ELYSIUM (Elysium, 2013, TriStar Pictures, 109min) Direção e roteiro: Neill Blomkamp. Fotografia: Trent Opaloch. Montagem: Julian Clarke, Lee Smith. Música: Ryan Amon. Figurino: April Ferry. Direção de arte/cenários: Philip Ivey/Peter Lando. Produção executiva: Sue Baden-Powell. Produção: Bill Block, Neill Blomkamp, Simon Kinberg. Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga, William Fitchner, Diego Luna, Wagner Moura. Estreia: 07/8/13
Depois do inesperado - ainda que justo - sucesso de "Distrito 9", que chegou a concorrer aos Oscar de melhor filme e roteiro adaptado em 2010, todo mundo em Hollywood estava curioso em saber qual seria o projeto seguinte de seu diretor, Neill Blomkamp. Inteligente e sabendo que em time que está ganhando não se mexe, o cineasta sul-africano resolveu então que o melhor a fazer seria manter o que havia dado certo em sua obra-prima (a crítica social através da ficção científica, seu amigo de infância Sharlto Copley e o equilíbrio entre drama e ação), injetar um orçamento mais generoso (que ultrapassou a barreira dos 100 milhões de dólares) e contar com a presença de astros populares (Matt Damon e Jodie Foster). Nem tudo deu exatamente certo: apesar do relativo sucesso nos EUA, "Elysium" não repetiu a mesma performance de "Distrito 9", dividiu a crítica e só conseguiu se pagar com a bilheteria mundial. Não deixa de ser injusto. Apesar de não ter o mesmo brilhantismo do filme mais conhecido de Blomkamp, "Elysium" é uma produção muito mais interessante do que a grande maioria dos lançamentos do gênero: diverte, faz pensar, é tecnicamente impecável e conta com um elenco internacional de fazer inveja a qualquer diretor muito mais experiente.
Com um filme tão impressionante como "Distrito 9" como cartão de visitas, não foi difícil a Neill Blomkamp escalar um time de sonhos para o elenco de "Elysium". além dos prestigiados Matt Damon e Jodie Foster (dois dos mais inteligentes e confiáveis astros de Hollywood), o cineasta contou com o mexicano Diego Luna e os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura para dar vida a uma história fascinante sobre um mundo pós-apocalíptico onde a diferença de classes não é apenas endêmica: ela faz também a diferença entre a vida e a morte. Com uma impressionante direção de arte e uma fotografia assombrosa, "Elysium" é um filme de extrema urgência e relevância social, uma metáfora pouco sutil sobre a política de imigração e, melhor ainda, um entretenimento que jamais esquece sua principal função: divertir a plateia com cenas de ação empolgantes e personagens cativantes. Pode-se até dizer que em sua segunda metade as situações se atropelam um pouco, mas mesmo assim é difícil não concordar que sua mistura entre cinema e crítica social é construída com precisão cirúrgica - e que é virtualmente impossível desviar os olhos da tela do primeiro ao último minuto da sessão.
A trama se passa em 2154, e a Terra está completamente arruinada, sofrendo com escassez de recursos e uma superpopulação escravizada em subempregos e miséria. Sua condição miserável contrasta radicalmente com aquela que levam os felizardos que, com dinheiro o suficiente para isso, moram em uma estação espacial chamada Elysium, praticamente um clube de luxo, sofisticado e habitado por aqueles considerados a nata da sociedade. O único problema do local - mantido com mão de ferro pela secretária de defesa, Delacourt (Jodie Foster) - são as constantes tentativas de invasão por moradores da Terra, que procuram desesperadamente chegar até as milagrosas camas existentes por lá (e que curam qualquer doença). Uma dessas desesperadas é Frey (Alice Braga), cuja filha pequena sofre de leucemia: amiga de infância do operário Max (Matt Damon) - que abandonou a vida de pequenos crimes para viver em paz -, Frey acaba pedindo ajuda ao melhor amigo, que aceita o desafio quando ele mesmo é exposto à radiação em seu trabalho e se vê condenado a poucos dias de vida. Contando com o apoio logístico do rebelde Spider (Wagner Moura), Max vai fazer o possível para salvar-se e à filha de Frey - e para isso terá de bater de frente com o violento Kruger (Sharlto Copley), capaz de qualquer coisa para defender os privilégios da alta sociedade de Elysium.
Visualmente impressionante, "Elysium" é um filme de grande impacto, especialmente quando mostra os contrastes entre os moradores de uma Los Angeles completamente destruída e o luxo que envolve a estação espacial da classe privilegiada. Mesmo que o tema implore por um discurso mais incisivo em termos de crítica, porém, o roteiro prefere ater-se às regras da ficção científica, desenvolvendo mais uma história (fascinante e bem resolvida) do que uma tese de mestrado. Acerta em cheio nessa opção: sem jamais deixar de ilustrar sua simpatia pelos habitantes da Terra (sofridos, doentes, explorados, expostos a uma dura realidade de vida), Blomkamp conta sua história focando-se basicamente na trajetória de seu herói (vivido com garra por Matt Damon) e deixando a luta de classes como um tema incidental (potente, doloroso, relevante, mas incidental). Dessa forma, ele realiza um filme que é, ao mesmo tempo, um entretenimento dos mais empolgantes (em termos técnicos e emocionais) e um comentário socialmente importantíssimo - em especial em vista do que viria pela frente na política de imigração dos EUA da era Trump. Indispensável tanto pelo discurso quanto por suas qualidades artísticas, "Elysium" é um filme subestimado - mas que deve, com o passar do tempo, ter reconhecido seu devido valor.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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