quarta-feira

AUSÊNCIA DE MALÍCIA

AUSÊNCIA DE MALÍCIA (Absence of malice, 1981, Columbia Pictures, 116min) Direção: Sydney Pollack. Roteiro: Kurt Luedtke. Fotografia: Owen Roizman. Montagem: Sheldon Kahn. Música: Dave Grusin. Figurino: Bernie Pollack. Direção de arte/cenários: Terence Marsh/John Franco Jr.. Produção executiva: Ronald L. Schwary. Produção: Sydney Pollack. Elenco: Paul Newman, Sally Field, Bob Balaban, Melinda Dillon, Luther Adler. Estreia: 15/11/81

3 indicações ao Oscar: Ator (Paul Newman), Atriz Coadjuvante (Melinda Dillon), Roteiro Original

Um belo dia, o repórter Kurt Luedtke, editor-executivo do The Detroit Free Press, percebeu que já tinha experiência o suficiente dentro do universo do jornalismo para escrever um roteiro sobre o assunto. Pediu demissão, mudou-se para Los Angeles e, inspirado pela história real de um colega do Washington Post que havia sido obrigado a devolver um Pulitzer quando foi descoberto que sua história era inventada, criou a trama de "Ausência de malícia" - que discutia os problemas inerentes à liberdade de expressão. Apresentando um tema contundente na democracia dos EUA - que poucos anos antes havia testemunhado a queda de um presidente graças à denúncias de uma dupla de jornalistas -, o roteiro de Luedtke logo interessou ao cineasta George Roy Hill - vencedor do Oscar por "Golpe de mestre" (73). Apesar do interesse, no entanto, Hill não se manteve à frente do projeto por muito tempo, mas teve um substituto à altura. Já no comando da produção, o consagrado Sydney Pollack mostrou que não tinha medo da potencial controvérsia a respeito do tema central do filme e escalou para os papéis centrais uma dupla de grandes astros, Al Pacino e Diane Keaton (ambos do elenco de "O poderoso chefão"). A saída de Pacino - e posteriormente de Keaton - não abalou o cineasta, que ofereceu então os papéis ao prestigiado Paul Newman e a recém oscarizada Sally Field. Surgia então um filme que encantaria boa parte da crítica, renderia mais de 40 milhões de dólares nas bilheterias e chegaria à lista de indicados ao Oscar em três importantes categorias.

Corajosamente indo em direção contrária ao bem sucedido "Todos os homens do presidente" (76), que narrava a investigação do Washington Post que revelou o escândalo de Watergate e levou à renúncia de Richard Nixon, Sydney Pollack mostra, em "Ausência de malícia", um outro lado do jornalismo investigativo, questionando os limites da liberdade de expressão. Se no premiado filme de Alan J. Pakula os repórteres vividos por Dustin Hoffman e Robert Redford eram o protótipo do heroísmo e da coragem, na obra de Pakula o outro lado do universo jornalístico é mostrado através de Megan Carter (Sally Field), uma repórter ambiciosa mas um tanto ingênua que é pega em uma armadilha criada pelas raposas do FBI: por sua causa, o nome de Mike Gallagher (Paul Newman) é ligado à investigação de um homicídio, apesar de seu álibi e de suas contundentes negativas. Filho de um conhecido mafioso recentemente morto, Gallagher passa a ter sua vida devassada pelos jornais e seu negócio como comerciante de bebidas em Miami prejudicado. Em busca da verdade - e para consertar seu possível erro de julgamento -, Megan começa a investigar os detalhes de sua própria notícia e esbarra em Teresa (Melinda Dillon), uma velha amiga de Mike, que pode ser a chave de todo o interesse do empresário em proteger sua privacidade.


Contando com uma atuação exemplar de Paul Newman, que injeta um misto de elegância e mistério a um personagem cujas reais intenções e motivações só vão sendo relevadas aos poucos, "Ausência de malícia" apresenta um ritmo que o aproxima mais das cerebrais produções policiais dos anos 70 do que dos filmes mais ágeis da década seguinte. Dirigido com segurança e sem espaço para piadas fora de hora, o filme de Pollack só força um pouco a barra quando o roteiro insiste em um romance pouco convincente entre sua dupla de protagonistas: por mais que seja irresistível acrescentar uma dose de
leveza à trama, a história de amor entre Megan e Mike soa deslocada e desnecessária - principalmente porque interrompe o fluxo da narrativa mais importante e atraente. Isso não impediu, porém, que o roteiro de Luedtke fosse candidato ao Oscar da categoria - que perdeu para "Carruagens de fogo", o papa-Oscar surpresa da temporada. Newman também concorreu à estatueta, assim como a coadjuvante Melinda Dillon, mas ambos também foram derrotados - ele pelo veterano Henry Fonda ("Num lago dourado") e ela por Maureen Stapleton ("Reds"). Apenas Sally Field ficou de fora das indicações - e por ironia, a primeira escolha para seu papel, Diane Keaton, chegou às cinco finalistas da categoria de melhor atriz, por "Reds".

Longe de ser um clássico da estatura de "Todos os homens do presidente" ou outros filmes que se utilizam dos bastidores do jornalismo para fazer uma crônica d sua época, "Ausência de malícia" é um filme apenas correto, valorizado por seus atores e pela direção contida de Sydney Pollack. Discute um tema relevante, mas lhe falta paixão e até mesmo uma química mais potente entre Newman e Sally Field, dois atores excelentes mas que nem sempre conseguem o essencial: despertar a simpatia da plateia. Essa falha acaba por atrapalhar o resultado final, apesar do capricho das atuações e da discussão que levanta. Um bom filme, mas muito aquém de outras obras bem melhores de Pollack.

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