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BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDROIDES


BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDROIDES (Blade Runner, 1982, Warner Bros, 117min) Direção: Ridley Scott. Roteiro: Hampton Fancher, David Peoples, conto "Do androids dream of eletric sheep?", de Philip K. Dick. Fotografia: Jordan Cronenweth. Montagem: Gillian L. Hutsching. Música: Vangelis. Figurino: Michael Kaplan, Charles Knode. Direção de arte/cenários: Lawrence G. Paull/Linda DeScenna. Casting: Jane Feinberg, Mike Fenton, Marci Liroff. Produção executiva: Hampton Francher, Brian Kelly. Produção: Michael Deeley. Elenco: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Edward James Olmos, Daryl Hannah, M. Emmet Walsh, Joanna Cassidy. Estreia: 25/6/82

2 indicações ao Oscar: Direção de arte, Efeitos Visuais

Definitivamente, quando o assunto é cinema, o tempo é um santo remédio. Quando estreou nos EUA, em 1982, o filme "Blade Runner, o caçador de androides" foi um fiasco de bilheteria (mesmo estrelado pelo Indiana Jones em pessoa Harrison Ford) e praticamente expulso das salas de exibição devido a críticas negativas. Mesmo tornando-se cult por parte do público, entraria para a história como um dos maiores fracassos da história se, no final da década não fosse descoberta a cópia de uma outra versão do filme, sem as interferências do estúdio no trabalho de seu diretor, Ridley Scott. Essa nova versão tornou-se quase uma lenda urbana, e dez anos depois de sua estreia, voltou às telas de cinema e finalmente recebeu os aplausos que sempre mereceu. Hoje já é reconhecido como uma das obras-primas de seu gênero.

Gênero, aliás, é algo não extremamente rígido em se tratando de "Blade Runner". Apesar de ser nitidamente uma ficção científica - com tudo que isso lhe dá de direito - a visão de Scott (vindo direto do sucesso de "Alien, o oitavo passageiro") dialoga diretamente com os filmes noir que fizeram a glória do cinema americano dos anos 40. Tudo devido ao excelente roteiro inspirado livremente no conto "Do androis dream of eletric sheep?", de Philip K. Dick, que mistura elementos de uma trama policial a uma visão distópica da sociedade do futuro. Passado na Los Angeles de 2019 (ao contrário do conto original, que situava sua trama em 1992), "Blade Runner" mostra uma Terra ultrapovoada, úmida e claustrofóbica que há muito já coloniza outros planetas, através de escravos criados com as principais características humanas, mas com sua força e agilidade redobradas. Esses robôs são chamados "replicantes" e um motim deles deflagra uma caçada violenta e impiedosa, uma vez que suas mortes não são chamadas de assassinato e sim de "aposentadoria". Essa rebelião faz com que um grupo de replicantes volte à Terra e um antigo caçador de androides, Deckard (Harrison Ford) seja chamado para eliminá-los. Em seu caminho, ele conhece a bela Rachael (Sean Young), secretária da imponente Tyrrell Corporations - que fabrica os replicantes - e se apaixona por ela, mesmo sabendo que ela não é humana. Ao mesmo tempo que lida com isso, ele chega mais e mais perto do líder da rebelião dos robôs, o temido Roy Batty (Rutger Hauer) e passa a questionar sua missão.


O mais impressionante no resultado final de "Blade Runner" é que, qualquer que seja a versão a ser assistida ele continua sendo magicamente fascinante. A narração em off da versão lançada em 1982, mesmo sendo desprezada por Harrison Ford, acrescenta um toque a mais de noir à trama e só peca por seu final feliz exigido pela Warner. A versão do diretor é mais "artística", com o acréscimo de alguns detalhes que fomentam a discussão crucial do filme: afinal de contas Deckard era ou não um replicante, também? Nenhuma conclusão definitiva pode ser considerada, uma vez que nem mesmo os criadores do filme chegam a um consenso. É preciso ver, rever e examinar com cuidado cada cena criada por Scott e companhia para que se tente chegar a um veredicto. Mas será que isso realmente importa?

"Blade Runner", mais do que um filme sobre um homem caçando androides em um futuro nada auspicioso, é uma bela reflexão sobre os elementos que fazem o ser humano ser "humano", sobre a liberdade, sobre o amor e principalmente sobre a ambição dos homens em brincar de Deus. Ao inserir filosofia em uma trama que normalmente passaria como uma ficção científica com o objetivo de arrecadar fortunas, o inglês Ridley Scott brindou os fãs de cinema com um um filme de uma perenidade inegável. A bela trilha sonora de Vangelis, sua direção de arte high-tec mas nunca exagerada e a fotografia quase palpável de Jordan Cronenweth o elevam acima do corriqueiro. E não deixa de ser saudável perceber que, no mesmo ano em que "ET" - um filme puramente de entretenimento que utilizava elementos de ficção científica para emocionar sem exigir demais do cérebro - foi lançado, tenha chegado às telas um petardo como este, que não apenas faz pensar como ainda não busca a emoção fácil.

"Blade Runner" é, sim, uma obra-prima. Independente da leitura que se faça de suas intenções, é um filme que conseguiu sair do limbo dos fracassos comerciais para o paraíso do reconhecimento tardio. Afinal, nunca é tarde para reconhecer-se erros de julgamento...

3 comentários:

Alan Raspante disse...

Acho Blade Runner, maravilhoso. É, um ótimo filme, merece o status que tem hoje!

Jenifer Torres disse...

Blade traz Ridley Scott no elhor de sua forma!

Rodrigo Mendes disse...

Visual em "claro escuro" como nenhum outro!

Na lista das maiores sci-fic do cinema!

Abs,
Rodrigo

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