BEM-AMADA (Beloved, 1998, Harpo Films/Touchstone Pictures, 172min)
Direção: Jonathan Demme. Roteiro: Akosua Busia, Richard LaGravenese,
Adam Brooks, romance de Toni Morrison. Fotografia: Tak Fujimoto.
Montagem: Andy Keir, Carol Littleton. Música: Rachel Portman. Figurino:
Colleen Atwood. Direção de arte/cenários: Kristi Zea/Karen O'Hara.
Produção executiva: Ron Bozman. Produção: Jonathan Demme, Kate Forte,
Gary Goetzman, Edward Saxon, Oprah Winfrey. Elenco: Oprah Winfrey, Danny
Glover, Thandie Newton, Kimberly Elise, Jason Robards, Wes Bentley.
Estreia: 08/10/98
Indicado ao Oscar de Figurino
Não é de admirar-se que "Bem-amada", a despeito de ser a adaptação de um bem-sucedido livro da autora Toni Morrison e ser estrelado por Oprah Winfrey - uma das mais populares celebridades dos EUA - tenha fracassado monumentalmente nas bilheterias americanas. Longo em excesso, confuso e por vezes simplesmente chato, o filme dirigido por Jonathan Demme - até então um cineasta em alta devido a sucessos como "O silêncio dos inocentes" e "Filadélfia" - leva quase três horas para contar uma história desfocada sobre escravidão, almas de outro mundo e força destruidora da culpa sem em nenhum momento conquistar a empatia ou a atenção do espectador. Tudo isso não deixa de ser surpreendente, no entanto, uma vez que o conjunto de talentos envolvido jamais poderia pressupor tamanho desastre.
As primeiras cenas até que são envolventes e fisgam a plateia, mesmo que não expliquem direito o que está acontecendo - uma sensação, aliás, que perpassa todo o filme e que, apesar de ser proposital, deixa um gosto amargo na boca. Em 1865, ainda durante a escravidão, algo inexplicável apavora uma família de negros no interior do estado de Ohio, jogando seu cão de uma parede a outra, derrubando móveis e batendo portas. Apavorados com a situação, os dois filhos da dona da casa, a ex-cativa Sethe (Oprah Winfrey), abandonam o lar, deixando sua mãe acompanhada apenas da avó e da irmã pequena, Denver. Oito anos mais tarde, sozinha com a filha já adolescente (Kimberly Elise) que sente-se isolada de todo mundo por viver em uma casa assombrada por demônios, Sethe reencontra Paul D (Danny Glover), também um escravo liberto que tem ligações com seu passado e com seus dias de cativeiro. O encontro dos dois - e sua consequente relação - traz de volta os acontecimentos misteriosos que assombravam a família, mas, depois de um confronto com o novo morador, as coisas parecem voltar aos eixos. É quando surge em cena, então, Bem-amada (Thandie Newton), uma jovem bem-vestida e aparentemente saudável que encanta tanto Sethe quanto Denver com sua fragilidade, mas que deixa o veterano escravo com uma pulga atrás da orelha.
É a partir desse ponto, com a chegada misteriosa da personagem-título, que "Bem-amada" entra no caminho sem volta da falta de foco. A trama passa, então, a dividir-se entre um filme de mistério - quem é essa mulher? de onde ela veio? qual seu segredo? - e um drama psicológico - o que Sethe esconde? quais as consequências de seu passado como escrava? por que ela tornou-se tão apegada à nova hóspede a ponto de ameaçar seu relacionamento com Paul D? - sem que o diálogo entre essas duas linhas narrativas seja satisfatoriamente amarrado. É surpreendente que um dos roteiristas seja Richard LaGravenese - conhecido por obras bem escritas, como "As pontes de Madison" e "O pescador de ilusões", que chegou a lhe render uma indicação ao Oscar: o roteiro de "Bem-amada" é descosturado e frágil, o que é enfatizado ainda mais pela edição, que tenta imprimir um tom misterioso à uma história já confusa o bastante sem tal artifício. Resta apenas a atuação correta de Winfrey - produtora do filme - e os valores de produção, que sustentam o interesse até o final que tenta ser poético mas apenas reitera a falta de identidade da obra.
Atriz bissexta - seu trabalho mais conhecido foi em "A cor púrpura", de Steven Spielber, pelo qual concorreu ao Oscar de coadjuvante - Winfrey é uma das mais adoradas comunicadoras dos EUA, e uma das maiores fortunas do showbizz. Talentosa, ela segura o filme de Jonathan Demme com segurança de veterana, mas não consegue, por mais que tente, encobrir suas enormes falhas de roteiro e ritmo. Sua química com Danny Glover - que também participou do filme de Spielberg - mas nem mesmo eles são capazes de esconder o maior de todos os erros do filme: a escalação de Thandie Newton no crucial papel da misteriosa Bem-amada. Com uma atuação frequentemente exagerada - para não dizer caricata e ridícula - a jovem atriz põe a perder todo o clima de tensão proposto pela direção de Demme, transformando o que poderia ser um drama forte sobre os danos psicológicos da escravidão e do remorso em um pastiche sem graça do tema. Chega a ser quase insuportável assistir às cenas em que Newton tenta forjar uma interpretação dramática, tamanho o constrangimento. Somado aos problemas de roteiro e foco, tal equívoco leva "Bem-amada" ao limbo dos filmes que poderiam ter sido grandes, mas que tropeçaram feio nas próprias intenções. Um erro na carreira de Demme e Oprah, merecidamente ignorado pelo público e desprezado pela crítica.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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3 comentários:
Tive a oportunidade de rever ao filme Bem Amada hoje,18 anos após o seu lançamento e confesso que fiquei perturbado e confuso, mutuamente, tal como da primeira vez,pois o filme não consegue esclarecer alguns questionamentos! No entanto, é um filme que por tratar dum assunto tão cruel e que até hoje reflete em nossa história, o qual pouquíssimos diretores Hollywoodiano se dispuseram a abordá-lo,o regime escravocrata à libertação dos negros nos Estados Unidos, merece sim ser visto, seja pelas atuações, em especial da inglesa Thandie Newton, numa exposição que exigio dela muita coragem, pois não ha quaisquer beleza em seu personagem, mais muito talento; seja pela cena de maior impacto do filme, que nos esclarece a razão de forças sobrenaturais atuarem na pequena casa do personagem de Oprah, ou simplesmente a deliciosa semelhança, em alguns aspectos, dum ilustre longa de 1985, A Cor Púrpura. Pra quem deseja além duma seção pipoca, mais enveredar num assunto pouco explorado pelo cinema, cujo poder de nós remeter ao tempo é inconteste,o filme Bem Amada pode ser uma boa experiência! Quanto a sua imperfeições, está aí uma luxo permitido a quem dirigio Filadélfia tal como O Silêncio dos Inocentes (o terceiro filme a conquistar os 5 principais prêmio Oscar) não dá pra ser gênio sempre!
A interpretação da atriz que fez personagem Bem Amada é primorosa! De uma realidade desconsertante!Ela arrasou interpretando alguém com anóxia!Foi além...Um desempenho que não foi valorizado!
Não entendi muito esse filme já assisti 4 Vezes até que gostei, só não conseguiu
Entender mas estou gostando e continuo assistindo para ver se chego lá
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