KLUTE, O PASSADO CONDENA (Klute, 1971, Warner Bros, 114min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Andy Lewis, David E. Lewis. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Carl Lerner. Música: Michael Small. Figurino: Ann Roth. Direção de arte/cenários: George Jenkins/John Mortensen. Produção: Alan J. Pakula. Elenco: Jane Fonda, Donald Sutherland, Roy Scheider, Charles Cioffi, Dorothy Tristan, Rita Gam. Estreia: 23/6/71
2 indicações ao Oscar: Atriz (Jane Fonda), Roteiro Original
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Jane Fonda)
Vencedor do Golden Globe de Melhor Atriz/Drama (Jane Fonda)
No início dos anos 70, poucas atrizes eram consideradas tão "perigosas" quanto Jane Fonda. Suas ideias fortes e polêmicas a respeito de temas controversos como o movimento feminista e os protestos contra a guerra do Vietnã - que chegaram a lhe render o apelido nada elogioso de "Hanoi Jane" - não apenas deixavam sua já difícil relação com seu pai Henry, um notório conservador, ainda mais complicada, como também lhe rendiam muitas antipatias. Por esse motivo, havia uma certa aura de apreensão na noite de 10 de abril de 1972, quando foram entregues as estatuetas do Oscar aos melhores do ano de 1971. Era esperado que a então caçula do clã Fonda, uma das favoritas ao prêmio de melhor atriz por seu desempenho no policial "Klute, o passado condena", fosse fazer um discurso político se levasse o prêmio. Porém, se no filme de Alan J. Pakula ela não decepcionou ninguém - nem aos produtores, que a viram sagrar-se vencedora - seu discurso provavelmente deixou muita gente surpresa. Contrariando todas as expectativas, Jane foi concisa e elegante: "Há muita coisa a ser dita, mas eu não as direi hoje esta noite."
Por mais que em muitas de suas pautas políticas Jane estivesse coberta de razão, ela não poderia ter sido mais feliz em sua discrição na entrega do Oscar. O que estava sendo celebrado aquela noite era seu trabalho fascinante como Bree Daniel, uma garota de programa de luxo que comandava a ação do policial cerebral de Alan J. Pakula, um cineasta que como poucos de sua geração, conseguiu captar com perfeição o espírito paranoico de seu tempo - após "Klute" ele assinaria ainda os contundentes "A trama" e "Todos os homens do presidente", que deixariam claro ao público sua inclinação em desvendar o que se passa por trás das portas fechadas não só de pessoas comuns mas também daqueles que governam o país mais influente do mundo. Bree, a personagem de Fonda, é uma mulher que procura na prostituição uma forma de ganhar a vida enquanto não se acerta como atriz ou modelo e não faz disso um drama - ainda que tente equilibrar suas dúvidas existenciais com uma terapeuta. Sua vida aparentemente tranquila sofre uma reviravolta inesperada, porém, quando ela conhece John Klute (Donald Sutherland), um detetive particular que chega até ela em busca de um possível cliente seu misteriosamente desaparecido.
Klute é interpretado por Sutherland - vindo do sucesso da comédia de guerra "MASH", dirigida por Robert Altman - em notas sutis. Na pele de um detetive do interior, desacostumado a maiores violências e pouco à vontade com o ritmo acelerado de Nova York, o ator foge do exagero, preferindo seguir um minimalismo que combina à perfeição com o clima sóbrio e quase claustrofóbico imposto por Pakula. O roteiro não se prende à tentativa de criar um suspense convencional, revelando o criminoso bem antes do final, optando por contar mais a história da relação entre o sóbrio Klute e a sensual e insegura Bree - que a princípio assustada com a aproximação do investigador, que chega a grampear seus telefonemas, logo se vê atraída por suas maneiras delicadas e gentis. A diferença radical entre seus protagonistas e a forma com que eles lidam com ela é que segura "Klute, o passado condena" e o afasta do rótulo fácil de filme policial. Os elementos do gênero estão todos presentes (assassinatos misteriosos, telefonemas assustadores, suspeitos mal-intencionados), mas interessa mais ao cineasta o estudo de seus personagens do que viradas espetaculares na trama.
E, para sorte de Pakula, o que não falta em "Klute" são bons atores. Se Sutherland está discreto, pontuando com eficiência e sensibilidade um espetáculo que tem a violência como tema (mas não como chamariz) e Roy Scheider mostra porque era um dos vilões preferidos dos diretores de sua época pré-"Tubarão", Jane Fonda brilha radiante em mais uma atuação irretocável. Dona de um estilo de interpretação que valoriza mais os pequenos detalhes que criam a personagem do que gestos espalhafatosos, Fonda conquista o espectador pelo olhar, que diz coisas diferentes a cada momento: angústia em suas sessões de terapia, audácia em seus primeiros encontros com Klute e fragilidade logo adiante e principalmente uma certa desesperança em perceber como seus sonhos de estrelato fogem de suas mãos a cada audição frustrada. Seu Oscar foi mais do que merecido, embora o filme possa decepcionar a quem procura uma trama policial comum. Se não for esse o caso, é um belo drama de suspense que vale a pena conferir - nem que seja para aplaudir Jane, uma ausência cada vez mais sentida na tela grande.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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