pullman, Anitta Morris. Estreia: 27/6/86

Logo depois de uma pré-estreia de "Por favor, matem minha mulher", o ator Danny DeVito ligou para sua parceira de cena, Bette Midler, e os dois ficaram um longo tempo no telefone discutindo como o filme era ruim e como as carreiras de ambos provavelmente estavam arruinadas com isso. Meses depois, com o sucesso de bilheteria da produção - mais de 70 milhões de dólares de arrecadação -, é provável que os dois astros tenham mudado de ideia. Midler assinou um polpudo contrato com a Touchstone (subsidiária da Disney para filmes adultos) e DeVito iniciou uma bem-sucedida carreira também como diretor já no ano seguinte, com o irônico "Joga a mamãe do trem" (1987). Último filme dirigido pelo trio ZAZ - Jim Abraham, Jerry Zucker e David Zucker -, conhecidos pelos demolidores "Apertem os cintos... o piloto sumiu" e "Top Secret: superconfidencial" -, a comédia brincava com o estilo de vida dos novos-ricos californianos (com seus exageros, futilidade e arrogância), mas recheado do humor iconoclasta dos cineastas e amparado no histrionismo irresistível de sua atriz central - uma força da natureza que teve, na segunda metade dos anos 1980, seu período de maior popularidade.

Na verdade, Bette Midler só entrou no projeto depois da saída de Madonna, que abandonou o barco devido às famosas "diferenças artísticas" entre ela e os diretores. Levando-se em consideração que Madonna nunca foi exatamente uma atriz de grande talento, a mudança no elenco foi providencial: mesmo que apareça relativamente pouco (dividindo seu tempo com as outras subtramas que se somam ao resultado final), Midler é a intérprete ideal para a insuportável Barbara Stone, herdeira, socialite e perua irrecuperável que se torna vítima de um sequestro orquestrado para atingir seu marido, e que acaba se unindo a seus algozes quando descobre que, ao contrário do que se poderia esperar, ele não está nem um pouco disposto a pagar o resgate. Irascível e agressiva nos momentos iniciais, debochada e irônica na segunda metade, a personagem é um prato cheio para a atriz - mesmo que, posteriormente, ela não tenha conseguido se livrar muito do estilo, que talvez não agrade a todos. Para alívio geral, porém, o rocambolesco roteiro dá espaço para o restante do elenco, em uma trama de erros envolvente e divertida que mantém o interesse até o clímax.

 

O sequestro de Barbara Stone é o pontapé inicial do filme. Seu marido, Sam (Danny DeVito), casou-se com ela por puro interesse, mas seu maior desejo é livrar-se de suas inconveniências e estupidez. Seus planos de assassinar a esposa são interrompidos, no entanto, quando ele recebe a notícia de que ela acaba de ser raptada: ao invés de pensar em um crime perfeito, basta a ele fazer corpo mole, não pagar o resgate e correr pro abraço. Mas as coisas não são assim tão simples. Sua amante, Carol (Anita Morris), também tem um amante, o pouco inteligente Earl (Bill Pullman), e o casal pretende chantagear Sam com a filmagem do assassinato planejado pelo industrial - e é claro que, sem assassinato nenhum, a fita que eles tem em mãos tem um outro tipo de material que ambos desconhecem (o que acaba os deixando em uma situação pouco confortável). Além disso, enquanto espera que o marido pague o resgate, Barbara descobre que seus sequestradores não tem nada de criminosos corriqueiros: Ken (Judge Reinhol) e Sandy (Helen Slater) procuram apenas um modo de vingar-se de Sam, que os passou para trás ao roubar uma ideia que poderia ter-lhes deixado ricos.

O roteiro de "Por favor, matem minha mulher" é um primor: deixando de lado a ideia de que é imprescindível haver lógica em uma comédia, Dale Launer criou uma série de situações bizarras e desconcertantes que se acumulam e se cruzam involuntariamente. Dando espaço para que todo o elenco tenha momentos seus, ele evita tempos mortos, imprime um ritmo apropriado ao gênero e de quebra convida o espectador a tentar adivinhar os rumos da trama - sem que, com isso, a torne previsível. A direção dos amigos ZAZ é precisa ao evitar os excessos de Midler e sua própria tendência ao anarquismo visual que marcou seus trabalhos anteriores. Mesmo que no final haja uma certa dose de moralismo, o tom acertadamente caótico e a atmosfera oitentista - perceptível em cada cenário e figurino - fazem desse potencial fiasco uma inesperadamente feliz sessão da tarde.

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