MISTERIOSO
ASSASSINATO EM MANHATTAN (Manhattan murder mystery, 1993, TriStar
Pictures, 104min) Direção e roteiro: Woody Allen. Fotografia: Carlo Di
Palma. Montagem: Susan E. Morse. Figurino: Jeffrey Kurland. Direção de
arte/cenários: Santo Loquasto/Susan Bode. Produção executiva: Jack
Rollins. Produção: Robert Greenhut. Elenco: Woody Allen, Diane Keaton,
Anjelica Huston, Alan Alda, Jerry Adler, Lynn Cohen, Ron Rifkin.
Estreia: 18/8/93
Com o final de sua bem-sucedida
parceria profissional de 12 anos com Mia Farrow - com quem também era
casado até o escândalo que surgiu em 1992, quando ele assumiu seu
romance com a filha adotiva da atriz - a carreira de Woody Allen poderia
entrar em um período de recesso. Para sorte de seus (inúmeros) fãs,
porém, o cineasta nova-iorquino não deixou que problemas pessoais
interferissem em sua tradição informal de lançar um filme por ano.
Chamando de volta Diane Keaton, sua antiga colaboradora e com quem
realizou algumas de suas maiores obras-primas dos anos 70, como "Noivo
neurótico, noiva nervosa" (77) - que lhes rendeu Oscar de direção e
atriz, respectivamente - e "Manhattan" (79), Allen não só deixou em
segundo plano as polêmicas de seu novo relacionamento como entregou ao
público uma comédia como há muito não realizava. "Misterioso assassinato
em Manhattan" é sofisticado, engraçado e dotado de uma ironia de que só
o cineasta nova-iorquino é capaz, além de brindar o espectador com seu
reencontro com Keaton, uma atriz que ilumina a tela com seu carisma e
talento.
Como bons amigos que voltam a se encontrar
depois de anos, Keaton e Allen estão em sua melhor forma em "Misterioso
assassinato em Manhattan", que marca também o reencontro do diretor com
outro velho conhecido, o corroteirista Marshall Brickman, com quem ele
dividiu o Oscar de "Noivo neurótico" - filme do qual, aliás, deriva a
ideia central de um casal investigando um pretenso homicídio. Ao lado de
Brickman, Allen volta a equilibrar com maestria diálogos sensacionais,
uma trama consistente e personagens carismáticos, interpretados por um
elenco coadjuvante que tem o luxo de poder contar com Alan Alda e
Anjelica Huston (que também colaboraram com o diretor em seu "Crimes e
pecados", de 1989). Lançado ainda no rastro da polêmica do fim do
romance entre Allen e Mia Farrow, a comédia acabou recebendo generosos
elogios da crítica e agradou em cheio o espectador que vinha de outro
grande trabalho seu, o dramático e catártico "Maridos e esposas" (92).
Os
protagonistas de "Misterioso assassinato em Manhattan" são Larry e
Carol Lipton (Allen e Keaton), um casal sofisticado, culto e
bem-sucedido que passa por um período de vazio em suas vidas com a ida
do filho para a faculdade. Larry trabalha no mercado editorial e Carol
pretende abrir um restaurante como forma de preencher seu tempo ocioso.
Uma noite, quando estão chegando em casa, eles descobrem que uma de suas
vizinhas, uma senhora de idade com quem travaram conhecimento há poucos
dias, morreu repentinamente, vítima de um ataque do coração. Percebendo
que as atitudes do viúvo não condizem com o fato - ele não parece estar
nem um pouco abatido com a situação - Carol passa a desconfiar que ele
na verdade matou a esposa e passa a investigar o caso. A princípio
fazendo pouco das ideias absurdas da esposa, Larry acaba entrando no
jogo por ciúmes, quando nota que um amigo antigo e agora divorciado, Ted
(Alan Alda), está constantemente a seu lado. Junta-se ao grupo também a
escritora Marcia Fox (Anjelica Huston), que acredita que sua
experiência como autora de livros policiais pode ajudá-los a desvendar o
crime.
Repleto de citações deliciosas a Hitchock
("Janela indiscreta" e "Um corpo que cai" são as mais diretas), Billy
Wilder ("Pacto de sangue" é duplamente lembrado) e Orson Welles (o
clímax homenageia "A dama de Shangai"), "Misterioso assassinato em
Manhattan" mostra um Woody Allen de bem com a vida, distante dos temas
densos que estiveram em evidência durante uma fase de sua carreira. Sua
química com Diane Keaton é esplêndida e a trama, por incrível que
pareça, não serve apenas como pretexto para piadas e sequências cômicas
(ainda que elas existam e sejam ótimas): a tramoia que envolve a morte
da vizinha dos Lipton tem mais camadas do que aparenta em uma primeira
visão, o que dá ao filme um molho extra que certamente agradará também
aos fãs do gênero policial. Em suma, um Woody Allen de boa safra, com
uma Diane Keaton, como sempre, brilhante.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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