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O PROFISSIONAL

O PROFISSIONAL (The professional/Leon, 1994, Gaumont Pictures, 110min) Direção e roteiro: Luc Besson. Fotografia: Thierry Arbogast. Montagem: Sylvie Landra. Música: Eric Serra. Figurino: Magali Guidasci. Direção de arte/cenários: Dan Weill/Françoise Benoit Fresco. Produção executiva: Claude Besson. Elenco: Jean Reno, Gary Oldman, Natalie Portman, Danny Aiello. Estreia: 14/9/94

Alguns filmes marcam a vida do espectador por sua mensagem, outros por sua história e ainda outros pela forma narrativa que adotam. Em alguns casos, porém, o que fica na memória da plateia e faz uma produção tornar-se especial é uma característica única. É o caso de "O profissional", lançado em 1994 e que hoje é menos lembrado por sua história ou por outros detalhes narrativos e mais por ter sido o filme que lançou a carreira de uma das atrizes mais importantes de sua geração, Natalie Portman. O alvoroço em torno da estreia de Portman foi tanto e tão merecido que o principal ponto de venda da obra na época - era o primeiro trabalho do cineasta francês Luc Besson em Hollywood - ficou quase totalmente eclipsado. Não é pra menos: como uma lolita pós-moderna, decidida e vingativa (ainda que sensível nos momentos certos), a jovem que tinha apenas 11 anos quando foi escolhida pelo diretor, roubou a cena de ninguém menos que Jean Reno (astro na França e começando uma popular carreira nos EUA) e o mestre Gary Oldman.

Um dos diretores franceses mais respeitados na indústria americana - a ponto de ter recebido a discutível homenagem de ver seu sucesso de bilheteria "Nikita, criada para matar" (90) ser refilmado sob o título de "A assassina" (92), com Bridget Fonda - Besson estava com tudo pronto para fazer sua estreia em Hollywood com a superprodução "O quinto elemento", uma ficção científica cara e ambiciosa que seria estrelada por Bruce Willis e Gary Oldman para a Columbia Pictures. A agenda de Willis, sempre apertada, acabou adiando as filmagens, mas o cineasta, para não perder o ritmo criativo, escreveu, em cerca de 30 dias, o roteiro de um filme policial inspirado em um dos coadjuvantes de "Nikita". Ainda com Oldman no elenco, ele chamou seu amigo Jean Reno - que fazia o tal personagem inspirador do protagonista no filme anterior - e escolheu a jovem Portman para viver a protagonista feminina. Com um custo consideravelmente mais baixo, sem o apoio da Columbia e com um prazo de filmagens de 90 dias, ele realizou então um dos pontos mais altos de sua filmografia - enquanto "O quinto elemento", lançado apenas quatro anos mais tarde, decepcionou a gregos e troianos.


O profissional do titulo internacional - na frança ele chamou-se apenas "Léon" - é Leone Montana, um matador de aluguel que é, segundo seu intermediário Tony (Danny Aiello), o melhor dentre todos. Vivendo sozinho em um pequeno apartamento de Nova York, ele leva uma vida simples e discreta, sem amigos, sem relacionamentos e sem vida social. Sua bolha de isolamento é rompida quando ele conhece Mathilda (Natalie Portman, esbanjando talento), uma menina de 12 anos que testemunha toda a sua família ser chacinada violentamente por Stansfield (Gary Oldman) - um policial corrupto - e seus capangas. Desesperada e sedenta de vingança, a garota se aproxima de Léon, vai morar com ele e resolve aprender a se tornar ela mesma uma assassina, para acabar com o assassino - não tanto de seu pai, com quem não mantinha a mais saudável das relações, mas principalmente de seu irmão de 4 anos.

A relação entre Léon e Mathilda é a mais interessante das camadas de "O profissional". Mesmo que o filme funcione muito bem como policial e suspense, com cenas bem construídas e uma edição impactante que remete aos melhores momentos de "Nikita", é a história de amor e amizade surgida entre duas pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes que empurra o filme pra frente. Léon, um homem sozinho e até então desprovido de maiores emoções, se vê profundamente tocado com o sofrimento e a angústia de Mathilda, a quem adota como filha. A menina, por sua vez, é uma explosão de sentimentos, chegando a confundir a gratidão e o carinho imensos que sente por seu mentor com amor e desejo. A cena em que ela se declara apaixonada é uma prova inconteste do talento já enorme de Portman em seu primeiro filme: apenas com o olhar e a voz, ela se transforma de vingadora obsessiva em uma jovem mulher, ainda que confusa em suas sensações, experimentadas pela primeira vez.

"O profissional" é um belo filme, ainda que tenha sido recebido com certa frieza da crítica quando foi lançado - em especial a imprensa se concentrava em seus diálogos, que considerou fracos. Hoje, a obra alcançou status de cult e é considerado por vários especialistas um dos filmes indispensáveis dos anos 90. Nem que seja para testemunhar o nascimento de uma estrela chamada Natalie Portman.

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