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O PODER DA SEDUÇÃO

O PODER DA SEDUÇÃO (The last seduction, 1994, ITC, 110min) Direção: John Dahl. Roteiro: Steve Barancik. Fotografia: Jeffrey Jur. Montagem: Eric L. Beason. Música: Joseph Vitarelli. Figurino: Terry Dresbach. Direção de arte/cenários: Linda Pearl/Kathy Lucas. Produção executiva: W.M. Christopher Gorog. Produção: Jonathan Shestack. Elenco: Linda Fiorentino, Bill Pullman, Peter Berg, J.T. Walsh. Estreia: 26/5/94 (Austrália)

Em 1995 a atriz Linda Fiorentino passou por uma situação bastante insólita: elogiada unanimemente pela crítica por seu desempenho como a femme fatale protagonista do filme "O poder da sedução" - a ponto de ser indicada ao BAFTA, ao prêmio da Associação de Críticos de Chicago e ficar com o segundo lugar pela Sociedade de Críticos de Boston - ela se viu impedida de receber uma indicação ao Oscar que muitos consideravam justa por causa de uma regra antiga da Academia. Como a obra de John Dahl - um policial noir despudorado e bem escrito - estreou na TV antes de passar pelos cinemas, foi considerada inelegível para suas estatuetas. Azar da Academia, uma pena para Fiorentino. Mas quem assistiu ao excelente policial de Dahl sabe que a atriz, até então uma ilustre desconhecida, é seu corpo, sua alma e seus órgãos sexuais.

À época da estreia de "O poder da sedução", a imprensa não economizou elogios: para eles, Fiorentino era "a nova Sharon Stone" - uma vez que a antiga estava passando por um período de vacas magras devido ao fiasco de "Invasão de privacidade" (93) tal afirmação até soou verdadeira - e uma atriz que finalmente tinha encontrado seu lugar ao sol. Exageros e falhas de prever o futuro à parte (sua carreira não chegou exatamente a engrenar depois do filme, acumulando escolhas erradas e fracassos de bilheteria), os entusiasmados escribas até que não estavam tão longe da verdade a eleger Linda como a mulher fatal do momento. De posse apenas de seu charme, seu sorriso, sua inteligência acima da média e de uma total e absoluta falta de pudor, sua personagem no filme de John Dahl - que depois dirigiria Matt Damon e Edward Norton no igualmente bom "Cartas na mesa" (98) - usa e abusa dos homens ao seu redor, com o firme propósito de se dar bem e ficar com uma grana preta oriunda do tráfico de drogas.


O filme começa com sua personagem, Bridget Gregory, dando um golpe no próprio marido, Clay (Bill Pullman, um tanto exagerado mas não a ponto de incomodar): enquanto ele está no banho, preparando-se para comemorar o pagamento de quase um milhão de dólares que conseguiu pela cocaína medicinal que vendeu, ela foge de Nova York, deixando-o sem esposa e sem a grana necessária para pagar um agiota a quem deve dinheiro. Foragida, ela vai parar em uma cidade do interior dos EUA, muda o nome para Wendy Kroy e seduz o caipira Mike Swale (Peter Berg), cujo casamento passageiro em outra cidade acabou por motivos misteriosos. Para não ser obrigada a dar o divórcio a Clay - o que a obrigaria a dividir o dinheiro - e nem devolver o produto de seu roubo, ela passa a manipular o apaixonado Mike para fazê-lo cometer um assassinato.

O roteiro de Steve Barancik é outra estrela de "O poder da sedução": direto, inteligente e com o equilíbrio certo entre sensualidade, violência e reviravoltas, a trama prende o espectador do início ao fim, conduzindo-o por uma teia de amoralidade guiada por uma personagem poucas vezes nas telas americanas: por mais que as femmes fatales tenham sido figuras frequentes no cinema hollywoodiano desde os anos 40, nenhuma delas era tão abertamente sexualizada quanto Bridget. Sem nenhum tipo de vergonha, ela se apresenta a Mike enfiando a mão em sua calça - para "saber se vale a pena" - e se entrega a cenas de sexo encostada em uma grade do lado de fora de um bar, dentro de um carro e, logicamente, na cama, sem a culpa que cerca a hipócrita moral ianque. Não é à toa que o público fica tão encantado por ela quanto Mike: sua atitude em relação ao corpo é, sem dúvida, sua maior arma e Linda Fiorentino a usa como ninguém até o final feliz. Um pequeno grande filme!

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