quarta-feira

INVASÃO DE PRIVACIDADE

INVASÃO DE PRIVACIDADE (Sliver, 1993, Paramount Pictures, 103min) Direção: Phillip Noyce. Roteiro: Joe Eszterhas, romance de Ira Levin. Fotografia: Vilmos Zsigmond. Montagem: Richard Francis-Bruce, William Hoy. Música: Howard Shore. Figurino: Deborah L. Scott. Direção de arte/cenários: Paul Sylbert/Lisa Fischer. Produção executiva: Joe Ezsterhas, Howard W. Koch Jr.. Produção: Robert Evans. Elenco: Sharon Stone, Tom Berenger, William Baldwin, Polly Walker, Martin Landau, Amanda Foreman, CCH Pounder, Nina Foch. Estreia: 21/5/93

As expectativas para a reunião entre o roteirista Joe Eszterhas e a atriz Sharon Stone não poderiam ser maiores: juntos, eles foram responsáveis por "Instinto selvagem" - um dos maiores sucessos de bilheteria de 1992 e o filme que catapultou a estrela de Sharon para a estratosfera - e seu reencontro se daria graças a uma história de Ira Levin (o mesmo autor do clássico "O bebê de Rosemary" (68), de Roman Polanski) e com direção de Philip Noyce, o diretor que havia ressuscitado a carreira do agente da CIA Jack Ryan no bem-sucedido "Jogos patrióticos" (92). Além do mais, havia na receita momentos de suspense e (é claro) doses generosas de sexo, protagonizadas por uma Sharon no auge da beleza e da popularidade. Não tinha como dar errado, certo? Mas deu. "Invasão de privacidade", um dos filmes mais aguardados da temporada 1993 chegou às telas como uma das produções mais esperadas do ano e acabou se tornando uma de suas maiores decepções, não somente em termos de crítica - desagradou a gregos e troianos - mas principalmente no que diz respeito a suas ambições financeiras, já que não chegou nem mesmo a empatar seu orçamento de 40 milhões de dólares. No entanto, não é difícil perceber as razões do fracasso quando se assiste ao produto final.

Os problemas de "Invasão de privacidade" começaram, a bem da verdade, já durante a fase de pré-produção. A ideia do produtor Robert Evans era novamente contar com Roman Polanski na direção de uma obra de Ira Levin - como já havia ocorrido com "O bebê de Rosemary", em 1968 - mesmo com o cineasta proibido de por os pés nos EUA devido à sua condenação por sedução de uma menor nos anos 70. Com Polanski fora da jogada e Philip Noyce contratado - assim como a estrela maior, Sharon Stone - começou a busca pelo ator principal, que seria o responsável, junto com Sharon, de incendiar as telas em cenas pra lá de tórridas. Com a recusa de Johnny Depp, Val Kilmer e River Phoenix, o papel acabou ficando com William Baldwin, e o que deveria ser motivo de descanso para a Paramount tornou-se uma preocupação inesperada: ele e Sharon Stone simplesmente se odiaram à primeira vista e nunca fizeram questão de esconder seus sentimentos (algo como havia acontecido com Mickey Rourke e Kim Basinger durante as filmagens de "9 1/2 semanas de amor", em 1986). Não bastasse isso, Joe Eszterhas era obrigado constantemente a fazer modificações no roteiro - que já alterava significativamente o romance de Levin - e um helicóptero com uma equipe do filme, que fazia imagens de um vulcão em erupção no Havaí (para cenas importantes do primeiro roteiro) caiu com todos os passageiros, perdendo todo o material - ainda que ninguém tenha morrido no desastre.


Pra piorar a situação, terminadas as filmagens, uma sessão-teste do filme mostrou que o bicho era ainda mais feio do que parecia: boa parte da audiência respondeu pessimamente ao resultado um novo final foi criado, mudando o desfecho do livro e alterando drasticamente a história. Tal decisão não agradou a alguns atores (entre eles o veterano Tom Berenger) e obviamente aumentou o número de fofocas a respeito dos bastidores do filme, o que não ajudou em nada quando finalmente ele estreou. Ninguém deixou de notar a absoluta falta de química entre Stone e Baldwin (coisa que, digam o que disserem, havia em alto grau entre Rourke e Basinger), a fragilidade do roteiro, a apatia de Baldwin e Berenger e a total falta de suspense de uma trama que, em tese, se apoiava justamente nos elementos básicos do gênero. Ok, Philip Noyce fez o que pode com o que tinha em mãos, tentando criar um clima de tensão desde os primeiros momentos - e mais uma vez um prédio assume papel importante em uma criação de Ira Levin - mas tudo vai por água abaixo quando se percebe que tudo não passa de promessas que não são cumpridas no decorrer da projeção. Nem mesmo o erotismo tão alardeado vale a sessão: apesar de quentes, as cenas de sexo não empolgam nem excitam como as orquestradas por Paul Verhoeven em "Instinto selvagem".

Mas, afinal, de que se trata "Invasão de privacidade"? Tudo começa muito bem, quando uma jovem é misteriosamente jogada do vigésimo andar de um prédio localizado em um condomínio de luxo de Nova York. O caso é tratado como suicídio e não demora para que seu apartamento passe a ser habitado por Carly Norris (Stone, linda e boa atriz, fazendo o impossível com um papel sem graça), uma editora introvertida que acaba de sair de um relacionamento falido. Tão logo chega no prédio, ela passa a ser assediada por dois moradores, o sedutor Zeke (William Baldwin, péssimo) e o escritor de livros policiais Jack Lansford (Tom Berenger), ambos dispostos a seduzí-la. Quando misteriosos acidentes começam a acontecer nos limites do condomínio, porém, Carly passa a desconfiar de que alguém (talvez um dos dois) esteja envolvido bem mais do que o normal com eles. E, pior ainda: sem que ela saiba, alguém que também está à sua volta tem uma milionária aparelhagem de segurança, que dá acesso a todos os apartamentos do local.

E é só. A trama - fraca - não encontra respaldo na direção correta mas indiferente de Noyce e muito menos no elenco, que inclui até o futuro vencedor do Oscar Martin Landau. Stone está melhor atriz do que nunca, mas perde boa parte de seu carisma em um papel que faz dela a caça ao invés da caçadora. Sua falta de química com William Baldwin - uma escolha totalmente infeliz de elenco - tampouco a ajuda e, na falta de maiores qualidades, destaca-se a trilha sonora, que abre espaço até para uma bela versão de "I can't help falling in love", com o grupo UB 40. É muito pouco para o que prometia ser uma das maiores bilheterias de 1993.

4 comentários:

João Santos disse...

"Sliver" fracassou nas bilheterias americanas, mas lucrou muito no mercado internacional, faturando ao todo 116 milhões de dólares ao redor do planeta.
A recepção péssima da crítica chega a ser até um clichê: para os críticos, os cineastas americanos são capazes de criar bons filmes em todos os gêneros possíveis, menos no erótico: com exceção de "Basic Instinct", todos os thrilers eróticos produzidos na década de 1990 foram massacrados pela pedante crítica, a exemplo de "Body of Evidence", "Jade" e esse "Sliver". A crítica não deve jamais ser levada a sério.

Anônimo disse...

Cara vi esse filme umas 3 vezes e minhas criticas são totalmente ao contrario das suas

Clenio disse...

É ótimo que pessoas diferentes entre si possam ter opiniões também distintas, não é mesmo? Eu teria adorado gostar desse filme, porque acho Sharon Stone uma grande atriz, mas acho que os problemas de bastidores acabaram por minar sua qualidade no geral. Mas que bom que somos todos capazes de opinar, mesmo que discordando uns dos outros. Abraços a todos.

Jr disse...

faz menos de 24 horas que vi o filme e só lembro que tinha a Sharon Stone, um telescópio e sexo kkk. Muito boa a resenha do filme.
Não sabia que o River Phoenix estava cotado para o filme acho que seria interessante ver a Sharon e o River juntos.

VAMPIROS DO DESERTO

VAMPIROS DO DESERTO (The forsaken, 2001, Screen Gems/Sandstorm Films, 90min) Direção e roteiro: J. S. Cardone. Fotografia: Steven Bernstein...