sexta-feira

CARRIE, A ESTRANHA

CARRIE, A ESTRANHA (Carrie, 1976, United Artists, 98min) Direção: Brian DePalma. Roteiro: Lawrence D. Cohen, romance de Stephen King. Fotografia: Mario Tosi. Montagem: Paul Hirsch. Música: Pino Donaggio. Figurino: Rosanna Norton. Direção de arte/cenários: Jack Fisk, William Kenney/Robert Gould. Produção: Paul Monash. Elenco: Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving, Nancy Allen, John Travolta, William Katt, Betty Buckley. Estreia: 03/11/76

2 indicações ao Oscar: Atriz (Sissy Spacek), Atriz Coadjuvante (Piper Laurie)

Em 1976 ninguém conhecia Stephen King. Se hoje seu nome é amplamente reconhecido por todos os fãs de livros e filmes de terror - além de outras obras que fogem do gênero e também foram adaptadas com sucesso para o cinema, como "Conta comigo" (86) e "Um sonho de liberdade" (94) - a situação era bem diferente então. Seu primeiro romance, escrito enquanto trabalhava em uma lavanderia, chegou a ser recuperado da lata de lixo por sua esposa antes de ser publicado e chegar às telas de cinema no rastro de sucessos de bilheteria como "O bebê de Rosemary" (68) e "O exorcista" (73). Inspirado em duas colegas de escola que eram isoladas dos colegas graças ao fanatismo religioso de suas famílias e que morreram bastante jovens, ele criou Carrie White, a adolescente que tornou-se uma das personagens clássicas de sua literatura principalmente depois que conquistou os espectadores de cinema. Dirigido por Brian DePalma, "Carrie, a estranha", foi um enorme sucesso de bilheteria, cimentou o nome de King entre os apaixonados pelo gênero e, surpreendentemente para um filme de terror, indicou sua protagonista (a então estreante Sissy Spacek) ao Oscar de melhor atriz.

Spacek, que tinha 26 anos à época das filmagens, convence plenamente como a colegial Carrie, especialmente devido à sua franzina compleição física. Indicada ao cineasta por seu marido, o diretor de arte Jack Fisk, Spacek agarrou sua oportunidade com unhas e dentes, entregando uma atuação até hoje lembrada como uma das mais intensas de sua vitoriosa carreira - que inclui um Oscar por sua interpretação da cantora country Loretta Lynn em "O destino mudou sua vida" (80). Desde a primeira cena, em que a ingênua Carrie descobre (da pior maneira possível) o que acontece com as mulheres quando elas menstruam, até o apoteótico e pirotécnico final (copiado até mesmo na telenovela "Rainha da sucata", porém com menos violência), a atriz dá um show particular, transitando com firmeza entre a timidez e a insegurança de uma jovem estudante renegada pelas colegas e a fúria incontrolável que surge diante das humilhações sofridas, que despedaçam cruelmente seus momentos de maior felicidade. Seus embates com Piper Laurie, que interpreta sua mãe, uma religiosa cujo fanatismo beira a caricatura, são dignos de figurar entre os maiores momentos do cinema de terror, mesmo que o suspense esteja principalmente nas entrelinhas dos diálogos e no clima absorvente criado pela fotografia de Mario Tosi e pela trilha sonora impecável de Pino Donaggio.


Piper Laurie, aliás, que foi indicada ao Oscar de coadjuvante por seu desempenho, acreditava piamente que o filme de DePalma era um comédia de humor negro, uma sátira ao gênero, devido ao exagero das atitudes de sua personagem, capaz de trancar a filha adolescente em um armário como forma de castigá-la. Sumida das telas desde "Desafio à corrupção" (61), Laurie é um destaque absoluto do filme, com seu olhar apavorado, seus discursos louvatórios e sua figura assustadora. Nem mesmo Julianne Moore, com seu enorme talento, conseguiu resultado melhor na reinvenção do filme dirigida por Kimberly Peirce em 2013 - que, como fatalmente acontece, optou pelos efeitos visuais em detrimento do clima. O que há de mais interessante em "Carrie" são as dicotomias propostas pelo tema: bem/mal, amor/ódio, amizade/desprezo, religiosidade/paganismo. King consegue até mesmo criar uma teoria para o despertar da telecinese de sua protagonista, que tem início justamente quando ela torna-se mulher, menstruando pela primeira vez diante de um grupo de colegas maldosas e irresponsáveis: ela está pronta para o mundo, mas junto com o amor (de que ela tem apenas um vislumbre momentâneo) vem o ódio, a inveja e, consequentemente, as reações a isso.

Para quem não conhece a trama, é fácil resumir: Carrie White, uma jovem de 17 anos, filha de uma mãe fanaticamente religiosa que a mantém isolada de todos - à exceção de seus colegas de escola - descobre que tem o poder de mover objetos e até mesmo provocar incêndios apenas com a força do pensamento. Tal descoberta ocorre justamente depois que ela é humilhada no vestiário da escola, depois de desesperar-se quando menstrua pela primeira vez. A represália que suas colegas sofrem por tal "travessura" acaba por jogar Carrie em uma armadilha sádica que ocorre justamente em seu baile de formatura, quando ela é coroada a Rainha. Seus minutos de glória e felicidade são logo transformados em um pesadelo e ela acaba se vingando de todos os seus inimigos utilizando seus poderes recém-descobertos - até ser obrigada a encarar sua mãe, que não aceita o fato de sua filha estar despertando para o mundo.

Clássico absoluto, "Carrie, a estranha" consegue manter, mesmo em tempos onde a violência é moeda corrente no cinema mundial, seu status de referência do gênero. Além do mais, apresenta, em início de carreira, os jovens John Travolta e Amy Irving. Obrigatório!

Um comentário:

Anônimo disse...

Certamente um dos melhores filmes de terror que existe. As atuações de Sissy Spacek e principalmente de Piper Laurie são um show a parte.

http://filme-do-dia.blogspot.com.br/

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